
Nome pelo qual ficou conhecido o "Tratado Germano-Soviético de Amizade e Limites entre a URSS e a Alemanha", acordo entre a Alemanha e a União Soviética. Foi assinado no dia 23 de agosto de 1939, pelos ministros de Relações Exteriores Joachim von Ribbentrop (Alemanha) e Vyacheslav Molotov (União Soviética) na presença de Stálin. O pacto tratava das relações de amizade e questões de fronteiras entre os dois países. É também referido como: Pacto Germano-Soviético, Pacto Nazi–Soviético, Pacto Nazi–Soviético, Pacto de Não Agressão Germano–Soviético e Pacto Ribbentrop-Molotov. Na imagem: assinatura do pacto na presença de Stálin. Clique na imagem para ampliar.

Tratado Germano-Soviético de Amizade e Limites entre a URSS e a Alemanha (1939-1941): abaixo o texto integral do tratado:
O governo da URSS e o governo alemão, após a dissolução do antigo Estado polonês, consideram exclusivamente como sua tarefa restaurar a paz e a ordem naquele território e garantir aos povos que ali vivem uma existência pacífica correspondente às suas peculiaridades nacionais. Para esse fim, eles concordaram com o seguinte:
Artigo I -
O Governo da URSS e o Governo alemão estabelecem como linha de fronteira entre os interesses mútuos de Estado no território do antigo Estado polonês uma linha traçada no mapa anexo a este documento e que será descrita em mais detalhes em um protocolo adicional.
Artigo II -
Ambas as Partes reconhecem a fronteira dos interesses mútuos de Estado estabelecida no Artigo I como definitiva e excluirão qualquer interferência de terceiros Poderes nessa decisão.
Artigo III -
A reorganização estatal necessária no território a oeste da linha mencionada neste artigo será realizada pelo governo alemão e, no território a leste dessa linha, pelo governo da URSS.
Artigo IV -
O governo da URSS e o governo alemão consideram o rearranjo acima como uma base confiável para o desenvolvimento futuro das relações de amizade entre seus povos.
Artigo V -
Este tratado está sujeito a ratificação. A troca de instrumentos de ratificação ocorrerá o mais rápido possível em Berlim.
O tratado entrará em vigor a partir do momento de sua assinatura.
Feito em dois originais, em alemão e russo.
Moscou, 28 de setembro de 1939.
Por autorização do Governo da URSS
V. Molotov
Pelo governo da Alemanha
J. Ribbentrop
Imagem: mapa anexo ao pacto. Clique na imagem para ampliar.
Protocolo Fiduciário do "Tratado Germano-Soviético de Amizade e Limites entre a URSS e a Alemanha": abaixo o texto integral do protocolo:
O Governo da URSS não impedirá que cidadãos alemães e outras pessoas de origem alemã que residam nas esferas de seus interesses se reassentem na Alemanha ou nas esferas de interesses alemães. Ele concorda que esse reassentamento será realizado por funcionários autorizados do governo alemão, em acordo com as autoridades locais competentes, e que os direitos de propriedade das pessoas reassentadas não serão afetados.
O governo alemão assume uma obrigação correspondente com relação às pessoas de origem ucraniana ou bielorrussa que residem em suas esferas de interesse.
Moscou, 28 de setembro de 1939.
Por autorização do Governo da URSS
V. Molotov
Pelo governo alemão
J. Ribbentrop
Protocolo Adicional Secreto 1: abaixo o texto integral do protocolo:
Os plenipotenciários abaixo assinados, na conclusão do Tratado de Amizade e Limites entre a União Soviética e a Alemanha, declararam seu acordo como segue:
Ambas as partes não permitirão em seus territórios qualquer agitação polonesa que opere no território do outro país. Elas eliminarão os germes de tal agitação em seus territórios e informarão uma à outra sobre as medidas necessárias para esse fim.
Moscou, 28 de setembro de 1939.
Por autorização do Governo da URSS
V. Molotov
Para o governo alemão
J. Ribbentrop
Protocolo Adicional Secreto 2: abaixo o texto integral do protocolo:
Os plenipotenciários abaixo assinados, na conclusão do Tratado de Amizade e Limites Soviético-Alemão, declaram o seguinte acordo entre o governo alemão e o governo da URSS:
O protocolo adicional secreto assinado em 23 de agosto de 1939 é modificado no ponto I de tal forma que o território do Estado lituano é incluído na esfera de interesse da URSS, enquanto, por outro lado, a voivodia de Lublin e partes da voivodia de Varsóvia são incluídas na esfera de interesse da Alemanha (veja o mapa do tratado de amizade e fronteira entre a URSS e a Alemanha assinado hoje). Assim que o governo da URSS tiver tomado medidas especiais no território lituano para a proteção de seus interesses, a atual fronteira entre a Alemanha e a Lituânia será corrigida, para fins de um traçado simples e natural da fronteira, de modo que o território lituano situado a sudoeste da linha indicada no mapa passe a pertencer à Alemanha.
