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Camaradas: Na luta pelo estabelecimento da frente única cresce de um modo extraordinário o papei dirigente dos Partidos Comunistas. Apenas o Partido Comunista é na realidade o iniciador, o organizador, a força motriz da frente única da classe operária.
Os Partidos Comunistas só podem assegurar a mobilização das amplas massas trabalhadoras para lutar unidas contra o fascismo e a ofensiva do capital, se fortalecerem suas próprias fileiras em todos os aspectos, se desenvolverem sua iniciativa, se levarem a cabo uma política marxista-leninista e uma tática adequada e flexível, que não esqueça a situação concreta e a distribuição das forças da classe.
No período decorrido entre o VI e o VII Congressos, nossos partidos dos países capitalistas cresceram sem dúvida alguma e se temperaram consideravelmente. Mas seria um erro extremamente perigoso ficarmos satisfeitos com isto. Quanto mais se estender a frente única da classe operária, mais tarefas novas e complicadas se nos apresentarão, mais teremos que trabalhar pelo fortalecimento politico e orgânico de nossos partidos. A frente única do proletariado faz brotar um exército de operários que só poderão cumprir sua missão se tiverem à sua frente uma força dirigente que lhes indique seus objetivos e seus caminhos. Só um forte partido proletário revolucionário pode ser esta força dirigente.
Quando nós, os comunistas, fazemos todos os esforços por estabelecer a frente única, não o fazemos do ponto de vista mesquinho do recrutamento de novos membros para os Partidos Comunistas. Mas justamente porque queremos fortalecer seriamente a frente única devemos fortalecer também em todos os aspectos os Partidos Comunistas e aumentar seus efetivos. O fortalecimento dos Partidos Comunistas não representa uma interesse fechado de partido, senão um interesse de toda a classe operária.
A unidade, a coesão revolucionária e a presteza combativa dos Partidos Comunistas é o mais precioso capital, que não nos pertence somente a nós, mas a toda classe operária. Associamos e continuaremos associando a presteza para nos lançar à luta contra o fascismo, conjuntamente com os Partidos e organizações social-democratas, com a luta irreconciliável contra o social-democratismo como ideologia e também, por conseguinte, contra toda penetração desta ideologia em nossas próprias fileiras.
Na realização decidida e audaz da politica da frente única, encontramos em nossas próprias fileiras obstáculos que temos que vencer, custe o que custar, no menor prazo possível.
Depois do VI Congresso da Internacional Comunista, levou-se a cabo em todos os Partidos Comunistas dos países capitalistas uma luta tenaz contra a tendência a adaptar-se oportunisticamente às condições da estabilização capitalista e contra o contágio com as ilusões reformistas e legalistas. Nossos Partidos limparam suas fileiras de toda espécie de oportunistas de direita e com isso firmaram sua unidade bolchevique e sua capacidade combativa. Com menos êxito se travou, e às vezes não se travou de nenhum modo, a luta contra o sectarismo. O sectarismo não se manifestava em formas primitivas e descaradas, como nos primeiros anos de existência da internacional Comunista, e sim disfarçando-se com o reconhecimento formalista das teses bolcheviques, freava o desenvolvimento da política bolchevique de massas. Em nossos tempos o sectarismo não costuma ser uma «enfermidade infantil», como a qualificou Lenin, mas um vício multo enraizado, e, sem nos curarmos dele, não poderemos resolver o problema de criar uma frente única proletária e levar as massas das posições do reformismo para a revolução.
Na situação atual o sectarismo, esse sectarismo enfatuado, como o qualificamos em nosso projeto de resolução, entorpece, antes de tudo, nossa luta pela realização dá frente única; sectarismo satisfeito de sua estreiteza doutrinária e de seu alheiamento da vida real das massas; satisfeito de seus métodos simplistas para resolver os problemas mais complicados do movimento operário sobre a base de esquemas cortados por um padrão; sectarismo que pretende saber tudo, e não julga necessário aprender na escola das massas as lições do movimento operário; em uma palavra, esse sectarismo, para o qual, como costuma dizer-se, tudo é brinquedo de crianças. O sectarismo enfatuado não quer nem pode compreender que colocar a classe operária sob a direção do Partido Comunista é coisa que não se consegue automaticamente. O papel dirigente do Partido Comunista nas lutas da classe operária precisa ser conquistado. Para isto, não é necessário proclamar o papei dirigente dos comunistas, senão que é preciso merecer, ganhar, conquistar a confiança das massas operárias com um trabalho cotidiano de massas e uma politica acertada. Isto só se consegue se nós os comunistas, em nosso trabalho político, levamos seriamente em conta o verdadeiro nível da consciência de classe das massas, seu grau de saturação revolucionária, se apreciamos serenamente a situação concreta, não através de nossos desejos, senão através da realidade. Temos que facilitar às amplas massas, pacientemente, passo a passo, a transição para as posições do comunismo. Não devemos esquecer jamais as palavras de Lenin, que nos advertiu com toda energia que «... se trata precisamente de não considerar liquidado para a classe, para as massas, o que está liquidado para nós».(1)
Acaso agora, camaradas, há ainda em nossas fileiras poucos doutrinários que na política de frente única só percebem, sempre e em toda parte, os perigos? Para esses camaradas, toda frente única constitui um perigo rotundo. Mas esta «firmeza de princípios» sectária, é apenas o transtorno político ante as dificuldades da direção imediata da luta de classes.
