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Tendo em conta a situação particular que os Balcãs ocupam como linha de união entre a Europa e a Ásia, há muito tempo que se tornaram uma arena de luta entre os dois grupos imperialistas europeus, em que um é chefiado pela Inglaterra e o outro pela Alemanha.
Durante dezenas de anos, estes dois grupos esforçaram-se por utilizar a península Balcânica para os seus fins de política imperialista, por colocar os seus capitais e mercadorias, exportar matérias-primas e, principalmente, ter na mão este cómodo corredor entre o Este e o Oeste.
Os diversos Estados balcânicos — a Grécia, a Roménia, a Sérvia (hoje Jugoslávia) e a Bulgária — foram criados no decurso desta luta e sob a sua influência directa. Um após outro, desligaram-se do antigo império otomano feudal, mas, tal como dantes, continuam a representar, sob o ponto de vista económico, uma região comum, apesar das diferenças etnográficas e políticas.
Formalmente independentes, os Estados balcânicos encontram-se ainda, com efeito, tal como no momento do seu aparecimento, inteiramente dependentes do capitalismo europeu, que exerce uma influência decisiva sobre o seu desenvolvimento económico.
Países de pequenas propriedades agrícolas no início, cedo foram arrastados pela marcha da produção capitalista e das suas leis. Com a ajuda do capital europeu (que em 1914 representava quase 60% de todo o capital industrial dos países balcânicos) começou o processo relativamente rápido de industrialização dos países balcânicos. Acontece ainda que o capital europeu, nestes países, admitia apenas a criação de ramos de produção que não pudessem ameaçá-lo em nada, como por exemplo a indústria do açúcar, do tabaco, a exploração dos minerais e da hulha, a do petróleo e toda uma série de outras, directamente ligadas à agricultura e que serviam para a obtenção de matérias-primas e produtos semi-fabricados, indispensáveis à indústria europeia. Um período particularmente típico do desenvolvimento da indústria dos Balcãs é o decénio 1900-1910, durante o qual o número de empresas industriais se viu acrescido nas seguintes proporções: na Bulgária — de 115%, na Roménia — de 100%, na Sérvia — de 90% e na Grécia — de 75%. A guerra Balcânica de 1912-1913 amorteceu este rápido processo de desenvolvimento capitalista dos Balcãs, e a guerra imperialista de 1914-1918 parou-o completamente, trazendo à nova indústria balcânica um golpe duro e irreparável.
A crise económica geral que reina em todo o mundo faz-se sentir com uma acuidade ainda maior nos Balcãs. Fracamente desenvolvidos industrialmente, os países balcânicos são atingidos pelo mal de que sofre todo o capitalismo. A extensão do território da Sérvia e da Roménia, que abrange grandes regiões industriais do antigo império austro-húngaro, nem por isso viu a sua situação melhorada, aliás comum ao resto dos países balcânicos, mas complicou ainda a sua própria, situação tornando-a mais difícil e crítica.
Depois da guerra, milhares de dívidas esmagaram os Estados balcânicos, incapazes de lhes fazerem frente. A sua produção está completamente desorganizada. Verifica-se uma subida de preços e uma desvalorização do dinheiro ainda maiores do que nos países capitalistas. Em comparação com a situação anterior à guerra, o salário real baixou de sessenta para setenta por cento. O desemprego aumenta sem cessar. A exploração do trabalho operário é de dia para dia menos disfarçada. Os capitais acumulados durante a guerra em bancos, sociedades anónimas e por alguns capitalistas, são utilizados sobretudo em especulações com géneros de primeira necessidade, porque este tipo de actividade procura lucros consideráveis e rápidos, à custa das ávidas massas trabalhadoras. Mas isto não constitui mais do que um acréscimo ao marasmo e um aprofundamento da crise económica em curso. Não poderia haver aí esperança em restabelecer, no quadro do antigo sistema capitalista, a economia desorganizada, arruinada, dos países balcânicos.
O movimento sindical nos Balcãs é muito jovem por causa do desenvolvimento tardio do capitalismo. Só existe como movimento de massa há dois decénios.
Os sindicatos dos países balcânicos foram criados no ardor da luta de classe do proletariado contra a burguesia, sob a influência directa e a condução dos partidos socialistas, e foram sempre considerados como órgãos da luta de classe do proletariado pela sua libertação. Desde os primeiros passos, os sindicatos tiveram a possibilidade de se servir da experiência secular do proletariado europeu, de evitar assim um grande número de erros e hesitações que se manifestaram no movimento sindical dos países europeus.
Por outro lado, tomando justamente em consideração o desenvolvimento tardio do capitalismo e a existência de sindicatos colocados sob a influência dos partidos socialistas, não se criou uma aristocracia operária como a aristocracia inglesa e americana, e muito menos pôde ser criada uma burocracia sindical conservadora e reaccionária, como se encontra nas antigas uniões sindicais da Europa e da América, e que traz um tão incomensurável prejuízo à causa revolucionária do proletariado.
É igualmente o que explica a realidade de todas as tentativas de criar sindicatos amarelos nos países balcânicos não terem tido qualquer sucesso, porque todo o movimento sindical é aí um factor na luta de classe do proletariado, e também, repito-o, o facto de que os sindicatos balcânicos estão ideológica e organizativamente ligados aos partidos proletários e aceitam a sua direcção política. O que também pode servir de explicação para a situação real do anarquismo e do sindicalismo estreito não encontrarem nenhum terreno sério entre as massas operárias balcânicas.
Graças à longa luta intransigente contra o oportunismo e outras tendências semelhantes no movimento operário — luta começada muito cedo e levada com grande perseverança, com início na Bulgária e mais tarde igualmente nos outros países balcânicos — o movimento sindical dos Balcãs une hoje as largas massas proletárias em nome do aniquilamento do capitalismo e da ditadura do proletariado. Liquidou os últimos restos de sindicatos amarelos e neutros e tornou-se num movimento unido sob a conduta política dos Partidos Comunistas.
Não existem na Bulgária organizações sindicais sob influências estranhas à ideologia da classe operária. Todo o proletariado organizado sindicalmente está unificado e caminha sob a direcção experimentada do Partido Comunista Búlgaro.
Na Jugoslávia, os social-patriotas, que se tinham instalado nas organizações sindicais, na Croácia e na Eslovénia, sofrem agora derrota atrás de derrota, e o processo de organização do movimento sindical numa única União Geral dos Sindicatos, unida sob a condução do Partido Comunista Jugoslavo, chega ao fim.
Na Roménia, os sindicatos, nas suas aspirações revolucionárias, foram muito mais longe do que o antigo e reticente partido socialista, e estão agora firmemente ligados ao Partido Comunista, recentemente criado.
Na Grécia, a União Geral dos Sindicatos, a única organização sindical importante do proletariado, caminha sob a bandeira do Partido Comunista, e os sindicatos amarelos que a burguesia utilizava para os seus fins políticos, desagregaram-se definitivamente — todos os elementos proletários sãos passam rapidamente para as fileiras da União Geral dos Sindicatos.
Hoje, existe nos Balcãs um exército de operários sindicalizados que conta cerca de quatro centos e cinquenta mil homens, exército que aumenta todos os dias, e que se pode afirmar que não é um obstáculo para a causa da revolução proletária internacional, mas sim que combate nas suas primeiras filas, compreendendo que na nossa época os sindicatos têm apenas um dever: o de lutar pela ditadura do proletariado, pelo seu estabelecimento, pela sua consolidação e sobretudo para chegar ao comunismo.
Inclusão | 29/01/2015 |