Afirma-se ainda que os acordos econômicos em vigor entre a Alemanha e a Lituânia não serão perturbados pelas medidas acima mencionadas da União Soviética.
Moscou, 28 de setembro de 1939.
Por autorização do Governo da URSS
V. Molotov
Pelo governo da Alemanha
J. Ribbentrop
Comentários sobre o Pacto
Comentário de José Carlos Ruy, no texto "Nazistas contra o mundo – 80 anos da 2ª Grande Guerra":
Em 1939, houve uma tentativa de acordo de não agressão entre França, Grã Bretanha e URSS. As negociações foram iniciadas em março, em Moscou, e os três países buscavam um acordo militar e político. O governo soviético estava premido ante duas ameaças, a dos nazistas, de um lado, e a das potências imperialistas, de outro, que poderiam tentar reforçar o “cerco capitalista” contra o país do socialismo. Na tentativa de acordo, a liderança soviética pretendia uma aliança que afastasse o perigo de uma guerra com o Ocidente e previsse o apoio caso fosse atacada pelos nazistas.
Quando os russos propuseram que uma virada pró-Alemanha nazista nos governos dos Estados Bálticos fosse considerada uma “agressão indireta” à URSS, os britânicos não aceitaram, e a tentativa de acordo chegou ao fim em julho. As negociações militares prosseguiram, também sem êxito. Uma demonstração da falta de seriedade britânica nessas negociações foi o fato de que seu principal negociador, o almirante Sir Reginald Drax, não tinha sequer as necessárias credenciais, não estando assim autorizado a garantir qualquer coisa à URSS – mas tinha orientação do governo de Londres para prolongar as discussões pelo maior tempo que pudesse.
Ante a nítida complacência – ou cumplicidade mesmo… – entre as potências europeias e os nazistas e, pressionado entre dois adversários igualmente ferozes, o governo soviético assinou com a Alemanha, em 23 de agosto de 1939, o Tratado de Não Agressão Germano-Soviético, também conhecido como Pacto Nazi-Soviético, ou Pacto Molotov-Ribbentrop, lembrando os ministros de relações exteriores que o assinaram – o nazista Joachim von Ribbentrop e o soviético Vyacheslav Molotov.
Foi um acordo inusitado, entre dois adversários ferozes. Mas fez parte do esforço do governo soviético para preparar o país ante a ameaça de agressão que se desenhava. No caso de Hitler, o acordo era necessário para deixar suas mãos livres para agir, sem o risco de uma dupla frente de batalha – França e Inglaterra a oeste e URSS no leste.
Comentário de Lukácks, em Entrevista em 1968:
De minha parte, como manobra política, considero o pacto de Stalin com Hitler e Ribbentropp inteligente, porque, se não tivesse acontecido, Hitler teria começado a guerra no Oriente e atraído a simpatia da Inglaterra e da França que o teriam apoiado materialmente. E viria criar uma situação extremamente perigosa para o socialismo mundial. Stalin conseguiu evitá-la, com uma decisão habilidosa e sabedoria tática, a preparação de uma única frente, assim Hitler desencadeou, em um primeiro momento, a guerra na direção ocidental e com isto criou as condições de uma coalizão mundial, que conduziu a queda do nazismo. Faço um aceno a isto, porque no Ocidente é frequente criticar Stalin por este pacto. Ao contrário eu defendo que Stalin tomou uma decisão habilidosa. Porém Stalin, deduzindo como consequência disso (e aqui inicia o erro, que eu sempre denunciei, que de decisões táticas se retirem elementos teóricos estratégicos), declarou que aquela guerra era como a Primeira Guerra Mundial. Consequentemente a palavra de ordem, que na sua época defendeu Liebknecht, de que que o verdadeiro inimigo está na sua própria casa. Mas isto simplesmente não era verdadeiro, porque independentemente do pacto Hitler-Stalin, o dever da classe operária francesa e inglesa era, naturalmente, aquele de proteger a pátria contra a invasão de Hitler.