O sectarismo se manifesta especialmente na apreciação exagerada da maturidade revolucionária das massas, na apreciação exagerada do ritmo com que se afastam das posições do reformismo, na tentativa de saltar as etapas difíceis e os problemas complicados do movimento. Os métodos de direção das massas se substituem frequentemente na prática pelos métodos de direção de um grupo fechado de partido. Não se apreciava devidamente a força, dos laços tradicionais entre as massas e suas organizações e direções, a quando as massas não rompiam rapidamente estes laços, adotava-se diante delas uma atitude tão brusca como frente a seus dirigentes reacionários. A tática e as palavras de ordem se convertiam num «padrão» válido para todos os países, e não se levavam em conta as características da situação concreta em cada país determinada. Passava-se por alto a necessidade de desenvolver no seio da própria massa uma luta tenaz para ganhar sua confiança, descuidava-se a luta pelas reivindicações parciais dos operários e o trabalho dentro dos sindicatos reformistas e das organizações fascistas de massas. Suplantava-se frequentemente a política da frente única, por simples apelos e pela propaganda abstrata.
As atitudes sectárias entorpeciam também a seleção acertada dos homens, a educação e formação de quadros relacionados com as massas, que gozassem da confiança destas, de quadros, com consequência revolucionária e provados nas lutas de classe que soubessem associar à experiência prática de trabalho de massas a firmeza de princípios do bolchevique.
Desse modo, o sectarismo atrasou consideravelmente o crescimento dos Partidos Comunistas dificultou a aplicação de uma autêntica política de massas, entorpeceu a exploração das dificuldades do inimigo de classe para fortificar as posições do movimento revolucionário, impediu a conquista das amplas massas proletárias para os Partidos Comunistas.
Lutando do modo mais resoluto por extirpar e superar os últimos vestígios do sectarismo enfatuado, temos que fortalecer por todos os meios nossa atenção vigilante e nossa luta contra o oportunismo de direita e contra todas as manifestações concretas, não esquecendo que o perigo deste oportunismo crescerá à medida que se for desenvolvendo uma ampla frente única. Já existem tendências para reduzir o papel do Partido Comunista nas fileiras da frente única e reconciliar-se com a ideologia social-democrata. (Não se deve perder de vista que a tática da frente única é um método para persuadir praticamente os operários social-democratas da justeza da política comunista e da falsidade da política reformista, e não uma reconciliação com a ideologia e a prática social-democratas. A luta eficaz por estabelecer a frente única exige de nós ineludivelmente uma luta constante dentro de nossas próprias fileiras contra a tendência para reduzir o papel do Partido, contra as ilusões legalistas, contra a orientação para o espontaneismo e o automatismo, no que diz respeito à liquidação do fascismo, como no que se refere à consecução da frente única, contra as menores vacilações, chegado o momento da atuação resoluta.
Camaradas: O desenvolvimento da frente única de luta conjunta dos operários comunistas e social-democratas contra o fascismo e a ofensiva do capital, levanta também o problema da unidade política, do partido político único de massas da classe operária. Os operários social-democratas se vão convencendo cada vez mais, por experiência, de que a luta contra o inimigo de classe exige uma direção política única, pois a dualidade de direção dificulta o desenvolvimento e fortalecimento da luta em comum da classe operária.
Os interesses da luta de classes do proletariado e o êxito da revolução proletária, impõem a necessidade de que exista em cada país um partido único do proletariado. Consegui-lo não é, naturalmente, tão fácil e simples. Exige um trabalho e uma luta tenazes e tornará necessário um processo mais ou menos longo. Os Partidos Comunistas, apoiando-se na crescente inclinação dos operários para a unificação dos partidos social-democratas, ou de algumas de suas organizações, com os Partidos Comunistas, devem tomar em suas mãos com segurança e firmeza a iniciativa desta unificação. A causa da unificação das forças da classe operária num partido proletário revolucionário único, nestes momentos em que o movimento operário internacional entra no período de liquidar a cisão, é nossa causa, é a causa da Internacional Comunista.
Mas se, para estabelecer a frente única dos Partidos Comunistas e Social-democrata, basta chegar a um acordo sobre a luta contra o fascismo, contra a ofensiva do capital e contra a guerra, a criação da unidade política só é possível sobre a base de uma série de condições concretas que tem um caráter de princípio.
Esta unificação só será possível:
Temos que esclarecer os operários social-democratas com paciência e camaradagem, porque a unidade política da classe operária é irrealizável sem estas condições. Com eles devemos julgar o sentido e a importância destas condições.
