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Primeira Edição: ....
Tradução e notas: Daniel Menezes Delfino, a partir do original em inglês e cotejada com a versão em castelhano, ambas disponíveis no Marxists Internet Archive . Os destaques em negrito, em itálico e MAIÚSCULA são do autor. As interposições entre colchetes [ ] e parêntesis ( ) ao longo do texto foram também na maioria feitas pelo próprio autor. As exceções são principalmente algumas explicações dos nomes em inglês, feitas obviamente pelo tradutor e devidamente identificadas como Nota do Tradutor - N. do T.
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Este é um artigo de debate sobre o pano de fundo histórico do problema da forma sectária de organização e suas alternativas, e eu espero que ele seja útil ao orientar a reflexão sobre o assunto. Ele não está sendo apresentado para adoção por ninguém ou para ser votado de nenhuma forma (o fato de que isso tenha que ser dito é o reflexo de alguns hábitos sectários de funcionamento). Por outro lado, ele certamente aponta para o curso organizacional que nosso comitê pretende perseguir; mas esse curso (para dizer o mínimo) também surge de outras fontes que considerações puramente históricas. Este artigo pode ser proveitoso ao dar uma ideia das possibilidades flexíveis de um curso não sectário; mas ele não fornece nenhum modelo para ser copiado cegamente. Seria o suficiente se ele fizesse valer a seguinte conclusão: existe um outro caminho rumo a um partido revolucionário que não o caminho da seita.
Essa linha de pensamento não é um produto do momento para mim. Do ponto de vista histórico, ele se desenvolveu particularmente de duas experiências dos últimos dois anos aproximadamente: (1) no processo de preparar uma apresentação do pensamento político de Marx, como eu estive fazendo, tive que pensar uma interpretação sobre o que Marx e Engels estavam fazendo neste campo. (2) Ao mesmo tempo, eu passei pela interessante experiência de ler as Obras Escolhidas de Lênin do volume 1 ao 20 (que vai até aproximadamente a I Guerra Mundial), principlmente de modo a ter certeza se há alguma base factual para a fábula "padrão" do "conceito de partido" de Lênin (não há). Naturalmente essa leitura não teve lugar num vácuo, porque o problema persistente de como construir esteve sempre presente. Ficará óbvio que o que está incluído abaixo é apenas a apresentação de uma linha de pensamento, e não uma tentativa de prová-la.
O problema permanece: como construir um partido socialista revolucionário. Nos Estados Unidos, nenhum progresso apreciável rumo a esse objetivo é visível no último terço de século (desde o fim da 2 Guerra Mundial). A meta permanece, mas o caminho para essa meta dificilmente pode ser considerado imune a um reexame.
O caminho que estivemos seguindo leva a um precipício. Nós temos que voltar e tomar um outro caminho, um que se bifurcou há uma certa distância. O caminho em que viemos penando tem um nome: é o caminho da seita. Nós definiremos isso(1). Nós veremos como e quando isso começou. E explicaremos porque isso nos leva a estar perdidos, isto é, onde estamos agora.
Argumentaremos que a história mostra que deve haver outro caminho, um caminho diferente. De fato, sem ter refletido até o fim sobre o problema, nós realmente começamos um caminho diferente no início de 1964, quando o Comitê Socialista Independente foi formado para reviver Socialismo Independente como uma tendência política, encorajando a formação de círculos locais (o primeiro Círculo Socialista Independente, no campus de Berkeley, foi formado no outono de 1964) [mais detalhes serão dados pelo autor sobre as organizações de que participou, especialmente na parte 7 do texto, e acrescentamos algumas observações sobre elas nas notas do tradutor ao final - N. do T.]. Mas na época nós não o pensamos como uma alternativa à organização do tipo seita. Como resultado, o recém nascido movimento Socialista Independente escorregou de volta para a raiz "sectária" como resultado de pressões facilmente identificáveis. Nos propomos a refletir até o fim sobre isso agora.
Não há dúvida sobre quais eram as visões e práticas de Marx sobre este ponto. De fato, ele provavelmente exagerou, tão intensa foi a sua determinação em não ter nada a ver com nenhuma seita, incluindo uma seita dele mesmo.
Para Marx, qualquer organização seria uma seita se estabelecesse algum conjunto especial de opiniões (incluindo as opiniões de Marx) como sua fronteira organizativa; se fizesse desse conjunto especial de opiniões o determinante da sua forma de organização.
Nem Marx nem Engels nunca formaram ou quiseram formar um grupo "marxista" de qualquer tipo, ou seja, um grupo afiliativo baseado num programa exclusivamente marxista. Toda a sua atividade organizativa esteve apontada para um outro caminho.
De acordo com o pensamento deles: o que você deveria fazer se você concordasse com as posições deles - como você deveria tentar implementar essas posições? Sua tarefa seria conduzir esses pontos de vista para o interior dos movimentos e organizações que emergem naturalmente da luta social existente. Sua tarefa não seria inventar uma forma "superior" de organização da sua cabeca. Sua tarefa seria permear os movimentos e organizações da classe com as suas posições; no processo de fazê-lo, desenvolver quadros revolucionários nestes movimentos e organizações; e assim fazendo finalmente elevar o movimento como um todo a um nível mais alto.
O movimento como um todo: Marx e Engels sabiam e diziam que esse processo poderia, e de fato provavelmente iria, envolver rupturas; eles não faziam fetiche da unidade inquebrável como condição para o processo. Mas as rupturas que eles consideravam naturais não eram as divisões artificiais de uma ala ideológica que sai para desfraldar uma bandeira programática abstrata. Os rachas que eles esperavam eram aqueles que surgiriam organicamente conforme o nível de massa se elevasse. Eles esperavam essas divisões de duas direções: de elementos aburguesados que se opusessem a uma linha de classe e a um curso de enfrentamento de classe para o movimento; e de ideólogos sectários que viam o movimento da classe se afastando das suas próprias preferências e prescrições para ele. Marx e Engels esperavam que ambos esses elementos iriam se afastar, ou que os elementos classistas saudáveis iriam romper com eles; mas seja como isso viesse a se dar formalmente, a linha de demarcação organizacional não seria feita das posições programáticas especiais de uma vanguarda ideológica em seu próprio interesse (isto é, o programa em abstrato) mas ao invés o significado político, em termos da luta política em andamento, do nível de desenvolvimento político alcançado pelo movimento da classe (isto é, o programa concreto, o programa tal como concretizado na luta de classes real em andamento).
Assim, durante o ano de 1847 Marx e Engels, que tinham se unido à Liga Comunista, trabalharam para livrá-la de seus remanescentes sectários e conspirativos, e foram bem sucedidos; mas ao mesmo tempo, em Bruxelas onde vivia, Marx devotou seus esforços organizativos a construir a Associação Democrática, que não era nem mesmo programaticamente socialista. E quando a revolução irrompeu no continente, seu primeiro movimento foi abandonar a Liga Comunista (dissolvê-la) como veículo de vanguarda de sua operação organizativa.
Em Colônia durante a revolução, eles atuaram (organizativamente falando) em três níveis, nenhum dos quais se assemelhando a uma seita marxista: (1) no movimento de esquerda democrática (União Democrática). [esta parte do retrato não tem nada a ver com nosso problema presente, estando relacionado ao problema da política em uma revolução democrático-burguesa]. (2) Na Associação dos Trabalhadores da cidade, uma organização de classe ampla; e (3) em seu próprio centro político. E o que eles criaram como o "seu" centro político? Não uma organização de forma alguma, mas ao invés um jornal e seu corpo editorial, ou seja, uma voz. E era esse corpo editorial que funcionava como a "tendência Marx" - que reconhecia a si mesma como tal e era assim publicamente reconhecido.
Com o refluxo da revolução e após retornar a Londres, Marx concordou com a reconstituição da Liga Comunista temporariamente; mas rapidamente, pelo outono de 1850, Marx reconheceu que a crise revolucionária tinha terminado, enquanto a maioria dos membros reagiu à frustração com um caso grave de infantilismo sectário. A Liga então se dividiu e desmoronou. Marx jamais repetiu essa experiência.
Durante os anos 1850, Marx e Engels não fizeram esforço para construir coisa alguma, mas se concentraram exclusivamente em produzir e publicar a literatura com que seria possível a educação de quadros. Esse período terminou somente quando o próprio movimento da classe trabalhadora lancou a organização ad-hoc que nós conhecemos como a Primeira Internacional.