Comentário de Domenico Losurdo, no texto "Stalin e Hitler: Irmãos Gêmeos ou Inimigos Mortais?":
Bem, ainda falta explicar o pacto Molotov—Ribbentrop. A União Soviética não foi a primeira a tentar um acordo com o Terceiro Reich, mas a última. Neste ponto, enquanto filósofo que, através da análise das categorias políticas, procede com uma comparação histórica, gostaria de fazer uma consideração distinta. Quase um século e meio antes da guerra desencadeada por Hitler a fim de subjugar e escravizar os povos da Europa oriental, houve outra grande guerra cujo objetivo, num contexto histórico evidentemente diferente, era o restabelecimento do domínio colonial e da escravidão. Refiro-me à expedição, ordenada por Napoleão e confiada a seu cunhado, Charles Leclerc, contra Santo Domingo, ilha governada pelo líder da vitoriosa revolução dos escravos negros, Toussaint Louverture. Mesmo depois de 29 de agosto de 1793, dia em que L. F. Sonthonax, representante da França revolucionária, proclamou a abolição da escravidão na ilha, Louverture continuou combatendo ao lado da Espanha; porque desconfiava da França, por muito tempo o líder negro continuou a colaborar com um país do Antigo Regime, escravista e empenhado na guerra contra a República jacobina e o poder abolicionista que se empossara em Santo Domingo. Ainda em 1799, a fim de salvar o país que dirigia do iminente colapso econômico, Louverture estreitou relações comerciais com a Grã-Bretanha, país em guerra contra a França e cuja eventual vitória traria consequências bastante negativas para a causa do abolicionismo. Mesmo assim, Toussaint Louverture permanece como o grande protagonista da revolução anticolonialista e antiescravista e como antagonista de Leclerc (e de Napoleão). Não obstante a completa mudança no quadro histórico que se verifica cerca de um século e meio depois, não há nenhuma motivo para procedermos diferentemente com Stálin: as reviravoltas do processo histórico não devem nos fazer perder de vista o essencial.
Ainda antes da invasão francesa, e prevendo-a, Toussaint Louverture impunha uma férrea ditadura produtivista e reprimia com mão de ferro quem desafiasse seu poder; posteriormente, a chegada a Santo Domingo das tropas francesas dirigidas por Leclerc foi o início de um conflito que se tornou uma guerra de aniquilamento de ambas as partes. O que podemos dizer sobre uma leitura que compara Louverture e Leclerc à luz da categoria de “totalitarismo”, contrapondo os dois aos dirigentes liberais e democráticos dos Estados Unidos? Por um lado, essa categorização seria banal: é óbvio o horror implícito num conflito que se configura como guerra racial. Por outro lado, essa leitura seria um tanto quanto mistificadora: colocaria num mesmo plano antiescravistas e escravistas, e omitiria o fato de que estes últimos encontravam inspiração e apoio nos Estados Unidos, onde a escravidão dos negros vigia em seu esplendor. A categoria de totalitarismo não se torna mais persuasiva se a utilizamos como única chave de leitura do gigantesco conflito entre revolução anticolonial e contrarrevolução colonialista e escravista que ocorreu na primeira metade do século XX. É evidente que se trata de um capítulo da história que merece aprofundamento e que ainda não pode evitar interpretações controversas. Mas não há motivos para transformar em irmãos gêmeos dois inimigos mortais.
Comentário de Francisco Martins Rodrigues, no texto "O Pacto Hitler-Staline foi a Causa da Guerra?":
O cinquentenário do pacto germano-soviético foi pretexto para novas variações em torno do mesmo tema: ao partilhar traiçoeiramente a Polónia com Hitler, Staline ter-se-ia tornado responsável pela guerra. Conclusão: o totalitarismo de esquerda é igual ao de direita, e a democracia capitalista é que é boa... [...]
O pacto Hitler—Staline foi o fim e não o começo de uma longa história. Desde 1934, a Inglaterra e a França vinham rejeitando os esforços insistentes da União Soviética para uma frente antifascista e deixavam o campo livre às potências fascistas para engolirem a China, a Etiópia, Áustria, Espanha, Checoslováquia … o pacto germano-soviético foi a reacção ao pacto tácito entre as democracias e o fascismo.
Em segundo lugar, quando se lamenta a Polónia “retalhada” e os países bálticos “anexados”, omite-se que a União Soviética apenas reocupou em 1939-40 os territórios que lhe tinham sido arrancados vinte anos antes por imposição da Inglaterra e da França, com o objectivo de criar um tampão antibolchevista.
