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PARA resolver o problema social, vimos que os teóricos nos propõem diversos sistemas: coletivismo, estatismo, comunismo, etc. Mas, acima de todos os sistemas, surge uma questão: para melhorar a sorte dos humanos, para uma repartição equitativa dos bens, para pór um termo aos abusos, à especulação desenfreada; para apagar os traços do que foi, ontem ainda, a exploração do homem pelo homem, será preciso recorrer a instituições, a regulamentos, a leis?
Todas as obras humanas mudam e passam, todas as formas sociais, que acabamos de enumerar, foram aplicadas através das idades por civilizações diversas, porém nenhuma resistiu à ação do tempo e ao choque das paixões. A história registrou as tentativas sucessivas, os esforços dos renovadores para realizar seus sonhos sempre seguidos de fracassos clamorosos. E, de tantas vicissitudes, uma consideração se depreende: é que no socialismo, como na política, os homens não têm jamais o que merecem; suas obras sociais estão sempre relacionadas com o estado de aperfeiçoamento que puderam atingir.
Se quisermos preparar um futuro melhor, comecemos de início, por instruir o homem quanto às verdades necessárias, por torná-lo mais sábio, mais senhor de si mesmo e de suas paixões.
No domínio da economia social, o que reinou até aqui foi a livre concorrência, isto é, a luta dos interesses, a rivalidade, o antagonismo. Greves sucederam-se a greves, às coalizões, às sabotagens; os sindicatos operários arremeteram-se contra os sindicatos patronais e os trustes, isto é, a força contra a força, e o resultado inevitável: o ódio! Ora, o ódio não pode fundar nada de fecundo, de duradouro. É ao coração do homem que se deve dirigir.
O que todas as vantagens materiais, a mutualidade, a participação dos benefícios, os altos salários não puderam realizar, uma grande doutrina, simples consoladora e pacificadora poderá fazê-lo.
As reivindicações socialistas falaram abundantemente ao operário quanto aos seus direitos, porém nunca quanto aos seus deveres. Negligenciaram cultivar suas qualidades morais, desenvolver nele o espírito da ordem, da sabedoria, da previdência, e qual foi o resultado?
O povo viu aumentar seu bem-estar físico, porém não é mais feliz: tornou- se mais exigente, mais descontente, menos consciencioso. E, entretanto, pra mudar tudo isto, bastaria inculcar em todos o amor pelo trabalho e a confiança na vida, que não mais, em realidade, que a elevação, gradual para a luz, para a perfeição.
Para começar, não há outro direito senão aquele que resulta dos méritos adquiridos, dos serviços prestados, de uma participação eficaz na obra de civilização e de progresso. Todo o direito adquirido comporta uma série de deveres correspondentes, e estes deveres são tanto mais numerosos quanto os direitos é mais preciso, mais extenso: deveres para com a família, para com a Pátria, para com a Humanidade.
Pois é a liberdade, este princípio tão mal compreendido, que tem suscitado tantas discussões estéreis. Uns querem uma liberdade absoluta, a qual leva forçosamente à licenciosidade, isto é, à desordem e à anarquia. Outros se prendem a um determinismo vago que faria do homem uma espécie de marionete, cujos fios seriam manejados por um destino invisível. A verdade está entre estes dois extremos; está ao alcance de todos. A liberdade, ou antes, o livre arbítrio, é proporcional ao grau de evolução do ser e acresce na medida de sua ascensão na escala infinita das existências e dos mundos.
E isto é o que há de maior, de mais nobre na destinação humana: a conquista da liberdade por esforços constantes para o bem, o franqueamento gradual das baixas servidões, a educação, o aperfeiçoamento da alma que se busca de século em século, pelo retorno à carne através das vidas sucessivas, vidas de trabalho, de atividade, de elevação elas quais o ser se desenvolve tornando-se uma força maior, mais e mais evoluída e desempenha um papel sempre maior no Universo. O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se a mão; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista. Há um interesse capital em congraçar estas três ordens de ideias. O ser deve se aperfeiçoar desenvolvendo suas qualidades inatas e apagando os estigmas de suas vidas anteriores.