A I Internacional era tão diametralmente oposta do conceito sectário de organização que nunca se apresentou publicamente como comunista, e mal endossou uma versão matizada de coletivismo econômico em um congresso posterior. E era tão amplamente inclusiva, dentro de uma moldura de um nítido corte de classe, que ninguém sonharia em duplicar hoje. Em qualquer caso, a abordagem que ela evidenciou era o oposto em 180° graus de uma seita: ao invés de começar com o Programa Completo e então reunir um grupo de escolhidos ao seu redor, de qualquer fração de classe (especialmente intelectuais), Marx quis começar com frações da classe trabalhadora que estavam em movimento - movendo-se em enfrentamentos de classe, mesmo que em um nível de "baixa intensidade" - e adaptar o programa ao que esses segmentos estavam prontos. Esse era o caminho para começar.
No interior deste amplo movimento de classe da I Internacional, Marx e Engels não estabeleceram nenhum tipo de centro político deles próprios; e isso levanta a questão da reação exagerada, e não da relutância em criar uma seita marxista.
De fato Marx usou o Conselho Geral, e sua influência no Conselho Geral, como seu "centro político"; seria fácil explicar porque isso não foi suficiente. Provavelmente Marx sentiu que qualquer outro curso iria bloquear sua influência pessoal no Conselho Geral; mas o preço foi que a formação de quadros definidamente marxistas estava em um estágio menos que elementar quando a Internacional desapareceu.
Este fato negativo - não a falha em criar uma seita marxista, mas a falha em construir qualquer tipo de quadros marxistas - é uma das razões de fundo para o modo como os vários partidos socialistas emergiram em diferentes países - mesmo os assim chamados partidos "marxistas".
Tome a Inglaterra, bem debaixo do nariz de Marx: o primeiro centro "marxista" de qualquer tipo foi estabelecido por um homem (Hyndman)(2), em hostilidade a Marx e ao pequeno círculo de socialistas ingleses diretamente influenciados por ele; um homem que criou seu centro "marxista" como uma típica seita do pior tipo, e cuja desastrosa influência no caráter do marxismo inglês não foi superada até o dia de hoje. Nenhum tipo alternativo de centro político marxista foi jamais oferecido por Marx ou Engels ou por alguém do seu círculo. O resultado foi que a corporificação de Marx para o público britânico foi um homem que era o mais tosco "fundador do marxismo" de qualquer país do mundo.
A alternativa óbvia à seita teria sido o que Marx fez em Colônia: o estabelecimento de um órgão pelos amigos britânicos de Marx, uma publicação agindo como a voz das ideias marxistas, o modelo de como alguém poderia se dirigir ao movimento da classe, e organizador de quadros. Nada semelhante a isso foi feito, houve um vácuo. A operação sectária de Hyndman preencheu esse vácuo.
Apesar de Eleanor Marx(3) ter feito um excelente trabalho como organizadora do Novo Sindicalismo (sindicalismo militante de massa)(4), agrupando os ramos menos organizados e menos sofisticados de trabalhadores, ela o fez como indivíduo, sem nenhum outro ponto de referência visível. Embora ela e Aveling(5) tenham feito um bom trabalho espalhando a defesa da ação política independente da classe trabalhadora nos guetos proletários de Londres, com um impacto que eventualmente ajudou a produzir o Partido Trabalhista, ainda assim o seu trabalho não conseguiu ter o efeito concomitante de ajudar a selecionar e treinar quadros marxistas - que fariam mais daquilo que eles estavam fazendo.
(Essa falha - o fracasso em estabelecer qualquer tipo de centro político visível mesmo que não na forma de seita - foi posteriormente repetido, com menos desculpas, por Rosa Luxemburgo na Alemanha, enquanto na Polônia seus compatriotas estabeleceram uma seita, não um partido de classe.)
A extrema repulsa de Marx pela organização do tipo seita não significa que ele fosse incapaz de reconhecer as contribuições positivas feitas por algumas seitas. Ele não tinha que cair nessa avaliação unilateral do papel histórico desempenhado por algumas seitas, tanto quanto o seu ódio do capitalismo deixou de dar crédito para as grandes contribuições positivas do capitalismo para o desenvolvimento da sociedade. Assim como o Manifesto Comunista oferece o que já foi chamado um hino de louvor às façanhas históricas da burguesia, da mesma forma Marx e Engels estiveram frequentemente enaltecendo as contribuições feitas pelas seitas utópicas.
Eles não perderam tempo algum deplorando o fato de que essas contribuições foram feitas originalmente por seitas (algumas vezes bem grotescas como a "religião" Saint-Simoniana)(6); porque eles entendiam as pressões que empurraram os ideólogos socialistas para a forma seita. Muito mais importante, eles pensaram, seria empurrar em uma direção diferente, orientar os socialistas rumo a um caminho organizacional diferente.
Marx resumiu isso em uma carta bem conhecida (1871):
"A Internacional foi fundada para substituir as seitas socialistas e semi-socialistas por organizações reais da classe trabalhadora para a luta... De outro lado, a Internacional não poderia ter se mantido se o curso da história não já tivesse esmagado o sectarismo. O desenvolvimento de seitas socialistas e o do movimento real dos trabalhadores sempre se colocam em razão inversa um do outro. Enquanto as seitas estiverem justificadas (historicamente) a classe trabalhadora ainda não está madura para um movimento histórico independente. Assim que ela alcança a sua maturidade todas as seitas são essencialmente reacionárias. Por tudo isso, o que a história exibe por toda parte foi repetido na história da Internacional. O que está antiquado tenta reproduzir a si mesmo e se afirmar no interior da forma recentemente adquirida.
E a história da Internacional foi uma luta contínua do Conselho Geral contra as seitas e contra experimentos amadores, que buscavam afirmar a si mesmos dentro da Internacional contra o movimento real da classe trabalhadora".
A questão não é tentar determinar a priori em que exato momento a forma seita se torna reacionária, etc. Isso não pode ser feito. Marx se colocou em luta por seu próprio caminho para um movimento revolucionário, e isso significou se colocar firmemente contra a ideia de seita. Que as possíveis contribuições das seitas não estivessem historicamente esgotadas inteiramente em 1864 foi amplamente provado em retrospectiva, mas isso é irrelevante para o curso de Marx. A "seita" lassalena(7) na Alemanha (ver as observações de Marx na mesma carta) ou a seita acima mencionada de Hyndman na Inglaterra continuaram a desempenhar um papel (lamentavelmente) - um papel que tinha também um lado positivo enquanto não houvesse uma alternativa funcionando.
Inquestionavelmente, algumas vezes uma seita pode ser melhor do que nada, mas essa sábia observação não aponta uma orientação. Por outro lado, a seita dos emigrados alemães nos Estados Unidos era, na visão de Marx e Engels, pior do que nada, e eles esperavam que ela fosse esmagada e desaparecesse (infelizmente ela ainda está conosco um século depois: o SLP)(8).
Então não se segue, mesmo da total aversão de Marx pela forma seita, que todas as seitas são sempre igualmente danosas. O inverso é verdadeiro: há naturalmente uma tremenda variação a esse respeito. Se observarmos exemplos mais próximos de nós: os "Oehleritas"(uma micro- seita que se desprendeu da seita trotskista em 1935)(9) não contribuíram em nada com o desenvolvimento de um movimento revolucionário, exceto como objeto de riso (o que não é de se desprezar em tempos cinzentos). De outro lado, como devemos mencionar, a Liga Socialista Independente desenvolveu o essencial do socialismo revolucionário em nossos dias. Existe uma grande diferença! Mas isso não desmente a única conclusão para a qual queremos apontar a essa altura:
Existe um caminho para um partido revolucionário que não é o da seita.
Para resumir, nós temos visto três abordagens até o momento. Uma delas nós podemos descartar: a abordagem de se confinar apenas a militantes individuais sem nenhum centro político. O verdadeiro problema é se o centro politico tem que ser necessariamente uma seita. Essa é uma questão de relacionamento entre a vanguarda e a classe e não meramente de duas formas organizacionais.