Não lembramos estes factos para elogiar Staline, cujo regime anti-operário de capitalismo de Estado triunfava nessa época na União Soviética, com todo o seu cortejo de horrores. E também não defendemos a política externa de Staline.
A tentativa do dirigente soviético de conter o perigo fascista através do namoro às potências democráticas e à social-democracia (as Frentes Populares) não evitou a guerra e deu todos os trunfos ao imperialismo ocidental. Staline apoiou-se na tábua podre da burguesia “democrática” porque já era ele próprio um chefe burguês e receava apostar na luta revolucionária da classe operária.
Certamente, não estava ao alcance de Staline evitar o conflito entre a matilha de lobos capitalistas. Mas se ele fosse ainda comunista como se intitulava, teria orientado os operários da União Soviética e de todo o mundo para transformar a guerra imperialista numa onda de revoluções, em vez de os mobilizar para a defesa da “democracia” e da “pátria”. A política de ziguezague que seguiu, primeiro a reboque das “democracias”, depois a reboque de Hitler (1939-41), confundiu e desorganizou as fileiras comunistas internacionais e foi impotente para evitar a guerra.
Mas estes factos não podem servir para ilibar os únicos responsáveis pela guerra mundial. É um facto indesmentível que as democracias ocidentais engordaram o bloco fascista da Alemanha/Japão/Itália, na esperança de que ele aniquilasse a União Soviética. E é um facto que o governo soviético só assinou o pacto com Hitler como manobra de último recurso, para tentar desviar ou adiar o assalto nazi que todo o mundo capitalista lhe lançava para cima.
As acusações de que “Staline sempre procurou um acordo com Hitler”, “queria partilhar o mundo com Hitler”, etc., inventadas por Trotsky na fase final da sua carreira, e desacreditadas durante muitos anos devido ao esforço de guerra soviético, que salvou o mundo do nazismo ao preço de 20 milhões de mortos, estão hoje a ser promovidas a verdadeiras histórias para lavar o capitalismo.
Comentário de Ludo Martens, no texto: "Um Outro Olhar Sobre Stáline":
Em Março de 1939, a União Soviética entabula negociações para formar uma aliança antifascista. A Inglaterra e a França deixam as coisas arrastarem-se, manobrando. Com esta atitude, as duas grandes «democracias» dão a entender a Hitler que poderia marchar contra Stáline sem ser incomodado a Oeste. De Junho a Agosto de 1939 realizam-se conversações secretas anglo-germânicas, durante as quais, em troca da integridade do Império Britânico, os ingleses prometem a Hitler liberdade de acção no Leste. A 29 de Julho, Charles Roden Buxton, do Partido Trabalhista, efectua uma missão secreta junto da embaixada alemã em nome do primeiro-ministro Chamberlain. Consigo levava o seguinte plano:
«A Grã-Bretanha declara-se pronta para concluir com a Alemanha um acordo delimitando as esferas de influência. (...)
«1) A Alemanha compromete-se a não se imiscuir nos assuntos do Império Britânico.
«2) A Grã-Bretanha compromete-se a respeitar integralmente as esferas dos interesses alemães no Leste e ao Sudeste da Europa. Isto terá como consequência que a Grã-Bretanha renunciará às garantias que “acordou” a certos Estados situados na esfera dos interesses alemães. A Grã-Bretanha compromete-se em seguida a trabalhar para que a França repudie a sua aliança com a União Soviética.
«3) A Grã-Bretanha compromete-se a pôr fim às conversações actualmente em curso com a União Soviética com vista à conclusão de um pacto.»
Os serviços de informações soviéticos colocam Stáline a par de todas estas manobras. Em Agosto de 1939, as negociações entre a Inglaterra, a França e a União Soviética entram na sua fase final. Mas as duas potências ocidentais enviam a Moscovo delegações de segundo escalão, sem mandato para concluir um tratado. Vorochílov exige compromissos vinculativos e precisos para que, em caso de nova agressão alemã, os aliados entrem em guerra juntos. Queria saber quantas divisões os ingleses e franceses oporiam a Hitler no caso de agressão à URSS. Mas não recebe resposta. Queria também concluir um acordo com a Polónia para que as tropas soviéticas pudessem enfrentar os nazis sobre território polaco em caso de agressão alemã. A Polónia recusa, tornando assim impossível qualquer acordo militar efectivo. Stáline compreende perfeitamente que a Inglaterra e a França se preparam para um novo Munique e que estão prestes a sacrificar a Polónia na esperança de fazer marchar Hitler contra a União Soviética. [...]