O Socialismo não é, pois, em realidade, senão a aproximação dos fluidos de uma mesma natureza, sua fusão e sua harmonia na vida humana e segundo o grau atingido ao curso de existências percorridas. O conhecimento das leis espirituais é, pois, indispensável para estabelecer a verdadeira natureza do ser e sua possível adaptação aos diferentes meios sociais. È preciso que cada seja, possuindo uma força irradiante, um poder atrativo, o transfira, por via de vibrações, àqueles em quem o mesmo fluido circula mais fracamente. Isto seria o verdadeiro comunismo. O objetivo essencial é obter uma correlação direta entre os pontos de vista moral, fluídico e material.
Os grandes missionários espirituais foram, a títulos diversos, grandes socialistas. O Socialismo é a elevação da coletividade na ordem física e moral, esta melhoria deve ser regulamentada pela justiça e a razão. Eis porque se torna preciso chegar a uma fusão integral, por mudanças de força suscetíveis de paralisar as paixões e os caprichos que subsistem em nós. A vida atual não sendo mais que um estado transitório, nenhum dos problemas que a ela se relacionam pode ser logicamente resolvido, se negligencia levar em conta tudo o que a condiciona ao passado e a finalidade que ela deve atingir no futuro.
Antes de tudo, convém desenvolver o sentido moral na criança, no adulto, isto é, o sentido elevado da vida, de seus deveres, suas responsabilidades; gravar profundamente no pensamento e no coração do ser humana esta lei imprescindível das consequências dos atos que trazemos no curso de nosso destino, todos os elementos bons ou maus, que tivermos gerado.
Então, a dignidade humana se encontraria realçada, a existência revestiria um caráter mais nobre, uma finalidade mais precisa; isto seria a construção, por nossos próprios cuidados, através dos séculos, de nossa personalidade, a edificação de nosso destino. Somos o que fizemos de nós; nossa sorte, feliz ou desgraçada está em nossas mãos; assim, no encadeamento de nossas vidas, a ação da justiça se torna mais evidente. Tudo que fazemos, recai sobre nós através do tempo, em alegrias ou em dores. E como o futuro poderia se tornar melhor que o passado se continuar a semear, no presente, o gérmen do ódio, as causas de discórdia e de desencontros, se o fraco continua a ser esmagado pelo forte, se tantos corações sensíveis são quebrados pelo egoísmo e pela brutalidade, em uma palavra, se o homem continuar cruel para com o homem?
Todos os fluidos impuros causados por nossas paixões, engendrados pelas obras do mal, pelas injustiças cometidas, se acumulam em silêncio sobre nós, e, depois, um dia, quando a medida estiver cheia, a tempestade estoura sob a forma de flagelos, de calamidades, fontes de novos sofrimentos, pois os excessos do gozo levam, fatalmente, a um crescente de dor até que o equilíbrio seja restabelecido na ordem moral como é na ordem física.
O abuso dos prazeres, o excesso do luxo, o alcoolismo que resgatam pelo sofrimento, as privações, a miséria. Aprendamos a ser sóbrios e comedidos em todas as coisas. O operário frequenta muitos os bares, prefere os filmes realistas e os lugares malfazejos. Mas é preciso que as classes dirigentes deem o exemplo para não fazê-lo tornar o prazer, a regra predominante de sua vida.
As catástrofes, o jogo do que denominamos as forças cegas, não nos surgem inexplicáveis senão porque desconhecemos as causas invisíveis que as produzem e que, a mais das vezes, emanam de nós mesmos e se explicam por nossa inferioridade e violações da lei.
Mas, ao contrário, toda alma penetrada por esta lei, por esta necessidade de evoluir sentirá a grandeza de seu papel. Em presença desta ordem universal que sempre traz consigo os efeitos de suas causa, diante desta perfeição de formas e de regras, ela compreenderá que esta perfeição é chamada a realizar nela e em torno dela, e que, por isso, o infinito do tempo e do espaço lhe estão franqueados.