A seita se estabelece em um ALTO nível (bem acima daquele da classe trabalhadora) e sobre uma tênue base que é ideologicamente seletiva (usualmente fora da classe trabalhadora, necessariamente). Seu caráter de classe trabalhadora é proclamado com base em sua aspiração e orientação, não sua composição e seu modo de vida. Ela então se lança a trazer a classe trabalhadora acima para o seu nível, ou chama a classe trabalhadora a escalar o degrau acima. Detrás de suas barreiras organizacionais, ela envia grupos de exploradores para contatar a classe trabalhadora, e missionários para converter dois aqui e três ali. Ela vê a si mesma, um dia, se transformando em um partido revolucionário por um processo de acréscimos; ou por eventual unidade com duas ou três outras seitas; ou talvez por um processo de entrismo.
Marx, de outro lado, via os elementos de vanguarda evitando acima de tudo a criação de barreiras organizativas entre eles e a classe-em-movimento. A tarefa não seria elevar dois trabalhadores aqui ou três acolá ao nível do Programa Completo (menos ainda dois estudantes aqui e três intelectuais acolá!) mas ir atrás das alavancas que poderiam levar a classe, ou seções da classe, movendo-se em massa, em direção a níveis mais altos de ação e política.
A mentalidade de seita enxerga a salvação apenas em seu Programa Completo, ou seja, no que a separa da classe trabalhadora. Se, deus nos livre, alguma palavra de ordem que ela lança vai longe até se tornar popular, ela se assusta. "Alguma coisa deve estar errada. Devemos ter capitulado a alguém" (isto não é uma caricatura, foi tirado da vida real). A abordagem de Marx era exatamente o oposto. O trabalho da vanguarda seria desenvolver palavras de ordem que se tornassem populares num dado estado da luta de classes, no sentido de serem capazes de colocar as mais largas massas de trabalhadores em movimento. Isso significa: mover-se em uma questão, uma direção, um caminho que a colocaria em conflito com a classe capitalista e seu Estado, e os agentes dos capitalistas e do Estado, incluindo os "líderes operários do capitalismo" (seus próprios líderes).
A seita é uma versão miniaturizada do futuro partido, um "pequeno partido de massas", uma edição microscópica ou modelo do partido de massas que ainda não existe. Ou ela vê a si mesma assim, ou tenta ser tal miniatura.
Seu método organizativo é o "como se fosse": vamos agir como se já fôssemos um partido de massas (em um grau minúsculo, naturalmente, de acordo com nossos recursos), e essa é a rota para se tornar um partido de massas. Vamos publicar um "jornal dos trabalhadores", exatamente como se fôssemos um partido dos trabalhadores, e se não pudermos publicar um diário como um verdadeiro partido de massas, pelo menos podemos publicar um semanal ou quinzenal drenando todos os nossos recursos - isso nos torna um pequeno (irreal) partido de massas. (Mas essa fachada é apenas auto-ilusória, pois não chega a iludir um simples trabalhador, ele descobre rápido o bastante que há pouco por trás). Vamos construir um partido "bolchevique" por meio de sermos "disciplinados" como bons bolcheviques. Então, sobre a base de um falsa noção de disciplina "bolchevique" absorvida dos inimigos do leninismo, a seita é "bolchevizada" em uma camarilha compacta e petrificada, que substitui os laços de coesão política por arcos de ferro, tais como os que são usados para manter unidas as tábuas de um barril desmoronando.
Existe uma falácia fundamental na noção de que a rota da miniaturização (imitando um partido de massas em miniatura) é a rota para um partido revolucionário de massas. A ciência prova que a escala em que um organismo vivo existe não pode ser mudada arbitrariamente: seres humanos não podem existir seja numa escala liliputiana ou dos brobdingnagianos(10); seus mecanismos vitais não poderiam funcionar em ambas escalas. Formigas podem levantar duzentas vezes o próprio peso, mas uma formiga de 2 metros de altura não poderia levantar 20 toneladas mesmo se pudesse existir de alguma maneira monstruosa. Na vida organizacional também isso é verdadeiro: se você tentar miniaturizar um partido de massas, você não tem um partido de massas em miniatura, mas apenas um monstro.
A razão básica para isso é a seguinte: o princípio vital de um partido revolucionário de massas não é simplesmente seu Programa Completo, que pode ser copiado com nada além de um militante digitando e uma impressora, e pode se expandir ou contrair como uma sanfona. Seu princípio vital é o seu envolvimento como parte do movimento da classe trabalhadora, sua imersão na luta de classes não pela decisão de um Comitê Central mas porque ele vive lá. É esse princípio vital que não pode ser imitado ou miniaturizado; ele não se reduz como um desenho ou encolhe como uma camisa de lã. Como uma reação nuclear em cadeia, esse fenômeno só vem a existir com uma massa crítica; abaixo da massa crítica, ele não simplesmente se torna menor, ele desaparece.
Então, o que o aspirante micro-partido de massas pode imitar em miniatura? Apenas a vida interna do partido de massas (um pouco dela, de certa forma); mas essa vida interna, mecanicamente conduzida, está agora destacada da realidade que atua em um partido de massas real. Destaque as entranhas de um leão de seu corpo e o que você tem na realidade são... tripas. É por isso que a vida interna da seita tem a tendência de ser um exercício irrealístico, em fachada, em imitações rituais.
Além disso, uma vez que apenas a vida interna do partido de massas está disponível para paródia ritualizada, a mentalidade de seita considera apenas a vida interna agradável. Pois fora dessa vida interna, a cruel realidade de isolamento e impotência é incontornavel e insuportável, não tendo a mais leve semelhança com a vida externa de um partido de massas. A vida interna da seita se torna não um mal necessário que é adequado para as atividades externas, mas ao contrário uma gratificação substituta. De um lado, o trabalhador num partido de massas se irrita com a necessidade de passar muito tempo em reuniões internas de núcleo ou de frações, etc., mesmo quando ele é um marxista bom o suficiente para entender que essas coisas são necessárias. A mentalidade de seita, em contraste, encontra conforto e entusiasmo apenas em tais atividades voltadas para dentro, onde uma conversa adequadamente revolucionária pode ser apreciada, enquanto que uma reunião no sindicato é intragável.
Mas e o Partido Bolchevique não se desenvolveu de uma seita em um partido de massas? Se eles puderam fazer isso, nós também podemos...
Não, não foi assim que os bolcheviques se transformaram num partido de massas, não pelo caminho da seita. E não há proposta de uma seita em Que Fazer? Todo o amontoado de histórias de contos de fadas sobre a concepção de partido de Lênin é uma invenção de anti-bolcheviques profissionais e stalinistas; mas seja como for nós obviamente não poderemos entrar nisso agora. O que se segue será suficiente para a presente questão:
Tomemos o caminho materializado em Que Fazer? No período precedente, os preliminares de um partido de massas tomaram forma na Rússia não como seitas, mas como círculos locais de trabalhadores, que permaneciam soltos, e encontravam associações regionais frouxas. Eles não se desenvolviam como ramificações de uma organização centralizada, mas autonomamente, em resposta às lutas sociais, de maneira solta.
O que Lênin começou a organizar a partir do exterior, primeiro de tudo, não foi uma seita, nem uma organização de membros, mas um centro político: uma publicação (Iskra)(11) com um corpo editorial. A tendência Iskra se corporificava como um corpo editorial, não uma seita. A organização de membros que Lênin buscava seria um partido de massas, não um que consistisse exclusivamente daqueles que concordassem com o seu marxismo revolucionário, mas ao invés um partido de massas amplo o suficiente para incluir todos os socialistas, de fato todos os trabalhadores militantes. Ele teria diferentes tendências no seu interior, e os marxistas consistentes poderiam ser uma minoria pelo menos por algum tempo.
Mas enquanto Lênin não cometeu o engano de propor a interposição das muralhas de uma seita entre a sua tendência (isto é, aquela com a linha correta) e o movimento mais amplo da classe-em-luta, ele também não cometeu o erro oposto: o erro de negligenciar a construção de um centro político e assim de quadros marxistas.
Foram os mencheviques e a ala direita, não Lênin, que racharam ao invés de permitir uma maioria de esquerda. Nem também, nos anos de formação do partido bolchevique, Lênin fez da necessidade virtude: ele não adotou a posição de que o partido tinha que ser limitado aos bolcheviques. Ao contrário, ele lutou consistentemente pela concepção de um partido amplo, no qual, entretanto, a ala esquerda tivesse tanto direito de tomar a liderança por voto democrático quanto a ala direita. Era disso que se tratava o racha da liderança bolchevique no aspecto organizativo.