A 1 de Setembro, Hitler agride a Polónia. A Inglaterra e a França são apanhadas na sua própria armadilha. Estes dois países haviam facilitado todas as aventuras de Hitler na esperança de utilizá-lo contra a União Soviética. Desde 1933 que não cessavam de louvar os méritos de Hitler no combate ao comunismo. Agora vêem-se obrigados a declarar guerra à Alemanha nazi... mas sem a menor intenção de a travar efectivamente. A sua raiva explode numa virulenta campanha anticomunista sobre o tema: «O bolchevismo é o aliado natural do fascismo». Meio século depois, esta propaganda estúpida continua nos manuais escolares como uma verdade inegável. No entanto, a história mostrou que o pacto germano-soviético constituiu a chave da vitória na guerra antifascista. Isto parece um paradoxo, mas o pacto foi uma reviravolta que permitiu reunir as condições para a derrota alemã.
Com efeito, a União Soviética concluiu este pacto com a clara consciência de que, mais cedo ou mais tarde, a guerra com a Alemanha nazi seria inevitável. Uma vez que tinha sido a Alemanha a propor um acordo à URSS, Stáline extorquiu a Hitler o máximo de concessões a fim de obter as melhores posições para a guerra que se avizinhava.
Comentário de Stálin, no texto "Discurso Pronunciado na Qualidade de Presidente do Conselho de Comissários do Povo da URSS e Presidente do Comitê de Defesa Nacional"
Mas poder-se-ia perguntar: como pôde o governo soviético concluir um pacto de não-agressão com demônios traidores tais como Hitler e Ribbentrop? Não teria sido um erro do governo soviético? É evidente que não foi. Os pactos de não-agressão, são pactos de paz entre os Estados. Tal foi o pacto que a Alemanha nos propôs em 1939. Poderia o governo soviético repelir tal proposta? Creio que nenhum Estado amante da paz poderia deixar de aceitar um tratado de paz com um Estado vizinho, mesmo quando à frente deste último se encontrassem monstros e canibais como Hitler e Ribbentrop. Mas, como era natural, isso apenas podia ser feito sob uma condição indispensável: esse tratado de paz não devia atentar nem direta, nem indiretamente, contra a integridade territorial, a independência e a honra do Estado amante da paz. Como todos o sabem, o pacto entre a Alemanha e a URSS era um pacto precisamente nessas condições. Que foi que ganhamos com a conclusão desse pacto de não-agressão com a Alemanha? Asseguramos a paz em nosso país durante um ano e meio; e tivemos a oportunidade de preparar nossas tropas para fazer frente à Alemanha fascista, caso a mesma se atrevesse a atacar nosso país, apesar do pacto. Este foi, pois, uma vantagem para nós e uma desvantagem para a Alemanha. E que perdeu a Alemanha fascista, praticando a suprema felonia de romper o pacto e atacando a URSS? É certo que ganhou algumas posições vantajosas para suas tropas, por um curto período, mas perdeu no terreno político, desmascarando-se aos olhos do mundo como um agressor despudorado. Não pode haver dúvida nenhuma de que essa vantagem militar de curta duração constitui, para a Alemanha, apenas um episódio, enquanto é um fator duradouro sobre cuja base terão apoio os êxitos militares decisivos do Exército Vermelho, na sua luta contra a Alemanha fascista.
Comentário de Mao Zedong, no texto "Identidade Entre os Interesses da União Soviética e da Humanidade Inteira":
Alguns afirmam que, encontrando vantagens no rebentamento duma guerra mundial, a União Soviética não está pela manutenção da paz no mundo, tendo até contribuído para o desencadeamento da guerra atual por meio da conclusão do pacto de não agressão com a Alemanha, em vez de assinar um acordo de assistência mútua com a Inglaterra e a França. Essa afirmação é, a meu ver, errada. Desde sempre, a política exterior da União Soviética tem sido uma política de paz, que liga os interesses desse país aos da imensa maioria dos homens. Para edificar o socialismo, a União Soviética tinha necessidade de manter a paz, consolidar as suas relações pacíficas com os demais países do mundo e prevenir uma guerra dirigida contra si; para assegurar a paz no mundo, ela tinha de deter a agressão pelos Estados fascistas, impedir que os chamados Estados democráticos provocassem a guerra e retardar no máximo o rebentamento duma guerra imperialista mundial.