Se consagrássemos à educação das massas e à vulgarização dos princípios soberanos apenas um quarto das somas que gastamos para as obras de destruição e de morte, a face do mundo seria logo modificada, o progresso seria mais rápido no funcionamento das obras sociais. Pelo desenvolvimento do senso moral e a evolução das inteligências muitas causas de sofrimentos desapareceriam e a Humanidade se encaminharia, em passos mais seguros, para tempos melhores.
A guerra, dissemos precedentemente, ao invés de servir de lição, foi seguida por um despertamento de paixões violentas e de baixos apetites. O poder corruptor do dinheiro, a floração do vício e do crime não fez mais que se acrescer. Nem a religião, nem as ciências, nem as disciplinas sociais, puderam deter ou pelo menos abrandar este vagalhão impuro que arrebata a Humanidade. Far-se-ia preciso uma outra coisa, agora que tantas instituições mostraram sua impotência.
A intervenção do mundo invisível torna-se necessária para despertar nos cérebros obnubilados, a noção da imortalidade e as exigências que ela comporta. Isto deveria ser feito lenta e gradualmente, a fim de não perturbar os cérebros obscurecidos e mal equilibrados. Torna-se necessário um apoio sobre uma acumulação de provas irrefutáveis. E é o que se realiza, por uma ação providencial. Assim a Humanidade desgarrada, desnorteada, recebe este impulso do Alto que a conduz ao caminho seguro, a rota real da alma conforme a expressão de Platão.
Diante das vastas perspectivas que se abrem e com as quais ele se familiarizaria de pouco em pouco, o homem seria obrigado a elevar seu pensamento acima das baixas contingências terrestres e olhar face a face esse objetivo ainda distante, mas tão grandioso que lhe está indicado.
O nome de “invisível” se tornaria fonte imensa em que todos os pensadores, escritores, poetas, artistas, virão se abeberar, inconscientemente a maior parte dos homens do passado colaboraram com o invisível, porém no futuro esta colaboração se tornará mais consciente, requerida, solicitada e a obra humana através dela será fecundada, centuplicada.
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Em sua análise dos versos dourados dos Pitagóricos(1), o Doutor Carton se entregou a um estudo admirável, mas sobre o qual devo fazer algumas reservas quanto a um ponto.
Ele julga que o conhecimento das vidas sucessivas da alma deve ser reservado apenas aos iniciados e ocultas do vulgo. Eu creio ao contrário, que devemos oferecer ao povo toda a verdade, tanto mais que ela é indispensável à educação dos seres e à regeneração social.
Não há verdadeira moral sem uma crença elevada e sem sanção. A noção das vidas sucessivas, inseparável das consequências dos atos, mostra-nos a repercussão dos nossos méritos e deméritos sobre o destino humano e constitui a sanção necessária e conforme a justiça.
Na ordem social, é do interesse de todos que a lei moral seja observada, pois ela é a melhor garantia de nossa segurança; os atos culpáveis, os maus exemplos, os Fermentos da maledicência e do ódio que atiramos à Humanidade, altera o presente e compromete o futuro, como o prova a lei dos renascimentos.
É em vão que se procura a felicidade na posse de bens materiais, dos gozos terrestres que o sopro da morte arrebata. A felicidade está no aceitamento feliz, alegre da lei do trabalho e do progresso, da realização leal da tarefa que a sorte nos impõe, de onde resulta á satisfação da consciência, único bem que podemos encontrar no lado de lá.
Perguntam-me às vezes com certa acidez: Nós não queremos acreditar em vossas vidas sucessivas. Ao que eu replico: Se crerdes ou não, isto não impede em nada que estejais submetidos a ela de modo inexorável, pois a falta dessa lei de trabalho e de evolução leva a um sofrimento. Todos devem sofrê-la, mas aqueles que não a podem explicar nem compreendê-la recolhem menos proveito para sua depuração e seu avanço.
Uma crença elevada, dissemos, é necessária, não podeis encontrá-la no ensinamento atual das Igrejas, que está enredado em muitos erros: vós não podeis encontrá-la no materialismo, nos dias atuais em que a sobrevivência nos é comprovada por tantos fatos.