É claro, o estado de ilegalidade em que o movimento funcionava condicionou as formas organizativas de muitas maneiras, mas não foi a ilegalidade que determinou a recusa de Lênin de tomar o caminho de formar uma seita bolchevique. Se a Iskra tivesse sido montada em Petrogrado e não no exílio a relação essencial não teria mudado; e de fato quando a legalidade parcial foi alcançada por um curto período depois da revolução de 1905, uma das consequencias foi a fusão temporária dos grupos bolcheviques e mencheviques em um partido de massas unificado, apesar de Lênin manter um centro político na forma de uma publicação e seu corpo editorial. A porção inicial de legalidade não empurrou Lênin rumo à formação de uma seita bolchevique, mas na direção oposta, rumo à unidade com os mencheviques em um partido de massas (não a unidade dos centros políticos ideológicos).
Mas os bolcheviques e mencheviques não eram ambos "frações" do partido dividido? Sim, formalmente falando eles eram, mas uma fração significava algo diferente naqueles dias. Dos dois lados, assim como para outras tendências organizadas do movimento russo, uma fração funcionava como um centro político público com sua própria publicação e corpo editorial como condutor de sua política.
Também não eram essas frações (bolcheviques assim como os mencheviques) "organizações afiliativas" no sentido das seitas que nós viemos tentando construir. Observe os documentos escritos por Lênin logo antes de 1914 quando uma comissão da Internacional Socialista estava verificando a questão da unidade bolchevique-menchevique: Lênin, para provar que os bolcheviques tinham o apoio da maioria dos trabalhadores socialistas na Rússia, deu estatísticas da circulação de jornais, contribuições financeiras, etc., mas não de membros filiados. Nem ninguém esperava por estatísticas de filiados. Pois as organizações afiliativas na Rússia eram grupos locais e regionais do partido que podiam ser parte bolchevique e parte menchevique em afinidade, ou podiam mudar o apoio de um para o outro de vez em quando. Toda vez que um "congresso do partido" ou conferência era realizada, cada grupo do partido tinha que decidir se iria comparecer a esta, aquela ou ambas.
Isto indica que tanto bolcheviques como mencheviques eram, em forma organizacional, nem seitas afiliativas e nem mesmo "frações" em qualquer sentido organizacional relevante para hoje. O que eles eram? Ambos eram centros políticos baseados em um empreendimento de propaganda/publicação, com o acréscimo de um aparato oranizacional central para forjar elos com seções do movimento dos trabalhadores, através de "agentes", colaboradores literários, etc. (este acréscimo é uma adição crucial, apesar de não nos demorarmos sobre isto neste ponto). Membros individuais do partido na Rússia, ou núcleos do partido, poderiam decidir distribuir o jornal de Lênin, ou o dos mencheviques ou nenhum - muitos preferiam uma publicação "não-fracional" como a que Trotsky lançou em Viena; ou eles podiam usar em seu trabalho aquelas publicações dos bolcheviques que gostassem mais as dos mencheviques e outros, a seu critério.
Obviamente muito desse cenário era condicionado pela ilegalidade; muito pela natureza da divisão bolchevique-menchevique, etc. Não somos nós que o propomos como um modelo automático para hoje; nós o estamos discutindo pela razão exatamente oposta: a saber, porque há alguns que, pensando que os bolcheviques se desenvolveram na forma de uma seita, erroneamente propõem a "seita tipo-bolchevique" como modelo. Mas nunca houve nada como uma "seita bolchevique”. Essa invenção veio mais tarde, depois do Comintern(12).
Em qualquer caso, é óbvio que devemos chegar à seguinte conclusão aproximativa: se o partido bolchevique não se desenvolveu como partido revolucionário pelo caminho da seita, então deve haver outro caminho.
De fato, a conclusão histórica vai mais longe: não há um partido revolucionário de massas, ou mesmo partido semi-revolucionário, que alguma vez tenha se tornado um partido revolucionário de massas pelo caminho da seita.
Isso não prova que nunca vai haver. Isso não prova, por si mesmo, que é para sempre impossível para uma seita evoluir para um partido de massas de alguma maneira orgânica, ou seja, sem em algum momento concluir que está num caminho errado e tomar um diferente. Mas não estamos interessados em provar isso. Tudo que precisa ser entendido é que deve haver outro caminho - um caminho que foi de fato tomado pelos socialistas revolucionários, e com maior ou menor sucesso.
O que está provado é que o caminho da seita não deve ser seguido acriticamente, sem refletir inteiramente, como se fosse o único caminho possível ou pensável. Ao contrário, o caminho da seita nunca funcionou até hoje de maneira alguma. O que funcionou foi um caminho bem diferente, um que portanto ao menos merece consideração.
Este outro caminho sumiu da consciência da maioria dos marxistas revolucionários apenas em um período relativamente recente - isto é, durante o período do Comintern.
O grande desenvolvimento histórico que desceu a cortina sobre isso, e trouxe o caminho da seita para o primeiro plano, foi o período de evolução pós-I Guerra Mundial no qual o Comintern primeiramente apresentou a formação de partidos revolucionários como uma necessidade imediata "emergencial". Em cada país, um partido revolucionário teve que ser construído de imediato, mesmo que o partido tivesse que ser feito à força numa estufa; isso foi exigido pelos 21 Pontos(13) do Comintern. A motivação era clara: a revolução mundial estava na ordem do dia para toda a Europa. E era verdade que a revolução estava na ordem do dia imadiata (na Europa).
Mas agora nós sabemos que se provou francamente impossível forjar genuínos partidos revolucionários por um processo forçado atendendo a uma exigência imediata (em qualquer medida, não partidos revolucionários capazes de vencer). Essa é a principal razão pela qual o inimigo (primariamente a social-democracia) foi capaz de derrotar a revolução europeia. E a derrota dessa revolução foi o ponto de virada da história social moderna: todo o mundo de hoje deriva disso.
A mais conhecida consequência foi a ascensão do stalinismo - a stalinização dos partidos comunistas tanto como a da Rússia. Uma consequência bi-simétrica atingiu as correntes que rejeitaram a stalinização ou rompiam com ela: geralmente viam a degeneração do movimento como consequência da stalinização, ao invés de verem a stalinização como consequência da derrota e degeneração do movimento. Sobre a base do anterior, viam o sucesso revolucionário como algo tão simples que dependesse apenas de forjar uma liderança de vanguarda que não fosse stalinista, que fosse verdadeiramente revolucionária - quer dizer, da formação de uma liderança de vanguarda que tivesse a Linha Correta, o que seria o suficiente.
O processo de criação forçada em de um "partido" revolucionário em estufa por meio da edição dos 21 Pontos de alguém (destacados do contexto objetivo dos verdadeiros 21 Pontos) foi tomado como dado, por uma nova geração de revolucionários ou aspirantes a revolucionários para quem a história começou em 1917.
O resultado foi uma primeira onda de seitas "bolcheviques", ou seja, seitas que tentavam imitar o que elas pensavam que tinham sido os bolcheviques, no primeiro período de declínio da revolução europeia.
Um exemplo típico foram os "bordiguistas"(14) italianos e outros ramos de esquerdistas- infantis do Comintern - as tendências que Lênin atacou no seu Esquerdismo, Doenca Infantil do Comunismo. Pois se há uma coisa, como nós sabemos bem, sobre a qual esses voluntariosos mas bastante ignorantes esquerdistas de então não conheciam nada, era como o partido bolchevique tinha sido realmente forjado. Para eles o ultimatum dos 21 Pontos não era uma medida especial de emergência, uma que surgiu de revolucionários sensatos apenas na situação não-muito-comum de ter uma crise revolucionária imediata no seu encalço sem um partido revolucionário existente. Para eles, essas medidas de emergência, essas medidas desesperadas de emergência, se tornaram a norma - o fazer "bolchevique" "normal"... a ser feito mesmo se não existisse a situação histórica que sozinha explicava porque se teve que recorrer aos 21 Pontos.
Generalizados como padrão normal, esse caminho de estufa para um "partido" revolucionário (ou cópia disso) seguia mais ou menos assim: você levanta a bandeira do Programa Correto para estabelecer a sua fronteira organizativa. Você o faz a despeito da situação objetiva pois é um imperativo supra-histórico. Você faz isso com quem quer que você tenha ao redor - outras duas boas pessoas por exemplo (pois não foi dito que nos dias sombrios da guerra o partido bolchevique de Lênin foi reduzido a um punhado de pessoas?). Você declara a si mesmo O Partido Revolucionário e desde que você tenha o Programa Correto, eventualmente os trabalhadores terão que vir bater à sua porta... E você tem a sua seita.