Quando, na Primavera e Verão passados, a questão polaca surgiu com toda a acuidade e o mundo ficou a dois dedos da guerra, a União Soviética, a despeito de toda a má-fé de Chamberlain e Daladier, manteve negociações com a Inglaterra e a França durante mais de quatro meses, e esforçou-se por concluir com esses dois países um acordo de assistência mútua no sentido de impedir a guerra mundial. Todos os seus esforços foram, porém, barrados pela política imperialista dos governos inglês e francês, política de encorajamento, instigação e ampliação da guerra. Um golpe decisivo foi assim vibrado na causa da paz do mundo, estoirando finalmente a guerra mundial imperialista. Os governos da Inglaterra, Estados Unidos e França não tinham qualquer desejo sincero de impedi-la; pelo contrário, favoreceram-lhe o desencadeamento. A recusa em entender-se com a União Soviética, em concluir com esta um pacto de assistência mútua realmente eficaz, baseado na igualdade e na reciprocidade, provou que o que desejavam era a guerra e não a paz.
Foi nessas circunstâncias, num momento em que a Alemanha se declarava disposta a pôr fim as suas atividades anti-soviéticas, a renunciar ao “pacto anti-komintern” e a reconhecer a inviolabilidade das fronteiras soviéticas, que se assinou o pacto de não agressão entre a URSS e a Alemanha. A intenção da Inglaterra, Estados Unidos e França era empurrar a Alemanha para um ataque a União Soviética, esperando, quanto a si, “observar o combate dos tigres, do alto da montanha”, deixar os dois países esgotar-se mutuamente, para entrarem depois em cena e resolverem as coisas a sua maneira. O pacto soviético-germânico de não agressão frustrou essa conspiração. [...]
Quantas pessoas no mundo não foram enganadas pelas doces palavras de Chamberlain e comparsas, não descobriram o punhal que se escondia por detrás dos sorrisos destes, não compreenderam que a União Soviética concluirá um pacto de não agressão com a Alemanha apenas quando Chamberlain e Daladier estavam já decididos a rejeitar-lhe as propostas e a lançar-se numa guerra imperialista! É tempo de abrirem os olhos. O fato de a União Soviética ter defendido até ao último minuto a paz mundial constitui uma prova da identidade de interesses entre a União Soviética e a imensa maioria dos homens.
Comentário de Victor Grosz, no texto "Polônia 1939":
A política soviética não havia conseguido quebrar a resistência dos Chamberlain, Daladier e Beck; não deixaram que ela — no último minuto, no momento em que ainda era possível se afastar um perigo mortal para a Europa — edificasse a frente antifascista dos povos. Mais uma vez triunfaram os fomentadores da guerra. Mais uma vez os fomentadores de guerra tiveram a impressão de que, em detrimento da Polônia, haviam empurrado a Alemanha para o Leste, primeiro contra a Polônia e depois contra a União Soviética. Pensavam que Hitler desempenharia para eles o papel de gendarme antissoviético. E estavam prontos a pagar por esse trabalho um preço generoso, em territórios estrangeiros.
Pode-se então estranhar que em tais condições a U.R.S.S., embora não tendo jamais confiado na Alemanha hitlerista, que combateu desde seu surgimento com energia, enquanto outros a apoiavam — pode-se então estranhar, dizíamos nós, que em tais condições a U.R.S.S. tenha aceito, a 23 de agosto de 1939, a proposta alemã de concluir um pacto de não-agressão? Podia permitir-se a União Soviética não aproveitar, para sua própria segurança e em benefício da futura vitória sobre o fascismo, essa ocasião que se oferecia para derrotar os planos dos fomentadores de guerra que visavam, mediante o sacrifício da Polônia, empurrar a Alemanha contra a União Soviética isolada? [...]
É preciso apresentar claramente esse dilema brutal, com toda a honestidade, e, com espírito consequente, eliminar todo vestígio da propaganda reacionária desse fim de agosto e do mês de setembro de 1939, da qual ainda se servem os provocadores ocidentais. Embora reconheçam que a Polônia da Sanatzia não alimentava senão ódio à U.R.S.S., que rejeitou sua ajuda e se recusou a permitir a passagem das tropas soviéticas pelo território polonês, os reacionários afirmavam que a União Soviética não tinha, apesar de tudo, o direito de garantir, mesmo provisoriamente, suas próprias fronteiras e de ganhar tempo visando preparar-se, visando repelir a agressão inevitável! [...]
a União Soviética concluiu um pacto de não-agressão com a Alemanha porque as conversações franco-anglo-soviéticas foram praticamente interrompidas sem resultado, por culpa da Inglaterra de Chamberlain, da França de Daladier e da Polônia de Beck e isso apesar dos esforços da diplomacia soviética, a primeira a dar o toque de alarma e a reclamar, durante anos, a conclusão de uma aliança defensiva entre os governos ameaçados pela agressão hitlerista.