Por que, para a realização da unidade política do proletariado, é necessário emancipar-se completamente da burguesia e romper o bloco da social-democracia com a burguesia?
Porque toda a experiência do movimento operário, e em particular a experiência dos quinze anos de política de coalizão na Alemanha, pôs em relevo que a política de colaboração de classes, a política de submissão à burguesia, conduz à derrota da classe operária e à vitória do fascismo. E o caminho da luta irreconciliável de classes contra a burguesia, o caminho dos bolcheviques, é o único caminho seguro para o triunfo.
Por que estabelecer previamente a unidade de ação há de ser a premissa da unidade política?
Porque a unidade de ação para repelir a ofensiva do capital e do fascismo pode e deve conseguir se antes de se unificar a maioria dos operários sobre a plataforma comum da destruição do capitalismo; para chegar à unidade de ideias a respeito das mudanças e dos objetivos fundamentais da luta do proletariado, sem a qual não se poderia unificar os partidos, é preciso, por sua vez, um prazo de tempo mais ou menos longo. E o melhor para chegar à unidade de ideias; criá-la na luta conjunta contra o fascismo hoje mesmo. Propor em vez da frente única a unificação imediata equivale a querer pôr o carro adiante dos bois e julgar que deste modo o carro andará (Risos). Precisamente porque o problema da unidade política não é para nós uma manobra, como é para muitos chefes social-democratas, insistimos em que se realize a unidade de ação, como uma das etapas mais importantes na luta pela unidade politica.
Por que é necessário reconhecer a destruição revolucionária da burguesia e a instauração da ditadura do proletariado sob a forma do Poder soviético?
Porque a experiência do triunfo da grande revolução russa de Outubro, de um lado, e, de outro, os amargos ensinamentos da Alemanha, Áustria e Espanha, durante todo o período do após-guerra, provaram uma vez mais que o triunfo do proletariado só é possível mediante a destruição revolucionária da burguesia, e que a burguesia, antes de permitir que o proletariado instaure o socialismo por via pacífica, afogará o movimento operário num mar de sangue. A experiência da Revolução de Outubro demonstrou com toda evidência que o conteúdo básico da revolução proletária é o problema da ditadura do proletariado, cuja missão é esmagar a resistência dos exploradores vencidos, armar a revolução para a luta contra o imperialismo e conduzi-la até o triunfo completo do socialismo. Para realizar a ditadura do proletariado como ditadura da esmagadora maioria sobre uma minoria insignificante, sobre os exploradores — e unicamente assim se realizar — são necessários os Soviets, que abrangem todas as camadas da classe operária, as grandes massas camponesas e demais trabalhadores, sem cujo despertar e incorporação à frente da luta revolucionária será impossível assegurar o triunfo do proletariado.
Por que a negação de apoio à burguesia numa guerra imperialista é condição para estabelecer a unidade política?
Porque a burguesia faz a guerra imperialista para alcançar seus objetivos rapaces contra os interesses da maioria esmagadora dos povos, qualquer que seja o pretexto sob o qual se faça a guerra. Porque todos os imperialistas, ao mesmo tempo que se armam febrilmente para a guerra, reforçam até o último limite a exploração e a opressão dos trabalhadores dentro de seus próprios países. Apoiar a burguesia em semelhante guerra significaria trair os interesses do país e da classe operária internacional.
Finalmente, por que erigir o Partido sobre a base do centralismo democrático é condição para a unidade?
Porque somente um partido estabelecido na base do centralismo democrático pode assegurar a unidade de vontade e de ação e levar o proletariado ao triunfo sobre a burguesia, que dispõe de uma arma poderosa como o aparelho centralizado. A aplicação do princípio do centralismo democrático, sofreu uma brilhante prova histórica na experiência do Partido Bolchevique russo, o Partido de Lenin.
Eis aí porque é necessário esforçar-se para conseguir a unidade política sobre a base das condições apontadas.
Somos partidários da unidade política da classe operária. Por isso estamos dispostos a colaborar do modo mais estreito com todos os social-democratas que sejam partidários da frente única e que apoiem sinceramente a unificação, de acordo com os princípios mencionados. Mas precisamente por isso, porque somos partidários da unificação, lutaremos decididamente contra todos os demagogos de «esquerda» que tentam explorar a desilusão dos operários social-democratas para criar novos partidos ou internacionais socialistas dirigidas contra o movimento comunista e que agravam portanto a cisão da classe operária.
Saudamos a tendência crescente dos operários social-democratas para a frente única com os comunistas. Vemos neste fato o aumento de sua consciência revolucionária e um sinal de que se começa a superar a cisão da classe operária. Considerando que a unidade de ação é uma necessidade urgente e o caminho mais seguro para a criação da unidade política do proletariado, declaramos que a internacional Comunista e suas Seções estão dispostas a entrar em negociações com a Segunda Internacional e suas respectivas Seções sobre a criação da unidade da classe operária na luta contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e contra a ameaça de uma guerra imperialista.
Notas de rodapé:
(1) Lenin: «A doença infantil do esquerdismo no comunismo». (retornar ao texto)