A resistência de Trotsky durante muitos anos em romper com os Partidos Comunistas era condicionada, entre outras coisas, pelo fato de que ele também não via alternativa a não ser a formação de uma seita trotskista, uma conclusão que ele era relutante em aceitar.
Deve ser lembrado que, durante todo o período de seu desenvolvimento político (isto é, antes de 1914), Trotsky nunca sequer começou a entender o que Lênin estava fazendo. Por décadas ele tinha lutado amargamente contra o curso organizacional de Lênin, o qual ele tinha denunciado como uma política "divisionista". O que era a política "divisionista" que o horrorizava? Era o curso de formar um centro político distinto em torno do Programa Completo e Correto de alguém - não basear uma seita no Programa Completo, mas ao invés um centro político.
A trajetória de Trotsky como um "conciliador" organizacional no movimento russo significou que ele também (como [Rosa] Luxemburgo na Alemanha e a maioria da "esquerda" da Segunda Internacional) nunca entendeu a natureza do caminho de Lênin para um partido revolucionário. Durante a maior parte da vida política de Trotsky, o único curso organizacional que ele pôde entender era o das seitas-e-rachas (que era como ele interpretou Lênin) ou então o pântano da pregação fictícia da "unidade-do-partido".
É irônico que a stalinização dos Partidos Comunistas tenha forçado Trotsky em direção ao caminho de formar seu próprio "centro político", (a Oposição de Esquerda) dentro dos Partidos Comunistas, ou seja, dentro de um movimento stalinizado que não tolerava nenhum centro político de oposição de maneira alguma! O caminho que ele tinha denunciado dentro da Social- Democracia russa pré-guerra (onde teria sido possível) foi o caminho que ele foi compelido a tomar dentro do movimento stalinista (onde era impossível).
Não é muito surpreendente, portanto, que quando os grupos trotskistas não podiam mais continuar na forma organizacional de um centro político de Oposição de Esquerda dentro dos PCs, eles naturalmente adotaram a única outra forma que conheciam: a seita. Trotsky o fez muito a contragosto, sem qualquer dúvida; por isso o próximo experimento foi o entrismo na Social-Democracia, na esperança de que um caminho não-sectário para um partido de massas pudesse ser encontrado ali. O substituto esperado era a incubação de um partido de quadros revolucionários no movimento de massas que a Social-Democracia supostamente representava. Seria uma digressão prosseguir com esta história aqui.
O ponto em que estamos interessados é o seguinte: antes e depois do seu experimento "entrista", a aceitação não inteiramente refletida do padrão da "seita bolchevique" produziu uma profusão de micro-seitas se desprendendo da macro-seita trotskista dos anos 1930 em diante. Nos Estados Unidos, adicionalmente, a ausência de qualquer movimento político de massas da classe trabalhadora tornou muito mais difícil enxergar qualquer outro caminho.
Existe um outro caso que demanda discussão imediata, já que é o caso de nosso ancestral imediato: o Workers Party/Independent Socialist League (WP/ISL - Partido dos Trabalhadores/Liga Socialista Independente - N. do T.) - de 1940-58. Em esboço (já que isso merece uma discussão mais prolongada em outro momento), o caso foi da seguinte maneira, em três estágios:
1. Formação do Socialist Workers Party (SWP - Partido dos Trabalhadores Socialistas - N. do T.) saindo do SP (Socialist Party - Partido Socialista - N. do T.). - O entrismo trotskista no SP (gestação no útero da social-democracia) foi abortado no final de 1937 quando Trotsky (e com ele parte da liderança trotskista em torno de Cannon(15)) concluíram que o mundo, incluindo os Estados Unidos, estava a ponto de entrar em uma situação revolucionária. Isso imediatamente acionou o padrão dos 21 Pontos (pelo menos, dessa vez, a motivação foi a sensação de situação de emergência, também). Por esse padrão, como vimos, o Partido Revolucionário tem que ser anunciado ao mundo a todo custo, sua bandeira e programa desfraldados, em tempo suficiente para antecipar a avalanche da revolução. A ala direita do SP estava tão ansiosa para nos expulsar quanto os trotskistas estavam para sair; o resultado final foi uma colaboração. Em qualquer caso, no começo de 1938, o "Socialist Workers Party" (SWP) foi anunciado para a classe trabalhadora dos Estados Unidos, e mais tarde no mesmo ano, a "Quarta Internacional" da mesma forma veio a existir de maneira forçada como um produto de estufa.
Não havia ambiguidade sobre o modo como o novo partido se considerava: ele era o Partido Revolucionário finalmente lançado para salvar mundo, e ele iria crescer por rápidos acréscimos até que fosse a força de liderança da classe trabalhadora - esperançosamente no tempo exato para liderar a revolução em desenvolvimento. Ao desfraldar o Programa Completo e Correto a seita (isto é, o "partido" que realmente existia) iria abreviar o caminho para se tornar um partido de massas.
A eclosão da guerra murchou essa visão inquestionada de duas maneiras. O que é melhor conhecido é que o Programa Completo acabou sendo completo de algumas coisas, mas não correto (defesa da União Soviética, pacto Hitler-Stalin, emergência do imperialismo stalinista, invasão da Finlândia e Polônia, etc.). Mais pertinente aqui é a segunda questão que apareceu na disputa que sacudiu e dividiu a organização em 1939-1940: a assim chamada "questão organizativa".
Pois o que aconteceu (como detalhamos na época em um longo documento entitulado Guerra e Conservadorismo Burocrático) foi que a seita-que-chamava-a-si-mesma-de-partido reagiu à eclosão da guerra como uma... seita. Nós não entendíamos dessa maneira na época: nós chamamos a isso de "conservadorismo burocrático" da liderança de Cannon. Essa resposta sectária foi encenada bem mais puramente pelo SWP depois do racha do que logo na saída: o SWP passou todo o período da guerra como um caracol, ele se encolheu em sua concha para proteger seu corpo gelatinoso, e anunciou a política de "preservar seus quadros", colocando-os na prateleita (junto com a concha) pela duração da guerra, ao invés de encontrar maneiras e métodos de endurecer seus quadros na luta durante a guerra.
2. Em completo contraste, o Workers Party (WP - Partido dos Trabalhadores - N. do T.) que nós formamos depois do racha seguiu um curso que nós podemos descrever como de um "pequeno partido de massas". Mas nós realmente agimos como um "pequeno partido de massas", e não meramente nos limitamos a tagarelar sobre isso. Isto é, o WP se moveu de modo enérgico e militante para atividades que teriam sido assumidas por um partido de massas se tivesse existido algum - realizando uma excelente oposição revolucionária e trabalho por empresa nas fábricas e sindicatos, acompanhado pela circulação massiva (distribuição) de um semanário agitativo popular, etc.
Com certeza, esse trabalho de "partido de massas" podia ser feito apenas em escala relativamente pequena - ou, o que é a mesma coisa, em uma escala maior apenas em algumas poucas situações locais bem limitadas - pois nós éramos um "partido de massas" bem pequeno. As suposições subjacentes ainda eram as mesmas: crise revolucionária ao fim da guerra, logo em seguida, e crescimento rápido a partir da base social em que estávamos trabalhando.
Esse curso poderia parecer fazer sentido, ao menos temporariamente, por razões conjunturais óbvias: nós éramos a única, solitária e exclusiva tendência de oposição socialista no movimento da classe trabalhadora por todo o período de guerra. Essa é uma posição de monopólio que nunca existiu para alguém desde então! A "Industrialização" ou "proletarização" dos nossos membros tinha se tornado relativamente fácil pela situação de guerra (para aqueles que não foram convocados para o serviço militar). Não é desimportante mencionar também que, devido aos salários industriais, uma militância dedicada e um sistema astronômico de cotização por renda, financiar o trabalho nunca foi tão fácil. Em resumo, por este limitado período e situação especial, as contradições de uma seita-agindo-como-pequeno-partido de massas podiam ser e eram disfarçadas, no calor da atividade.