Comentário do Bureau Soviético de Informação, no texto "Falsificadores da história":
Em 1933, logo após a chegada de Hitler ao poder, em resultado dos esforços dos governos britânico e francês, foi assinado em Roma o «Pacto do Consenso e Cooperação» das quatro potências: Grã-Bretanha, Alemanha, França e Itália. Este pacto significou o conluio dos governos britânico e francês com o fascismo alemão e italiano, que já na altura não escondiam as suas intenções agressivas. Além disso, este pacto com os estados fascistas representava a rejeição da política de consolidação de uma frente única dos estados amantes da paz contra os estados agressivos. Conluiando-se com a Alemanha e a Itália, à margem das outras potências – que nessa altura participavam na conferência sobre desarmamento discutindo a proposta soviética para a conclusão de um pacto de não agressão e de um outro sobre a definição do agressor – a Grã-Bretanha e a França assestaram um golpe à causa da paz e da segurança dos povos.
Foi a URSS que tomou a iniciativa e defendeu a segurança colectiva. Logo em 6 de Fevereiro de 1933, o representante soviético na Comissão Geral para o Desarmamento, M.M. Litvínov, propôs a adopção de uma declaração que definisse a agressão e o agressor. No interesse da segurança universal e para facilitar um acordo sobre a redução máxima dos armamentos, a União Soviética considerou necessário definir com a maior precisão possível o conceito de «agressão», de modo a «prevenir qualquer pretexto que o pudesse justificar». Todavia, esta proposta foi rejeitada pela conferência, que agiu sob a batuta da Grã-Bretanha e da França, em benefício da agressão alemã. [...]
A rejeição por parte das potências ocidentais de um pacto de segurança colectiva não foi acidental. Neste período havia uma luta aberta entre duas linhas da política internacional. Uma era a linha da luta pela paz, pela organização da segurança colectiva e de resistência à agressão mediante a união de esforços dos povos amantes da paz. Esta linha foi seguida firme e consequentemente pela União Soviética, defendendo os interesses de todos os povos amantes da paz, grandes e pequenos. A outra era a linha que rejeitava a organização da segurança colectiva, a resistência à agressão, o que inevitavelmente alentou os países fascistas a intensificar a sua actividade agressiva e desse modo contribuiu para o desencadeamento de uma nova guerra. [...]
Em 30 de Setembro de 1938, em Munique, Chamberlain e Hitler assinaram uma declaração anglo-germânica, em que se afirmava: «Continuámos hoje a nossa conversa e chegamos unanimemente à convicção de que as relações anglogermânicas têm uma importância primordial quer para ambos os países quer para a Europa. Consideramos que o acordo assinado ontem à noite e o acordo naval anglo-germânico simbolizam o desejo dos nossos povos de nunca mais entrarem em guerra um contra o outro. Estamos firmemente decididos a examinar outros assuntos, respeitantes a ambos os países, através de consultas, e aspiramos a superar quaisquer motivos de divergência, de modo a contribuir para a garantia da paz na Europa». Esta foi a declaração de não agressão mútua por parte da Grã-Bretanha e da Alemanha. Uma declaração semelhante franco-germânica foi assinada por Bonnet e Ribbentrop no dia 6 de Dezembro de 1938. Nela afirmava-se que os governos alemão e francês tinham chegado unanimemente à convicção de que as relações pacíficas e de boa vizinhança entre a Alemanha e a França constituíam uma das condições essenciais para a consolidação das relações na Europa e preservação da paz mundial e que ambos os governos envidariam todos os esforços para garantir a manutenção de tais relações entre os seus países.
As conversações com a Grã-Bretanha e França de um lado e a União Soviética do outro começaram em Março de 1939 prolongando-se durante cerca de quatro meses. Todo o curso das conversações mostrou com total evidência que enquanto a União Soviética aspirava alcançar um amplo e equitativo acordo com as potências ocidentais, capaz pelo menos de no último momento impedir a Alemanha de desencadear a guerra na Europa, os governos da Grã Bretanha e da França, com o apoio dos Estados Unidos, tinham objectivos totalmente diferentes. [...]