Esta crença regeneradora, o Espiritismo vos traz. Mas se não podeis vos elevar ainda até esta concepção grandiosa das coisas e das leis, crede pelo menos em vós mesmos, em vossa alma imortal, nessas forças ocultas que vosso dever e vosso papel, são desenvolver, pôr em ação, a fim de subir mais alto para a luz, para a compreensão de tudo quanto é belo, grande e poderoso no Universo.
Os revolucionários violentos, que pretendem fundar a ordem social no sangue e sobre ruínas, não passam de cegos e desgarrados. A harmonia social não pode se estabelecer senão sobre a justiça, a bondade, a solidariedade.
O verdadeiro comunismo, por excelência, exige a doação de si mesmo, um sentimento de altruísmo que leve até ao sacrifício: também vimos que não foi praticada até aqui e de uma maneira durável senão em associações religiosas. Elas se inspiravam em um ideal superior. Em seus arrebatamentos de fé e de amor chegavam à renúncia pessoal em proveito da coletividade.
Ainda é preciso notar que esta renúncia implicava o esquecimento da família. Ora, a família é a base essencial, o pivô de toda sociedade humana um tal sistema não poderia, pois, generalizar-se.
A solidariedade dos seres, na comunhão universal, é um princípio sagrado no qual deve se inspirar toda grande obra humanitária.
Com o materialismo, a solidariedade não passa de um bem passageiro, efêmero, que figa os homens entre dois nadas. Mas os ensinamentos dos Espíritos, esta ideia de solidariedade cresce, reveste-se de uma amplidão, uma autoridade que se impõe. A ascensão coletiva, por meios de vidas incessantemente renascidas, nos une estreitamente aos nossos companheiros de viagem eterna. Somos, pois, interessados no aperfeiçoamento moral de um meio em que precisamos regressar e, por conseguinte, a dos seres que vivem conosco.
A educação das almas, segundo a grande lei da evolução, e as consequências do nosso passado, nos obriga a renascer em diferentes condições sociais, seja para aí reparar nossas faltas anteriores seja para adquirir qualidades inerentes a estas condições. Importa, pois. a todos, trabalhar para poder reinar aqui embaixo em todos os meios, a ordem, a justiça, a harmonia. Ninguém eleva a si mesmo senão ajudando aos outros a avançar na escala imensa, fazendo penetrar neles os conhecimentos e as qualidades adquiridas.
Ligados através de nossas vidas, prosseguiremos todos para um fim comum; sentimo-nos unidos por laços poderosos e chegaremos, com o tempo, pelas perfeições realizadas, a constituir uma única e grande família, um grande ser coletivo do qual os membros vibram em uníssono sob as radiações do pensamento e do amor divino.
Na longa sequência de existências percorridas, na lenta e rude escalada das almas para uma finalidade sublime, mil circunstâncias nos levam a entrar em contato com outros seres, a viver sua vida, a participar de seus esforços, seus trabalhos, seus prazeres e suas dores. é assim que, através dos séculos, se apertam os laços que nos prendem à massa humana. Tudo que a atinge, nos toca, tudo que a fere nos atinge.
Diante dessas perspectivas, a solidariedade nos aparece muito mais larga e poderosa do que com as pálidas teorias materialistas.
Unidos por sinais e fins comuns, somos acompanhados por um mesmo Pai e retornamos para Ele a fim de viver, um dia, pelos méritos adquiridos, na paz e na luz.
Em face de tais horizontes, em que se tornam as mesquinhas rivalidades, o ciúme, os ódios, todas as miseráveis competições da Terra? Elas esvaem para dar lugar a uma irradiação do amor que aproxima todos os homens em uma fraternal harmonia.
Desde então, o dever se mostra mais preciso, o dever de auxiliar em sua evolução os fracos, os ignorantes, os atrasados, todos os que estão abaixo de nós como fomos ajudados outrora pelos Espíritos generosos que atingiram os cumes da sabedoria e do conhecimento.
Notas de rodapé:
(1) Ver Doutor Carton, “Lá vie sage”, Maloine Editor. (retornar ao texto)
Inclusão | 07/08/2018 |