Pode ser talvez argumentado que se o resultado da guerra tivesse sido revolução na Europa e Estados Unidos, como antecipado então, esse curso poderia ter sido historicamente justificado. Eu não estou interessado em argumentar isso, desde que eu não estou interessado em sustentar nenhuma teoria da inevitabilidade a respeito disso; nem estou argumentando que se nós tivéssemos sido mais "espertos" nós deveríamos ter feito outra coisa. Nada disso está em pauta, e eu os menciono apenas para descartá-los da discussão. Eu estou interessado nesse momento apenas em explicar como e porque o curso de uma seita "pequeno partido de massas" era temporariamente e conjunturalmente possível e esperançoso.
3. A hora da verdade veio em 1946. Este ano foi um divisor de águas. Conforme ele alvorecia, foi ficando claro para muitos que a esperada Revolução Mundial pós-guerra tinha sido abortada, ou de qualquer forma não iria despontar. Uma reorientação básica foi imposta sobre nós.
Foi portanto em 1946 que um acerto de contas final teve lugar com o grupo sistematicamente sectário no WP (o bando dos "johnsonites"(16)). Esse era um grupo com um programa fracional - na verdade, um número variado de programas para se adequar a qualquer ocasião. Em 1946 o grupo-fração Johnson reagiu formalmente à nova virada dos acontecimentos afirmando duas vezes mais veementemente que a revolução estava virando a esquina, soviets poderiam ser esperados em 2 anos, o capitalismo tinha entrado em colapso por toda a Europa e o poder estava à solta nas ruas: em outras palavras, com as fantasias típicas da mentalidade sectária ao ser confrontada com uma realidade desagradável. De acordo com isso, também, eles anunciaram um programa que contrapunha "grupos de luta" (então chamados "comitês de fábrica") aos agora contrarrevolucionários sindicatos, que tinham sido estatizados, etc. Com essa ladainha, esses sectários sistemáticos então fizeram as malas e se mudaram para o SWP, onde fizeram uma atividade fracional bem revolucionária por um breve momento, antes de desfraldar a sua bandeira para o mundo inteiro em uma seita deles próprios, que então rachou, etc.
No mesmo ano, houve outra tentativa de reorientação no Workers Party, por gente mais séria. Esse foi um esforco para teorizar e sistematizar (isto é, pensar do começo ao fim) a concepção do curso organizacional de "pequeno partido de massas", não simplesmente como uma reação ad-hoc às circunstâncias da guerra (que é o que tinha sido) mas como um conceito geral e atemporal, aplicável agora mais até do que antes. A expressão "pequeno partido de massas" foi inventada e colocada por escrito. Ela foi rejeitada pela organização.
Fora dessa discussão, e com o firme descenso da situação política dos Estados Unidos em direção à estagnação (guerra fria, depois macartismo(17), etc.), a organização teve que encarar, sem nenhum auto-engano, seu futuro como uma seita entre outras. Em uma tese apresentada em 1948 e discutida até ser adotada em 1949, a organização praticamente toda aceitou algumas verdades básicas: que ela não era um "partido" exceto no nome; que nenhum "partido" socialista tinha existido no país; que todos os grupos socialistas, incluindo o nosso, eram na realidade seitas - no melhor dos casos "grupos de propaganda"; que a única coisa que alguém poderia esperar era ser uma boa seita, uma seita sensata, ao invés de uma seita estúpida, fantasmagórica e auto-iludida; que apesar da história ter feito possível nada além de uma seita neste momento, poderia-se ter a determinação de não conduzir uma política sectária em relação à classe trabalhadora e seus movimentos; e outras concretizações dessa abordagem. De acordo com isso, a organização mudou seu nome de "Workers Party" (WP) para "Independent Socialist League," (ISL - Liga Socialista Independente ou ISL - N. do T.).
Tudo isso foi muito sensato da nossa parte. Acho que o ISL foi a melhor e mais sensata seita possível: mas isso não a ajudou por mais do que alguns anos, conforme os anos 1950 exauriam a esquerda inteira. A ISL não se sacudiu em pedaços com monstruosidades e fantasias sectários; ela meramente definhou por inação e se desmantelou; enquanto outras seitas socialistas passaram por contorções políticas, o SP reduzindo-se a nada, o SWP transformando-se num apêndice stalinóide.
Uma vez que toda a história discutida acima foi vivenciada sem qualquer auto-exame, sem qualquer diferenciação analítica entre este caminho e aquele, tudo isso teve que ser detalhado em retrospectiva. O relato acima nos leva a concluir que, na prática, o estabelecimento de um "centro político" como distinto de uma seita - isto é um centro de propaganda/educação não- afiliativo como algo distinto de um grupo afiliativo fechado em muralhas organizativas - tenha tomado a forma de um projeto de publicação e seu quadro editorial, com algum aparato organizativo anexo a ele com o propósito de conduzir as tarefas políticas do centro.
O fato é que esse caminho tem sido mais comum do que o relato acima pode indicar. Os Estados Unidos de hoje mostram vários exemplos que compensam uma rápida olhada. É verdade que o segmento político radical parece salpicado de seitas, mas em acréscimo há várias tendências que não são organizadas na forma de seitas, mas na forma de centros políticos em torno de uma publicação.
1. Talvez o mais efetivo, por sua política, tenha sido a tendência política representada pela Monthly Review(18) - isto é, o espectro ligeiramente amorfo de política stalinóide independente do CP (Comunist Party - Partido Comunista dos Estados Unidos - N. do T.). Ao mesmo tempo que a revista tem sido também a expressão da organização de uma tendência política, ainda não se moveu rumo a uma cristalização organizacional (afiliativa), exceto em alguns esforços experimentais em grupos locais de "amigos" da revista ou associados, ou coisa parecida. O mesmo é verdade para o Guardian(19). É duvidoso se esses elementos algum dia tiveram, ou têm, a perspectiva distante de em algum momento contribuir para um partido revolucionário; eles certamente pensam primariamente em termos de permear a esquerda com suas ideias específicas.
2. Outro exemplo relativamente bem sucedido é Liberation(20), mas ao custo de abrir mão do que tinha sido sua própria linha política original. Essa revista foi criada como centro político da tendência pacifista-absoluta. Como tal, ela foi uma nulidade; o pacifismo absoluto nunca esteve tão morto. De fato, ela se transformou em outra coisa, com o pacifismo como apenas mais um ingrediente na sopa. Uma vez que sua linha política é confusa, ela não é muito importante como centro político. Ela se manteve principalmente como um jornalismo radical difuso.
3. Dissent(21) foi fundada mais ou menos conscientemente como um esforço de manter algo como um centro político, sem uma organização sectária, por pessoas que se tornaram social democratas em um país sem social-democracia. Mais tarde, Dissent e a LID(22) fizeram uma espécie de fusão. A LID é um exemplo interessante de uma organização inicialmente afiliativa que, conforme seus membros desapareciam, se transformou em uma operação de tipo centro político, social democrata na linha política - mas não em torno de uma revista. The New Leader(23) tem sido outro tipo de operação social-democrata (ala da CIA) de centro político sem uma organização afiliativa. Todos esses casos, com suas especificidades, são fortemente condicionados pelas suas fontes de financiamento.
De fato, quase toda publicação política tende a se tornar um centro político de algum tipo, pela sua própria natureza, já que é uma fonte de ideias. Eu mencionei alguns exemplos díspares como indicação de que pode haver bastante variação. Não há modelo organizacional que nós possamos simplesmente copiar.
O objetivo é dar uma ideia geral de um curso que não envolva a construção de uma seita afiliativa, e então trabalhar para expressar nossos objetivos e posições políticas. A peculiaridade no curso que queremos tomar é essa: nós queremos construir um centro político que tenha, como sua meta a formação dos pré-requisitos de um partido socialista revolucionário.
Se tentarmos abstrair todas as peculiaridades nacionais, de tempo, lugar e condições, as realizações organizacionais de Lênin, a cuidadosa formação da tendência bolchevique, alcançou três coisas no decorrer do tempo - três coisas que, me parece, se aplicam em quase todos os casos e certamente se aplicam ao que estamos obrigados a fazer.
O processo de formação da tendência bolchevique:
Isso resume nossas tarefas também.
Não existe necessidade de tentarmos prever ou predizer agora exatamente como o partido revolucionário do futuro virá a ser. Seja como for que isso aconteça, o resultado será favorável apenas se essas três tarefas forem cumpridas.