A União Soviética só tinha duas alternativas: – Ou aceitava em nome da sua autodefesa a proposta feita pela Alemanha de assinar um pacto de não agressão, assegurando assim o prolongamento da paz durante um certo tempo, que o Estado soviético utilizaria para uma melhor preparação das suas forças para resistir ao provável ataque do agressor; – Ou recusava a proposta da Alemanha a respeito do pacto de não agressão, permitindo assim que os provocadores da guerra no campo das potências ocidentais arrastassem de imediato a União Soviética para um conflito armado com a Alemanha, numa situação totalmente desfavorável à URSS dado estar numa situação de completo isolamento. Nestas circunstâncias, o governo soviético viu-se obrigado a optar pela assinatura do pacto de não agressão com a Alemanha. Esta escolha constituiu um acto clarividente e sábio da política externa soviética na situação então existente. Este passo do governo soviético determinou em grande medida o desfecho favorável da II Guerra Mundial para a União Soviética e para todos os povos amantes da liberdade.
Comentário de I. A. Selezniev, no texto: "J.V.Stálin, o Perigo de uma Nova Guerra Mundial e a Possibilidade de se Evitá-la":
A União Soviética foi o único país a desmascarar até o fim tanto os agressores fascistas como os seus «pacificadores» anglo-franco-americanos. Em 1939, ano crítico para a Europa, a União Soviética fez imensos esforços no sentido de entrar em acordo com os governos da Inglaterra e da França para ações conjuntas com o objetivo de evitar a guerra iminente e organizar forças para resistir aos agressores fascistas. Entretanto, os governos reacionários da Inglaterra e da França continuavam a pôr em pratica um jogo duplo: para desviar a atenção da opinião pública e satisfazê-la mantinham conversações com a União Soviética, ao mesmo tempo conspiravam por detrás dos bastidores com os hitleristas na esperança de lançar a Alemanha contra a União Soviética. Tornava-se claro que não se podia organizar a resistência coletiva ao agressor e evitar a guerra por causa da política criminosa e anti-popular da Inglaterra e da França. A União Soviética tinha que escolher: ou aceitar, visando a sua própria defesa, o pacto de não agressão proposto pela Alemanha e assim prolongar por algum tempo o período de paz, ou recusar esse pacto e permitir assim que os provocadores de guerra arrastassem a União Soviética a um conflito com a Alemanha numa situação de completo isolamento desfavorável para o Estado soviético.
Nessas condições o governo soviético fez a única escolha justa, concordando com a conclusão do pacto de não agressão com a Alemanha. Foi um passo clarividente e sábio da política exterior soviética que predeterminou o resultado da segunda guerra mundial favorável à União Soviética e a todos os povos amantes da paz.
Comentário de Trotsky, no texto "A URSS na Guerra":
Após a realização do pacto germânico-soviético, será possível considerar a URSS com um estado operário? O futuro do estado soviético já suscitou entre nós, várias discussões. Não é de estranhar; temos diante de nós a primeira experiência de um estado operário na história. Antes disso, este fenômeno nunca acontecera para que pudesse ser analisado. Como já havíamos dito anteriormente, frente ao problema do caráter social da URSS, os erros habitualmente acontecem, como o de substituir o fato histórico pela norma programática. O fato histórico se desvincula da norma. No entanto, isto não significa que a norma não tenha mais valor; ao contrario, foi reafirmada a partir do ponto de vista negativo. A degeneração do primeiro estado operário, investigada e explicada por nós, somente mostrou, mais graficamente, o que deve ser um estado operário, o que poderia e deveria ser sob determinadas condições históricas. A contradição entre o fato concreto e a norma, não nos leva a negar a norma, mas ao contrario, lutar por ela através de uma via revolucionária. O programa da revolução que se aproxima na URSS está determinado, por um lado, pela nossa análise da URSS como um fato histórico objetivo, e por outro, pela norma que define um estado operário. Não dizemos: “Tudo está perdido, devemos começar tudo novamente”. De forma muito clara, indicamos aqueles elementos do estado operário que atualmente podem ser preservados, mantidos e posteriormente desenvolvidos.
Aqueles que hoje se esforçam para demonstrar que o pacto germânico-soviético modifica nossa análise sobre o estado soviético mantêm, na essência, as mesmas posições que o Comintern – ou mais exatamente, as mesmas posições que o Comintern defendia ontem. De acordo com esta lógica, a missão histórica do estado operário é a luta pela democracia imperialista. A “traição” das democracias, em prol do fascismo, faz com que a URSS deixe de ser considerada um estado operário. Na verdade, a assinatura do tratado com Hitler só proporciona um elemento extra, com o qual pode-se medir o grau de degeneração da burocracia soviética e seu desprezo pela classe operária internacional, incluindo o Comintern, mas não dá nenhuma base para uma revisão da apreciação sociológica da URSS.