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Com Lênin e os bolcheviques, como o observou a própria Rosa de Luxemburgo, o movimento operário redimiu-se da capitulação protagonizada pela II Internacional em 1914. A Revolução de Outubro lavou a honra que a votação dos créditos de guerra maculara e que o reformismo prosseguiu comprometendo.
Na prática concreta da política operária, no seu momento mais determinante — o da ruptura revolucionária com o poder burguês —, a originalidade de Lênin aparece de modo cristalino. Entretanto, se ele pôde direcionar o maior acontecimento sócio-político do mundo contemporâneo, a Revolução Russa, foi porque, no domínio da teoria, ele se dimensionou como o único discípulo de Marx que não se ateve à letra do mestre, mas ao seu espírito.
Lênin nunca foi um epígono ou um simples divulgador. Foi um pensador vigorosamente original no leito do marxismo. Em três questões essenciais, coube-lhe uma contribuição que desenvolveu, enriqueceu e aprofundou o legado de Marx: a questão do partido, a questão da revolução e a questão da ditadura do proletariado.
Sabe-se que há, em Marx e em Engels, uma teoria do partido político da classe operária. No entanto, somente Lenin soube — com seu O Que Fazer? — instrumentalizar a aproximação teórica dos clássicos. Ao formalizar o desenho do partido de novo tipo, ele resgatou as determinações de Marx e fez do problema da organização a chave para a condução consequente da política da classe operária. Com Lênin, a passagem da classe em si a classe para si resolve-se claramente pela instância do partido autônomo do proletariado.
No que toca à revolução, Lênin apreendeu as novas realidades colocadas pelo trânsito do capitalismo à sua fase imperialista e vinculou-as às propostas contidas em Marx. A sua genial hipótese do "golpe contra o elo mais fraco da corrente", confirmando-se em 1917 e em outras várias experiências históricas subsequentes, explorou ao limite a universalidade do marxismo.
Quanto à ditadura do proletariado, foi ele — em O Estado e a Revolução — quem deu às concepções de Marx e Engels, desenvolvidas especialmente depois de 1870/71, um tratamento conclusivo. Mesmo sem uma elaboração mais sistemática (afinal, como ele mesmo sublinhou, preferiu a prática histórica à prospecção científica, neste caso), foi o dirigente bolchevique quem esclareceu o aspecto crucial da transição para o comunismo: a instauração da ditadura do proletariado, democracia ampliada e participativa dos trabalhadores.
Nestas três questões fulcrais, Lênin contribuiu com aportes inteiramente originais. E na medida em que lhes se incorporaram definitivamente no quadro da ciência marxista, é justo que esta se designe hoje como marxismo-leninismo.
A sua estatura teórica original, forjada no estudo concreto de situações concretas, responde pela sua originalidade enquanto dirigente revolucionário. Esta originalidade faz dele, hoje, mais que uma figura de proa entre os pensadores e políticos de todos os tempos — faz dele o nosso companheiro de jornada, neste complexo trânsito à sociedade comunista.