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A Grande Ofensiva
Nos primeiros dias de abril de 1958, o Movimento 26 de Julho programou uma greve geral em todo o país para o dia 9, mas essa greve foi reprimida ferozmente pela ditadura, o que representou um fracasso momentâneo para o movimento clandestino. A repressão nas cidades e nos campos recrudesceu. O alto-comando batistiano, assessorado por especialistas ianques, propôs-se a lançar uma Grande Ofensiva contra o principal baluarte da Sierra Maestra, dirigido diretamente por Fidel. As tropas rebeldes viram-se então obrigadas a defender a faixa de território montanhoso onde estava instalado o Comando-Geral e a emissora Rádio Rebelde.
Num lapso de apenas duas ou três semanas, o inimigo concentrou um efetivo de mais de dez mil homens, organizados em catorze batalhões de combate e sete companhias especiais. Dispunha de farto material bélico: um grande número de peças de artilharia, muitos tanques e outros carros de combate e dezenas de aviões para bombardear e metralhar incessantemente, além de navios de guerra ao largo da costa cubana, que canhoneavam sistematicamente os locais onde supunham estar as forças rebeldes.
Foram 76 dias de luta encarniçada, durante os quais ocorreram 36 combates e seis batalhas de grande envergadura. As baixas nas tropas batistianas elevaram-se a mil homens, dos quais 443 foram capturados.
Durante esses combates, o Exército Rebelde apresou do inimigo 507 canhões, dois tanques de guerra, milhares de projéteis de todos os tipos e muitas bazucas e morteiros, com suas respectivas munições. Todas essas operações de guerra foram dirigidas pessoalmente pelo Comandante en Jefe Fidel Castro, e o Exército Rebelde iniciou o combate com apenas 300 fuzis guerrilheiros! As forças rebeldes registraram apenas 27 mortos e meia centena de feridos.
Poucos dias antes de o exército de Batista iniciar suas operações bélicas, Fidel mandou reagrupar todas as forças rebeldes. Para a zona da Primeira Frente foi convocada a tropa de Camilo Cienfuegos, que então estava operando na planície do Cauto. Reuniram-se as tropas de Crecencio Pérez, Ramiro Valdés e Juan Almeida Bosque, que estava com suas tropas a leste de Turquino e havia fundado a III Frente Oriental, e os guerrilheiros da Coluna 4, comandada pelo Che. Surpreendentemente, os homens da Escola de Recrutas de Minas de Frio passaram-se para o nosso lado e prontificaram-se a combater o inimigo. Mesmo depois que as tropas de Batista se viram derrotadas, o Che perseguiu as forças do coronel Finalés até as planícies de Manzanillo.
Durante a Grande Ofensiva, passei por uma das experiências mais dolorosas de toda a minha vida: assistir a cruenta cirurgia a que o galego Manuel Díaz González foi submetido, sem uma gota de anestésico.
Manuel e seus dois irmãos, todos muito jovens, nasceram na Galícia (província que ocupa o extremo noroeste da Espanha) e haviam se juntado às forças rebeldes. Sempre deram mostras de grande coragem durante os combates. “Pilín”, o menor dos três, quase um menino, já havia morrido num combate anterior. No decorrer da Grande Ofensiva, o exército de Batista estava atacando com artilharia de calibres variados, e os aviões não cessavam de metralhar e bombardear em voos rasantes. Foi quando um obus de morteiro explodiu quase em cima de Manuel, abrindo-lhe as costas. Um de seus pulmões ficou exposto. O Doutor Fenández Mell teve de operá-lo com urgência, em meio ao combate — e a sangue frio, sem nenhuma anestesia. Depois da cirurgia, o médico suturou suas costas com minha agulha de costura e linha comum, de um carretel verde-oliva, com a qual eu às vezes fazia remendos e pregava botões.
Visivelmente para mim, essa operação foi extremamente dolorosa. Mas o galego aguentou até o fim estoicamente. Não emitiu uma só palavra, não soltou um único grito, embora estivesse plenamente consciente. Antes de suturar, o Doutor Femández Mell precisou excisar uma grande porção de tecidos musculares chamuscados pelo obus, com uma tesoura comum!
Já me haviam contado como fora a operação que tiveram de fazer em Joel Iglesias, que recebera vários tiros. Porém essa cirurgia que o Doutor Femández Mell praticou no galego Manuel Díaz também foi muito dramática.
Isso aconteceu ali mesmo, entre as montanhas, próximo a La Califórnia, num lugar conhecido como La Estrella, para os lados do sítio dos Medinas, quando começaram os combates da Grande Ofensiva.
Pouco depois chegaram do Hospital de las Mercedes os médicos “Piti” Fajardo e Sergio del Valle. Estava chegando a esse hospitalzinho uma enxurrada de feridos. Por sorte, dessa vez “Piti” Fajardo trazia um pouco de anestésico na sua mochila.