Sobre os Quadros

Georgi Mikhailovich Dimitrov

13 de Agosto de 1935


Primeira edição: discurso de resumo ante o VII Congresso da Internacional Comunista, pronunciado em 13 de agosto de 1935. (Jorge Dimitrov: Pela unidade da classe operária contra o fascismo)
Fonte: Polo Comunista Luiz Carlos Prestes
Tradução: Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes (CCLCP)
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.

Camaradas: Nossos acordos, inclusive os mais justos, permanecerão no papel, se não tivermos homens capazes de levá-lo para a prática. E aqui não tenho outro remédio senão dizer, desgraçadamente, que um dos problemas mais importantes, o problema dos quadros, passou quase despercebido em nosso Congresso.

Em torno do informe do Comitê Executivo da Internacional Comunista, discutido durante sete dias, falaram numerosos oradores de diversos países e somente um ou outro se deteve de passagem sobre esse problema extraordinariamente essencial para os Partidos Comunistas e o movimento operário. Em sua atuação prática, nossos Partidos estão ainda muito distantes de ter consciência de que os homens, os quadros, decidem tudo.

A atitude de desprezo diante do problema dos quadros é tão inadmissível, quanto que percamos constantemente na luta uma parte de nossos quadros mais valiosos. Pois não somos uma sociedade científica, mas sim um movimento combativo, que está constantemente na linha de fogo. Nossos elementos mais enérgicos, mais audazes e conscientes lutam na primeira fileira. O inimigo se nutre especialmente deles, da vanguarda, os assassina, os joga nas prisões e campos de concentração, os submete a torturas horríveis, especialmente nos países fascistas. Isso intensifica, de um modo particular, a necessidade de completar, de formar e de educar constantemente novos quadros.

O problema dos quadros adquire também uma agudez especial por outra razão: porque sob nossa influência se desenvolve o movimento de massas da frente única, do qual se destacam muitos milhares de novos ativistas proletários. Ademais, às fileiras de nossos Partidos afluem não só elementos revolucionários jovens, operários que se vão revolucionarizando e que jamais haviam tomado parte até agora no movimento político. Também vêm a nós, frequentemente, antigos membros e ativistas dos partidos socialdemocratas. Estes novos quadros exigem uma atenção especial, sobretudo nos Partidos ilegais, tanto mais na medida em que esses quadros, pouco preparados teoricamente, enfrentam em seu trabalho prático problemas políticos mais sérios e que eles mesmos têm que resolver.

O problema de uma política justa de quadros é a questão mais atual para nossos partidos, para a Juventude Comunista e para todas as organizações de massas, para todo o movimento operário revolucionário.

 Em que se apoia uma política justa de quadros?

Em primeiro lugaré necessário conhecer os homens. Em nossos Partidos, como regra geral, não há um estudo sistemático dos quadros. Somente nos últimos tempos, os Partidos Comunistas da França e Polônia e, no Oriente, o Partido Comunista da China, conseguiram determinados êxitos neste terreno. O Partido Comunista da Alemanha empreendeu também, a seu tempo, antes de passar a ilegalidade, o trabalho de estudar os quadros. E a experiência desses Partidos mostrou que apenas começaram a estudar os homens, descobriram militantes que antes haviam passado despercebidos e, por outro lado, os Partidos começaram a depurar-se de elementos estranhos e nocivos, política e ideologicamente. Basta assinalar o exemplo de Celor e Barbé, na França, que, ao serem examinados pelo microscópio bolchevique, se mostraram ser agentes do inimigo e foram afastados das fileiras do Partido. Na Hungria, a revisão dos quadros facilitou o descobrimentos de núcleos de agentes provocadores do inimigo, cuidadosamente mascarados.

Em segundo lugaré necessário promover acertadamente os quadros. A promoção de quadros não deve ser um assunto casual, mas sim uma das funções normais dos Partidos. É um mal sistema que as promoções se efetuem inspirando-se exclusivamente em razões muito internas de partido, sem ter em conta se o camarada designado para um cargo tem relações com as massas. A promoções deverão efetuar-se sobre a base de levar em conta a aptidão do militante para cumprir uma ou outra função do Partido e da popularidade entre as massas dos quadros eleitos. Em nossos partidos temos exemplos de promoções que têm dado resultados excelentes. Na presidência de nosso Congresso, por exemplo, está a comunista espanhola, a camarada Dolores. Faz dois anos, todavia, que trabalhava na base. No primeiro choque com o inimigo de classe se revelou como uma excelente agitadora e lutadora. Promovida logo à direção do Partido, se mostrou como um membro muito digno dela. (Aplausos).

