Che em Sierra Maestra
Depoimento inédito de uma guerrilheira

Merceditas Sánchez Dotres


Fidel e Celia


capa

Já fazia um bom tempo que eu estava no acampamento de La Mesa quando, um dia, enveredei por uma trilha em direção à casa de Polo e Juanita. Era um dia bonito, verde e brilhante, e quando eu estava para cruzar o rio, encontrei-me com o holguinense Delio Gómez, que vinha acompanhado de outros combatentes de Holguín, conhecidos meus. Esse encontro causou-me uma profunda alegria. Esses guerrilheiros faziam parte da Coluna nº 1, a de Fidel.

Passamos algum tempo conversando, e em seguida continuei até à casa de Polo. Lá chegando, vi que ali se encontravam Raúl, Almeida, Ramiro Valdés e outros guerrilheiros.

Juanita apareceu e me disse que não me podia dar atenção, pois estava com visita. Assim sendo, depois de cumprimentar cada um daqueles homens, fui embora para a cabana onde funcionava a escolinha.

Já se haviam passado algumas horas quando, inesperadamente, avistei na vereda, caminhando em direção à escolinha, um homem e uma mulher. De chofre tive a certeza íntima de que eram Fidel e Celia e, sem poder me conter, corri ao seu encontro.

O coração batia forte. Eles pararam, e eu os cumprimentei; primeiro Ele, como é de costume na província de Oriente, e depois ela, e em seguida fiquei em silêncio.

Os dois então começaram a conversar comigo. Interessaram-se por minha pessoa e pediram notícias sobre o movimento revolucionário de Holguín.

Contei-lhes que toda a militância do movimento clandestino estava em Holguín, com exceção dos mortos, dos cinco de nós que havíamos subido a serra e de alguns outros que tinham ido para os Estados Unidos. Disse-lhes que não sabia quem eram os novos chefes clandestinos. Isso eu ignorava.

Fidel perguntou-me como eu tinha me arranjado depois da morte de Angulo, e eu lhe respondi que tinha ficado escondida em duas ou três casas e que na última delas, aquela onde eu passara mais tempo, a residência de Carlos Parga, havia lido La historia me absolverá. Disse-lhe também que meu maior sonho, meu maior desejo, depois que a Revolução triunfasse, era cursar uma universidade.

Recordo-me de que Celia se interessou por meus estudos, e eu disse-lhe que era professora normalista. A certa altura, quando falávamos da clandestinidade, ela me perguntou o que eu sabia ou poderia fazer. Respondi-lhe que qualquer coisa, desde que não fossem tarefas domésticas; que eu não sabia cozinhar, nem costurar, nem bordar, mas que poderia desempenhar outras atividades, como, por exemplo, ser vendedora, atendente ou telefonista; que sabia um pouco de inglês e de francês; e que poderia trabalhar no movimento clandestino de Havana. Ali, eu conhecia algumas pessoas e podia dispor de algum recurso. Poderia também trabalhar outra vez em Holguín ou em qualquer outra cidade, menos em Las Villas, porque lá eu não conhecia ninguém, mas que de Guaimaro até a zona oriental eu conhecia muita gente.

Passamos algum tempo conversando, e depois eles se despediram. Fiquei a observá-los até se perderem na vereda e, com uma emoção imensa dentro do peito, dirigi-me à casa de El cubano libre. Deitei-me na rede cheia de uma imensa felicidade. Eu tinha acabado de falar com Fidel, o nosso grande líder! Eu tinha acabado de conhecer Celia, a excepcional guerrilheira Celia Sánchez, um dos pilares do Movimento 26 de Julho, que depois se transformou na maior colaboradora de Fidel, quando a nossa Revolução triunfou!

Quando Miriam entrou e viu a minha expressão de deslumbramento, perguntou-me o que acontecera.

— Miriam, eu vi Fidel! Falei com Fidel e com Celia!

— Onde!? — perguntou ela, sobressaltada.

Ali, perto da nossa escolinha. Quase agora. Creio que foram para a casa de Polo.

— Então eu vou até lá, para ver se consigo vê-los! — disse, emocionada.

Naquela ocasião, o encontro no nosso acampamento das duas tropas guerrilheiras que constituíam no momento o Exército Rebelde encheu de agitação a minha alma. Naquele dia tive a oportunidade de conhecer alguns e reconhecer outros, enfim, de ver todos os homens que já havia muito tempo eram (e são) a esperança da Pátria e da Liberdade para nós, cubanos.


Inclusão: 30/10/2023