Se nossas tarefas forem consideradas sob essas diretrizes, então certas atividades tomam diferente significado e prioridade. Por exemplo, a publicação de literatura é tida por uma seita como uma atividade entre outras, e não uma com alta prioridade. Com uma exceção, ela tende a ser empurrada para o final da agenda. A exceção é a publicação de um órgão de "massa", que tende a tomar tal precedência sobre qualquer outra coisa, que nada mais pode ser feito. Do nosso ponto de vista, esse é um grave engano em prioridades. A criação (publicação e distribuição) de um corpo básico de literatura é a realização de um centro político da qual todo o restante depende. A primeira tarefa desse corpo básico de literatura é tornar possível a formação de quadros - prover a nutrição política sobre a qual os quadros podem ser criados. Sem isso, nenhuma formação de quadros saudável é possível.
Tais quadros vão se desenvolver localmente, é claro. Um centro político tem uma enorme vantagem sobre o Comitê Nacional ou Comitê Central de uma seita que envia diretivas, teses, orientações disciplinares, etc., ao seu micro-império de mini-regionais. Isto é: a relação do centro com clubes locais, grupos socialistas, grupos sindicais, grupos de trabalhadores e ativistas individuais pode ser infinitamente variada e flexível. Mas as relações da seita são dicotomizadas em dois tipos: com membros a relação é enrigecida pelos normativos internos; com não membros, a relação é travada por uma barreira organizativa. Depois de um primeiro período em que um grande trabalho de preparação terá que ser feito, nós buscaremos posteriormente um envolvimento muito maior com quadros locais - mas em um relacionamento diferente, que oferece novas possibilidades.
Não é parte do objetivo deste artigo recitar o nosso programa para os próximos cinco meses. Nós já visualizamos bem mais do que podemos podemos lidar. E isso é apenas para começar, pois nós estaremos indo bem seguindo de acordo com essas linhas se isso nos tomar mais de um ano.
Nós temos que ter uma perspectiva de longo prazo. O que nós temos aqui não é um esquema fique-rico-rápido, mas o seu oposto: uma linha de preparação para o futuro que pode render frutos apenas depois de uma longa trajetória. Nós devemos pensar em termos de ao menos um Plano de Dez Anos (eu menciono dez anos porque é um bom número redondo e é chamado década). Nós passamos a última década em dois becos sem saída. Se, pelo fim dos anos 1970, nós tivermos um número de realizações sólidas ao desempenhar as três tarefas listadas acima, então nós teremos dado os primeiros passos apreciáveis rumo à meta de um partido revolucionário.
Nota do autor:
(1) Seitas" e "sectário" têm tantas definições quantas são as posições políticas. Aqui, é claro, estamos preocupados com uma definição marxista. Por exemplo, denunciar seitas e sectários é um padrão para os reformistas. Para eles "sectário" simplesmente significa marxista revolucionário e "seita" é qualquer organização revolucionária. Essa literatura vazia causa uma certa dose de confusao. Para um dos mais tolos exemplos, ver Lewis Coser em Dissent, 1:4, 1954 (retornar ao texto)
Notas da tradução:
(2) Hyndman - Henri Mayers Hyndman (1842-1921), escritor e jornalista, ex-parlamentar conservdor convertido ao socialismo e fundador da Federação Social Democrata (SDF em inglês), um dos embriões do futuro Partido Trabalhista; e autor de livros de divulgação do socialismo em inglês. Entretanto, por não dar crédito a Marx e simplificar suas ideias, Hyndman foi hostilizado por ele e por Engels enquanto viveram. Além disso, o personalismo de Hyndman afastou todos os colaboradores que chegaram a se aproximar, atrapalhando o desenvolvimento das organizações socialistas na Inglaterra. Há uma breve nota biográfica sobre ele e uma coletânea de textos no Marxists Internet Archive (MIA), mas não estão disponíveis em português, de modo que nos baseamos na página em inglês (https://www.marxists.org/archive/hyndman/index.htm). (retornar ao texto)
(3) Eleanor Marx (1855-1898) militante socialista e filha de Marx, a unica que teve atividade política e levou adiante as ideias do pai. Há uma breve nota sobre ela em português no MIA (https://www.marxistsfr.org/portugues/eleanor/index.htm). (retornar ao texto)
(4) Novo Sindicalismo - onda de greves, lutas e crescimento dos sindicatos acontecida na Inglaterra na década de 1880, baseada em trabalhadores braçais e não qualificados, como portuários, trabalhadores da iluminação pública a gas, da indústria de alimentos em conserva, de fósforo, têxteis, etc.; ao contrário dos sindicatos tradicionais de então, menos combativos e baseados em corporações de trabalhadores altamente especializados. As referências que encontramos sobre esse tema estão todas em inglês: https://socialistworker.co.uk/art/18985/The+rise+and+fall+of+New+Unionism - http://www.unionhistory.info/timeline/1880_1914.php - https://www.workersliberty.org/story/2012/02/15/new-unionism-1880s (retornar ao texto)
(5) Edward Aveling (1849-1898), médico e militante socialista, companheiro de Eleanor Marx, filha de Marx. O relacionamento dos dois foi infeliz devido às idas e vindas de Aveling, terminando com o suicídio de Eleanor aos 43 anos e a morte dele por doença pouco depois. Apesar dele não ter deixado obra escrita, há uma nota sobre Aveling no MIA (https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/a/aveling_edward.htm). (retornar ao texto)
(6) Saint-Simonianos - Seita baseada na obra de Claude-Henri de Rouvroy (1760-1825), Conde de Saint-Simon, aristocrata que renunciou à nobreza, dedicou-se a estudar economia e filosofia e elaborou projetos de reforma social baseados numa espécie de tecnocracia industrial devidamente esclarecida por um novo tipo de religião cristã renovada. Há informações abundantes na Internet sobre Saint-Simon, mas para uma biografia rápida indicamos o seguinte link: https://operamundi.uol.com.br/noticia/21928/hoje-na-historia-1825-morre-o-economista-e-filosofo-frances-saint-simon (retornar ao texto)
(7) Lassalleanos - Seguidores de Ferdinand Lassalle (1825-1864), escritor e advogado alemão, morto precocemente em duelo. Os lassalleanos participaram da fundação do Partido Social- Democrata alemão (SPD na sigla em alemão) em 1863, ao se fundirem com a corrente dirigida por Bebel e Liebknecht, no congresso acontecido na cidade de Gotha. O documento programático fundacional aprovado neste congresso sob a influência lassalleana foi alvo de duríssimas observações de Marx na célebre "Crítica ao Programa de Gotha". Há poucos escritos de Lassalle em português, mas um dos seus textos mais conhecidos, Que é Uma Constituição? tem uma versão em e-book disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/constituicaol.html (retornar ao texto)
(8) SLP - Socialist Labour Party - Partido Socialista do Trabalho - organização fundada em 1876 por imigrantes alemães nos Estados Unidos, estando ativo até hoje (mantendo o site www.slp.org), mas sempre permanecendo à margem das principais correntes da esquerda no país. (retornar ao texto)
(9) RWL - Revolutionary Workers League - Liga Revolucionária dos Trabalhadores - seita criada por Hugo Oehler em 1936 por discordar do entrismo da corrente trotskista no movimento hegemonizado pela social-democracia. Depois de vários rachas, a última publicação ligada a este grupo, chamada The Fighting Worker (O Trabalhador em Luta) parou de ser publicada em 1947. Há uma coletânea de publicações da RWL no MIA, mas apenas em inglês, no link: https:// www.marxists.org/history/etol/document/rwl/index.htm (retornar ao texto)
(10) Liliputianos e brobdingnagianos - Personagens da aventura humorística "As Viagens de Gulliver", publicada em 1726, escrita por Jonathan Swift (1667-1745): os liliputianos eram minúsculos, tinham 6 polegadas (15 centímetros) de altura; já os brobdingnagianos são gigantes, e não têm a sua altura média descrita no livro, a não ser uma criança de 9 anos, que tinha 40 pés (12 metros) de altura. O livro é um clássico da literatura, pode ser facilmente encontrado on-line em português (ver http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/gulliver.html). (retornar ao texto)