Poderia assinalar, também, uma série de casos análogos tomados de outros países. Mas na maior parte deles a promoção de quadros se efetua sem organização, ao azar, e por tanto nem sempre com acerto. As vezes se eleva à direção moralistas, fraseólogos, charlatões que prejudicam diretamente nossa causa.

Em terceiro lugaré necessário saber aproveitar os quadros. É preciso saber descobrir e utilizar as valiosas qualidades de cada ativista. Homens ideais não existem: é preciso tomá-los como são, corrigindo seus lados fracos e seus defeitos. Conhecemos em nossos Partidos exemplos escandalosos de má utilização de comunistas bons e honrados, que dariam grande proveito, se lhes fossem designados trabalhos mais consoantes com eles.

Em quarto lugaré necessário distribuir acertadamente os quadros. Ante tudo, é necessário fazer com que nos elos fundamentais do movimento se encontrem homens enérgicos, em contato com as massas, saídos de suas entranhas, homens firmes e com iniciativas; que nos grandes centros haja uma quantidade adequada de militantes desse tipo. Nos países capitalistas, a transferência de quadros de um lugar para outro não é coisa fácil. Este problema tropeça com toda uma série de obstáculos e dificuldades, entre outros, com problemas de ordem material, familiar, etc.; dificuldades que é preciso levar em conta e resolver de modo adequado, coisa que nem sempre, nem muito menos, fazemos.

Em quinto lugaré necessário prestar uma ajuda sistemática aos quadros, que deve consistir em instruções detalhadas, controle com espírito de camaradagem, e correção de seus defeitos e erros, no trabalho de direção concreto e cotidiano.

Em sexto lugaré necessário zelar pela conservação dos quadros. É necessário saber retirar a tempo os quadros para a retaguarda, substituindo-os por outros novos, se assim pedem as circunstâncias. Devemos exigir, sobretudo aos partidos ilegais, a mais estrita responsabilidade por parte da direção no que toca à conservação dos quadros. (Aplausos). A acertada preservação dos quadros pressupõe, também, a mais séria organização do trabalho conspirativo dentro do Partido. Em alguns de nossos Partidos muitos camaradas creem que os Partidos já estão preparados para passar para a clandestinidade pelo fato de terem sido reconstruídos de um modo meramente esquemático e formal.Tivemos que pagar muito caro pelo erro de que a verdadeira reconstrução não começasse senão até depois de passar à ilegalidade, sob a ação direta dos duros golpes do inimigo. Recordemos o que custou ao Partido Comunista da Alemanha a passagem à clandestinidade. Essa experiência deve servir de lição séria àqueles nossos Partidos que hoje são legais, mas que todavia amanhã podem passar à clandestinidade.

Só uma justa política de quadros dará a nossos partidos a possibilidade de desenvolver e utilizar até o máximo as forças dos quadros existentes e absorver do inesgotável manancial do movimento de massas novos e melhores elementos.

 Que critérios fundamentais devem nos guiar na seleção dos quadros?

Primeiroa mais profunda fidelidade a causa operária e ao Partido, provada na luta, nas prisões, diante dos tribunais, frente ao inimigo de classe.

Segundo: a mais íntima vinculação com as massas: viver para os interesses das massas, pulsar junto com as massas, com seus estado de espírito e seus anseios. A autoridade dos dirigentes de nossas organizações do Partido deve basear-se, sobretudo, no fato de que as massas veem neles seus dirigentes, se convençam por sua própria experiência de sua capacidade de dirigentes, de sua decisão e abnegação na luta.

Terceirosaber orientar-se por si mesmo nas situações e não ter medo da responsabilidade por suas decisões. Não é dirigente quem teme assumir uma responsabilidade. Não é bolchevique quem não sabe demonstrar iniciativa, quem diz: "Eu me limito a fazer o que me mandam". Só é um verdadeiro dirigente bolchevique aquele que não perde a cabeça na hora da derrota, nem se ensoberbece no momento do triunfo e demonstra uma firmeza incomovível na aplicação das decisões adotadas. Os quadros se desenvolvem e crescem quando lhes é colocada a necessidade de resolver por sua própria conta os problemas concretos da luta e assumem sobre si a responsabilidade que isso supõe.

