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A despedida
Depois do triunfo da Revolução, tomei a encontrar-me com o Che em várias ocasiões.
Logo tive notícia de que os soviéticos haviam fundado uma Universidade Internacional e de que um grupo de cubanos ia estudar lá. Apresentei-me à Seção Juvenil do Partido Socialista Popular e, atendendo o meu pedido, o jovem Oscar Fernández Padilla inscreveu-me no grupo de bolsistas.
Cumpri todos os trâmites burocráticos para a viagem e, antes da partida, fui despedir-me do Che, com a intenção de pedir-lhe alguns dólares para as despesas de viagem.
Cheguei ao saguão do Banco Nacional acompanhada de nove bolsistas, dirigi-me a um dos seguranças e perguntei-lhe:
— O Che está?
Respondeu-me que sim. Sem mais formalidades, e para espanto do segurança, caminhei desembaraçadamente até a porta do seu escritório e abri-a. E vi-0 ali, sentado atrás de sua escrivaninha. Exclamei:
— Che!
E Ele respondeu:
— O que é que você quer?
— Venho lhe dizer que ganhei uma bolsa de estudos. Vou para a União Soviética e quero um pouco de dinheiro
Ele ficou ali, contemplando-me com aquele seu olhar tão inteligente. Depois de uma pausa, eu disse:
— Che, na realidade eu quero apenas trocar meus pesos por dólares.
Ele continuou me olhando, e eu acrescentei:
— Porém somos dez. Eles vieram comigo. Estão ai fora.
Então o Che mandou que trocassem trinta pesos cubanos para cada um de nós. Enquanto se processava a operação de câmbio, Ele saiu do seu escritório.
Havia muitas pessoas perto da porta, e todos se acotovelavam para vê-lO; porém Ele, imperturbável, entrou no seu elevador. Momentos depois, para surpresa minha, o elevador voltou, a porta abriu-se, e o Che reapareceu. Então Ele me disse bem baixinho, bem devagar:
— Carmen!...
E acenou com a mão, despedindo-se de mim. Essa é a última recordação que guardo do Comandante.
Maria Merceditas Sánchez Dotres
(“Carmencita ”)
Havana, junho de 1997.