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Primeira Edição: no número 6 da Revista Mujeres Libres, na 21ª semana da Revolução.
Fonte: Roxo e Negro - https://medium.com/@roxoenegro/situa%C3%A7%C3%A3o-social-da-mulher-718a889c94f1
Tradução: Roxo e Negro Publicações
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
O progresso humano é muito lento. Se diz que para cada passo dado em frente, a Humanidade deu dois em direção à escravidão. Só com o decorrer dos séculos foi se liberando de sua atitude de adoração submissa frente à Igreja, ao direito divino dos reis e ao poder da classe dominante. Na verdade esta calamitosa trindade ainda impera sobre muitíssimos milhões de seres em todos os países do mundo; mas hoje só pode governar com mão de ferro e exigir obediência cega nos países fascistas. Mesmo que o fascismo não tenha existência histórica, exceto como uma manifestação fugaz, sob sua peste negra se pressente como se aproxima a tormenta e como cresce sua fúria. É na Espanha que encontrará sua Waterloo,(1) enquanto em todo o mundo aumenta o protesto contra as instituições capitalistas.
Mas em geral, o homem, sempre disposto a lutar heroicamente pela sua emancipação, está muito distante de pensar o mesmo a respeito da emancipação do sexo oposto.
Sem dúvida alguma, as mulheres de muitos países fizeram a verdadeira revolução para conseguir seus direitos sociais, políticos e éticos. Os conseguiram à custa de muitos anos de luta e de ser derrotadas uma infinidade de vezes, mas conseguiram a vitória.
Lamentavelmente, não se pode afirmar o mesmo das mulheres de todos os países. Na Espanha, por exemplo, se considera a mulher muito inferior ao homem, como mero objeto de prazer e produtora de crianças. Não me surpreenderia se apenas os burgueses pensassem assim, mas é inacreditável comprovar o mesmo conceito antediluviano entre os trabalhadores, até entre nossos próprios camaradas.
Em nenhum país do mundo a classe trabalhadora tem apreço pelo Comunismo libertário como o tem a classe trabalhadora espanhola. O grande triunfo da Revolução que se iniciou em julho demonstra o alto valor revolucionário do trabalhador espanhol. Deveria-se supor que em seu apaixonado amor pela Liberdade se inclui a liberdade da mulher. Mas, muito longe disso, a maioria dos homens espanhóis parece não compreender o sentido da verdadeira emancipação, ou, em outro caso, preferem que suas mulheres continuem ignorando-o. O fato é que muitos homens parecem convencidos de que a mulher prefere seguir vivendo em sua posição de inferioridade. Também se dizia que o negro estava encantado de ser propriedade do dono da plantação. Mas o certo é que não pode existir uma verdadeira emancipação enquanto subsistir o predomínio de um indivíduo sobre o outro ou de uma classe sobre a outra. E muito menos será real a emancipação da raça humana enquanto um sexo dominar o outro.
Além disso, ambos os sexos integram a família humana e a mulher é o mais importante dos dois, já que ela perpetua a espécie e quanto mais perfeito for seu desenvolvimento moral e físico, mais perfeita será a raça humana. Isso já seria o bastante para provar a importância da mulher na sociedade e na luta social; mas há outras razões. A mais importante de todas é essa: que a mulher se deu conta de que tem perfeito direito à personalidade e de que suas necessidades e aspirações são de importância tão vital quanto as dos homens.
Os que ainda pretendem manter a mulher sob controle seguramente dirão que sim, que tudo isso é ótimo, mas que as necessidades e aspirações da mulher são diferentes, porque ela é inferior. Isso só prova a limitação do homem, seu orgulho e sua arrogância. Devia saber que o que diferencia ambos o sexos tende a enriquecer a vida, tanto social como individualmente.
Por outro lado, as extraordinárias realizações da mulher através da História anulam a lenda sobre sua inferioridade. Os que insistem nela o fazem porque não podem tolerar que sua autoridade seja discutida. Isso é característico de toda visão autoritária, seja do amo sobre seus escravos, seja do homem sobre a mulher. Não obstante, a mulher procura em todas as partes liberar-se; caminha em frente, livremente; ocupa seu posto na luta por transformação econômica, social e ética. E a mulher espanhola não tardará muito em empreender o rumo de sua emancipação. O problema da emancipação feminina é análogo ao da emanciapação proletária: os que quiserem ser livres devem dar o primeiro passo.
Os trabalhadores da Catalunha e de toda a Espanha já deram o primeiro passo, liberaram a si mesmos e estão derramando seu sangue para garantir esta liberdade. Agora é a vez de vocês, mulheres espanholas. Quebrem suas correntes. Chegou a vez de elevar sua dignidade e sua personalidade, de exigir com firmeza seus direitos de mulher como individualidades livres, como membros da sociedade, como camaradas na luta contra o fascismo e pela Revolução social.
Apenas quando tiverem se libertado da superstição religiosa, dos preconceitos da moral vigente e da escravizante obediência a um passado morto vocês chegarão a ser uma força invencível na luta antifascista e uma garantia da Revolução social. Apenas então serão dignas de colaborar na criação de uma nova sociedade na qual todos os seres serão verdadeiramente livres.
Notas de rodapé:
(1) N. da T.: Referência à Batalha de Waterloo, ocorrida em 18/06/1815, na qual o exército liderado por Napoleão Bonaparte sofreu uma derrota decisiva. Essa derrota marcou o início da derrocada do império Napoleônico. (retornar ao texto)