Quartodisciplina e temperamento bolchevique, o mesmo para lutar contra o inimigo de classe, como para combater inflexivelmente todos os desvios da linha do bolchevismo.

Devemos, camaradas, destacar ainda com maior energia a necessidade de estas condições para uma seleção acertada de quadros, porque, na prática, se dá muito frequentemente o caso de se preferir um camarada que sabe, por exemplo, escrever com facilidade e falar muito bem, mas que não é homem de ação e que não serve para a luta, a outro, que talvez não escreva, nem discurse tão bem, mas que é, por outro lado, um homem firme, de iniciativa, compenetrado com as massas, capaz de lutar e conduzi-las à luta. (Aplausos) São poucos os casos em que um sectário, um doutrinário, um moralista, substitui um homem abnegado, que conhece bem o trabalho entre as massas, um autêntico dirigente operário?

Nosso quadros dirigentes devem associar o conhecimento do que é preciso fazer à resistência enérgica, revolucionária e bolchevique, e força para levá-lo à prática.

A propósito do problema dos quadros, permitam-me camaradas, deter-me também no formidável papel que está chamado a desempenhar o Socorro Vermelho Internacional(1) na relação com os quadros do movimento operário. A ajuda material e moral que as organizações do S.V.I. prestam aos presos e suas famílias, aos emigrados políticos e aos revolucionários e antifascistas perseguidos tem salvado a vida e tem conservado as forças e a capacidade combativa de milhares e milhares de valiosíssimos lutadores da classe operária, em diversos países. Nós que estivemos presos conhecemos por experiência própria a grande importância da atividade do S.V.I. (Aplausos).

O S.V.I. soube conquistar com sua atuação o amor, a simpatia e a profunda gratidão de centenas de milhares de proletários, de camponeses e intelectuais revolucionários.

Sob as atuais condições, sob as condições da reação burguesa crescente, dos furiosos ataques do fascismo, da agudização da luta de classes, o papel do S. V.I cresce extraordinariamente. Diante do S.V.I. se coloca, agora, a tarefa de transformar-se em uma autêntica organização de massas dos trabalhadores, em todos os países capitalistas (e, particularmente, nos países fascistas, adaptando-se às condições especiais destes). Deve chegar a ser, por assim dizer, a "Cruz Vermelha" da frente única proletária e da frente popular antifascista, abarcando milhões de trabalhadores, a "Cruz Vermelha" do exército das classes trabalhadoras, que lutam contra o fascismo, pela paz e pelo socialismo. Para poder desempenhar com êxito este papel, o S.V.I. deve contar com milhares de ativistas próprios, numerosos quadros, quadros do S.V.I., que respondam por seu caráter e por sua capacidade à missão especial que está reservada a esta organização tão importante.

E aqui temos que dizer do modo mais enérgico e categórico: se o burocratismo, a atitude seca e egoísta diante dos homens, é sempre abominável, no movimento operário, nas atividades do S.V.I., é um mal que beira o crime (Aplausos). Os lutadores da classe operária, as vítimas da reação e do fascismo, os que sofrem nos calabouços e nos campos de concentração, os emigrados políticos e suas famílias, devem encontrar nas organizações e nos funcionários do S.V.I. a acolhida mais atenta e mais afetuosa. (Aplausos prolongados). O S.V.I. deve compreender e cumprir todavia melhor seu dever no tocante à ajuda que deve prestar aos lutadores do movimento proletário e antifascista e, em particular, no que se refere a conservação física e moral dos quadros do movimento operário. E os comunistas e operários revolucionários que militam nas organizações do S.V.I. devem sentir em cada um de seus passos sua enorme responsabilidade diante da classe operária e diante da Internacional Comunista, que confia neles para o cumprimento eficaz da missão e das tarefas do S.V.I. (Aplausos).