(11) Iskra (Faísca ou Centelha em russo) - é o nome da revista teórica lançada pelos mais eminentes socialistas russos no exílio, como Lênin, Plekhanov, Martov, Axelrod e Vera Zasulitch, antes da divisão do partido. A revista foi editada na Alemanha e contrabandeada para a Rússia entre 1900 e 1905 (ano em que a fração menchevique tomou o controle da publicação e os bolcheviques se retiraram). Foi nas páginas da Iskra que Lênin publicou o Que Fazer? em fascículos ao longo do ano de 1902. (retornar ao texto)
(12) Comintern - Apelido da Internacional Comunista, ou III Internacional, que existiu de 1919 a 1943. (retornar ao texto)
(13) 21 Pontos - Conjunto de 21 diretrizes políticas e estatutárias que os Partidos Comunistas (PCs) teriam que seguir se quisessem ser aceitos como membros da III Internacional. Esse documento (inicialmente em número de 19) teve sua forma definitiva aprovada no II Congresso do Comintern (ver nota 11) em 1920, e previa uma forma extremamente rígida de funcionamento. Entre outras coisas, os 21 Pontos estabeleciam que a Internacional tinha o poder de determinar a composição do Comitê Central (CC) dos PCs filiados (ponto 20); e estes por sua vez tinham poderes ditatoriais sobre o partido (pontos 12 e 13). O CC não era apenas um centro político que elaborava propostas para reflexão dos militantes, mas um comando de tipo militar que baixava diretivas a serem acatadas como ordens. Há uma tradução dos 21 pontos em português publicada na coletânea III Internacional, editada por Brasil Debates em 1989 (Para uma versão on-line dos 21 Pontos, ver o blog: http://www.fishuk.cc/2014/08/condicoes.html?m=1). O MIA disponibiliza para download os documentos dos congressos da III Internacional em inglês no formato pdf, no link: https://www.marxists.org/history/international/comintern/documents/volume1-1919-1922.pdf (retornar ao texto)
(14) bordiguistas - Integrantes da fração liderada por Amadeo Bordiga (1889-1970), um dos expoentes italianos do comunismo de esquerda ou conselhista. A sua página no MIA (https://www.marxists.org/portugues/bordiga/index.htm) tem alguns textos em português. (retornar ao texto)
(15) Cannon - James Patrick Cannon (1890-1974), mais conhecido como J.P. Cannon, começou a militância na IWW (Industrial Workers of the World - Trabalhadores Industriais do Mundo - organização internacional baseada nos Estados Unidos, de tendência sindicalista revolucionária ou anarco-sindicalista) e passou pelo Partido Comunista estadunidense, até aderir ao trotskismo em 1928. A partir de então foi o principal dirigente e responsável pela elaboração política do SWP por várias décadas. Página de Cannon na seção do MIA em português: https:// www.marxists.org/portugues/cannon/index.htm (retornar ao texto)
(16) "Johnsonites" - apelido dado pelo autor aos integrantes da "Tendência Johnson-Forest", grupo liderado por J.R. Johnson (pseudônimo de Cyril Lionel Robert James [1901-1989], mais conhecido como C.L.R. James, autor do clássico Jacobinos Negros, sobre a Revolução Haitiana - página pessoal no MIA disponível somente em inglês: https://www.marxists.org/archive/james-clr/index.htm) e Freddie Forest (Raya Dunayevskaya [1910-1987], de família de judeus ucranianos emigrados para os Estados Unidos, começou a militar na adolescência no movimento comunista, mais tarde rompeu e foi secretária de Trotsky, com o qual também romperia posteriormente - página pessoal no MIA disponível também somente em inglês: https://www.marxists.org/archive/dunayevskaya/index.htm). A Tendência Johnson-Forest saiu do WP em 1947 para voltar ao SWP, com o qual depois rompe em 1950 para formar o Comitê de Publicação e Correspondência (Correspondence Publishing Committe - 1951-1962). O qual, por sua vez, rachou em um Comitê de Cartas e Notícias (News and Letters Committe - criado em 1955 e ativo até hoje - ver https://newsandletters.org/) e Encarando a Realidade (Facing Reality - 1962-1970); não sem antes ter tido influência sobre o grupo Socialismo ou Barbárie baseado na França, uma das fontes do pensamento autonomista. (retornar ao texto)
(17) Macartismo - Movimento liderado pelo Senador Joseph McCarthy, que perseguiu militantes, sindicalistas, ativistas, políticos, intelectuais, escritores, jornalistas, artistas, sob a acusação de terem simpatias ou vínculos (reais ou fictícios) com o comunismo, o socialismo (social democracia) ou qualquer versão mesmo branda de política de esquerda, tendo seu auge nos anos de 1950 a 1957. Os interrogatórios, prisões, campanhas de difamação, manuais de censura, etc., virtualmente exterminaram a esquerda militante e a intelectualidade simpatizante nos Estados Unidos. (retornar ao texto)
(18) Monthly Review (Resenha Mensal) - Revista teórica publicada desde 1949 (e ativa até hoje, podendo ser encontrada on-line em https://monthlyreview.org/? gclid=EAIaIQobChMIiPy92dTO3QIVEP5kCh33MAtuEAAYASAAEgLtaPD_BwE), com sede em Nova York, tendo sido liderada por alguns dos mais importantes intelectuais marxistas estadunidenses, como Paul Sweezy (editor de 1949 a 2004), Leo Huberman (de 1949 a 1968), Harry Magdoff (de 1969 a 2006), Ellen M. Wood (de 1997 a 2000); atualmente dirigida por John Belamy Foster. (retornar ao texto)
(19) Guardian (Guardião) - Não encontramos referência a nenhuma outra publicação nos Estados Unidos com o nome de The Guardian, além da versão estadunidense do tradicional jornal britânico de mesmo nome, fundado em 1821 como Manchester Guardian, e simplesmente The Guardian desde 1959 (link para versão on-line: https://www.theguardian.com/international). O único elemento progressista que parece justificar a inclusão desta publicação na lista de Draper de exemplos de centros políticos é o fato de que ela é mantida por uma fundação sem fins lucrativos (Scott Trust Limited, desde 1936), que reinveste os ganhos em jornalismo. De resto, seu conteúdo editorial expressa um certo "liberalismo de esquerda" do tipo que no Brasil aparece por exemplo em Carta Capital, que não por acaso publica conteúdo de The Guardian. (retornar ao texto)
(20) Liberation (Libertação) - Revista publicada entre 1956 e 1977, com conteúdo vinculado à chamada Nova Esquerda (New Left) da década de 1960 (A página em inglês da Wikipedia tem algumas referências sobre essa publicação: https://en.m.wikipedia.org/wiki/Liberation_(magazine)) OBS: Não confundir com o jornal francês Liberátion, fundado em 1973 (com a participação de Sartre) e existente até hoje. (retornar ao texto)
(21) Dissent (Divergência) - Revista de tendência social-democrata fundada em 1954, hoje vinculada à Universidade da Pensilvânia, publicada também na Internet em: http://www.dissentmagazine.org/ (retornar ao texto)
(22) LID (League for Industrial Democracy - Liga por Democracia Industrial) - Organização nascida com o nome de Intercollegiate Socialist Society (Sociedade Socialista Interfaculdades - ISS na sigla em inglês), fundada em 1905 por ativistas socialistas e intelectuais como os escritores Jack London e Upton Sinclair. A ISS mudou de nome para LID em 1921, quando saiu do mundo acadêmico-intelectual para se tornar uma organização que buscava base de massas. Paralelamente, surge vinculada a ela a SDS (Students for a Democratic Society - Estudantes por uma Sociedade Democrática), espécie de "central estudantil", muito ativa na década de 1960, tendo depois se tornado independente e desaparecido. Ao longo das décadas, a LID passou de uma organização reformista independente e honesta, por via da oposição ao stalinismo, para uma colaboradora da burocracia sindical (AFL-CIO) e do próprio estado imperialista estadunidense na luta ideológica contra o socialismo. (retornar ao texto)
(23) The New Leader (O Novo Líder) - Revista que circulou de 1924 a 2006 (com uma sobrevida até 2010 em meio digital), tendo sido inicialmente porta-voz de elementos ligados ao Partido Socialista. Posteriormente, pela via do combate ao stalinismo, assumiu uma orientação cada vez mais liberal e anti-socialista. Há um arquivo desta publicação na Universidade de Colúmbia, que contém uma esclarecedora nota introdutória (em inglês) no endereço: http://www.columbia.edu/cu/lweb/archival/collections/ldpd_6912690/index.html (retornar ao texto)
Inclusão | 27/11/2018 |