Camaradas: Como é sabido, a melhor educação dos quadros é a que se adquire no transcurso da luta mesma, vencendo as dificuldades e as provas, mas também a partir dos exemplos de conduta positivos e negativos. Temos centenas de exemplos de um comportamento modelo nos tempos de greve, em manifestações, nas prisões, nos processos. Temos milhares de heróis, mas, por desgraça, também registramos não poucos casos de covardia, de instabilidade e até de deserção. E muitos esquecem, frequentemente, uns exemplos e outros, não aproveitam sua força educadora, não dizem o que é que se tem que imitar e o que é que se tem que rechaçar. É preciso estudar a conduta dos camaradas e dos militantes operários, nas prisões e nos campos de concentração, diante dos tribunais, etc. Disso é preciso retirar o positivo, é preciso assinalar os exemplos dignos de serem imitados e rechaçar o podre, o não bolchevique, o filisteu. Depois do processo de Leipzig, temos uma série de atuações de nossos camaradas diante dos tribunais burgueses fascistas que demonstram que em nosso campo crescem numerosos quadros que compreendem perfeitamente o que significa comportar-se como bolchevique diante dos tribunais.

Mas, quantos de vocês – delegados do Congresso – conhecem em detalhe o processo dos ferroviários da Romênia, o processo de Fiede Schulze, decapitado pelos fascistas na Alemanha, o processo do valente camarada Itzikava no Japão, o processo dos soldados revolucionários búlgaros e tantos outros, nos quais se mostraram exemplos digníssimos de heroísmo proletário? (Todos em pé aplaudem com ímpeto).

É preciso popularizar estes exemplos digníssimos de heroísmo proletário, colocando-os de manifesto para contrastar com a covardia, o filisteísmo e tudo o que seja podridão e debilidade dentro de nossas fileiras e nas fileiras da classe operária. É preciso utilizar amplamente estes exemplos para educar os quadros do movimento operário.

Camaradas: Os dirigentes de nossos partidos se queixam frequentemente de que não há gente, de que escasseiam as pessoas para o trabalho de agitação e propaganda, de que escasseiam as pessoas para os jornais, de que escasseiam as pessoas para os sindicatos, de que escasseiam as pessoas para trabalhar entre os jovens, entre as mulheres. Escasseiam, escasseiam as pessoas. A isto queremos contestar com as velhas e sempre novas palavras de Lênin:

“Há falta de homens embora os homens existam em grande quantidade. Os homens existem em grande quantidade porque a classe operária e camadas cada vez mais variadas da sociedade fornecem, a cada ano, um número sempre maior de descontentes, desejosos de protestar, prontos a cooperar de acordo com suas forças na luta contra o absolutismo, cujo caráter intolerável ainda não foi reconhecido por todo o mundo, mas é cada vez mais vivamente sentido por uma massa cada vez maior. E, ao mesmo tempo, há falta de homens, porque não há dirigentes, chefes políticos, organizadores capacitados para realizar um trabalho simultaneamente amplo, coordenado e harmonioso, que permita utilizar todas as forças, mesmo as mais insignificantes.”(2)

É necessário que estas palavras de Lênin sejam profundamente assimiladas e que se apliquem por nossos Partidos como norma diretiva cotidiana. Homens há muitos; é preciso saber descobri-los dentro de nossas próprias organizações, em tempos de greves e manifestações, nas diversas organizações operárias de massas, nos órgãos de frente única; é preciso ajudá-los a formarem-se no processo de trabalho e de luta, é preciso colocá-los em uma situação que lhes permita contribuir realmente com a causa operária.

Camaradas: os comunistas somos homens de ação. Diante de nós se coloca a tarefa da luta prática contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a ameaça da guerra imperialista, a luta pela derrubada do capitalismo. E, precisamente, esta tarefa prática coloca aos quadros comunistas a exigência de equiparem-se obrigatoriamente com a teoria revolucionária, pois a teoria dá aos militantes práticos o poder da orientação, claridade de perspectiva, segurança no trabalho e fé no triunfo de nossa causa.

Mas, a autêntica teoria revolucionária é inimiga irreconciliável de todo teoricismo castrado, de todo jogo estéril com definições abstratas. "Nossa teoria não é um dogma, mas sim um guia para a ação", disse mais de uma vez LêninEsta é a teoria que necessitam nossos quadros como o pão de cada dia, como o ar, como a água.

Quem verdadeiramente deseja livrar nosso trabalho do esquematismo morto, do funesto escolaticismo, deve extirpá-los com as massas e da cabeça das massas e trabalhar infatigavelmente para assimilar a poderosa, fecunda, onipotente teoria bolchevique, a doutrina de Marx, Engels, Lênin. (Aplausos).

Em relação a isso, considero particularmente necessário fixar nossa atenção no trabalho de nossas escolas do Partido. Não são pedantes, moralistas, nem mestres em fazer citações que têm que preparar nossas escolas. Não! De dentro de seus muros devem sair lutadores práticos de primeira fileira pela causa da classe operária. Lutadores de primeira fileira não só por sua audácia, por sua abnegação, mas também porque saibam ver mais longe, porque conheçam melhor do que o operário raso o caminho que conduz à emancipação dos trabalhadores. Todas as seções da Internacional Comunista devem, sem gritar o assunto em ouvidos surdos, ocuparem-se de organizar seriamente escolas do Partido, fazendo delas as forjas de onde devem sair quadros de lutadores.

A missão fundamental de nossas escolas de Partido residem, a meu juízo, em ensinar aos membros do Partido e da Juventude Comunista, que estudam nelas, a aplicação do método marxista-leninista à situação concreta de cada país, às condições dadas, a lutar, não contra o inimigo "em geral", mas sim contra o inimigo concreto, dado. Para isso, é preciso aprender não apenas a letra do leninismo, mas sim seu espírito vivo, revolucionário.

De dois modos se podem preparar os quadros em nossas escolas do Partido.

Primeiro: preparar os homens de um modo abstrato-teórico, esforçando-se por dar-lhes a maior quantidade possível de conhecimentos, instruindo-lhes na arte de redatar literariamente teses e resoluções e tocando somente de passagem nos problemas do país em questão, seu movimento operário, a história, as tradições e a experiência do Partido Comunista de que se trate. Somente de passagem!

Segundo: a aprendizagem teórica, na qual a assimilação dos princípios fundamentais do marxismo-leninismo se baseia no estudo prático pelos alunos dos problemas centrais da luta do proletariado em seu próprio país, para que, ao incorporar-se de novo no trabalho prático, saibam orientar-se por si próprios, possam converter-se em organizadores e dirigentes práticos, que marchem por sua própria conta e sejam capazes de conduzir as massas à batalha contra o inimigo de classe.

Não todos os que passam por nossas escolas do Partido têm se revelado aptos. Muitas frases, abstrações, formação livresca, erudição artificial. E o que necessitamos são organizadores e dirigentes verdadeiros de massas, autenticamente bolcheviques. Precisamos urgentemente, para hoje. Ainda que um aluno não esteja em condições de escrever boas teses, que pese que isto é muito necessário, o importante é que saiba organizar e dirigir, não se assustando com as dificuldades e sabendo vencê-las.

A teoria revolucionária é a experiência condensada, generalizada, do movimento revolucionário; os comunistas devem utilizar cuidadosamente em seus países não somente a experiência das lutas passadas, mas também a das lutas atuais de outros destacamentos do movimento operário internacional. Mas, utilizar acertadamente esta experiência não significa, de modo algum, transplantar mecanicamente, de forma acabada, as formas e os métodos de luta de umas condições a outras, de um país a outro, como se faz frequentemente em nossos Partidos. A imitação nua, o limitar-se a copiar os métodos e as formas de trabalho, ainda que sejam os do Partido Comunista da União Soviética, em países onde todavia impera o capitalismo, pode, com as melhores intenções do mundo, prejudicar mais do que favorecer, como ocorreu na realidade não pouca vezes. Precisamente, a experiência dos bolcheviques russos deve ensinar-nos a aplicar de um modo vivo e concreto a linha internacional única da luta contra o capital às particularidades de cada país, extirpando implacavelmente, ridicularizando, entregado à provocação de todo o povo as frases, padrões, o pedantismo e o doutrinarismo.

É preciso estudar, camaradas, estudar constantemente, a cada passo, no processo de luta, na liberdade e na prisão. Estudar e lutar, lutar e estudar!


Notas de rodapé:

(1) Criado pela IC em 1922 e dissolvido em 1942. (retornar ao texto)

(2) Lênin. Que fazer?. Cap. IV. (retornar ao texto)

polo comunista Luiz Carlos Prestes
Inclusão 08/01/2016