Sobre a Imediata Adoção de Medidas Punitivas Contra Chiang Kai-Shek

Zhou Enlai

Abril de 1927


Origem: Carta de sugestão ao CC do PCCh. Entre os signatários também constavam os camaradas Zhao Shiyan, Luo Yinong, Chen Yannian e Li Lisan.

Fonte para a tradução: Obras Escogidas de Zhou Enlai, Beijing, 1981, Tomo I, Ediciones en Lenguas Extranjeras, p. 17-19.

Tradução: João Victor Bastos Batalha.

HTML: Lucas Schweppenstette.

Direitos de reprodução: Licença Creative Commons BY-SA 4.0.


Guo Moruo veio até nós(1) e relatou que foi o próprio Chiang Kai-Shek quem comandou a destruição da sede do Kuomintang e das lideranças sindicais em Jiujiang e Anqing, bem como a brutal carnificina das massas nessas regiões(2). Os recentes massacres, prisões e execuções de comunistas em Ningbo, Hangzhou, Nanjing e Xangai(3) resultaram em aproximadamente 400 mortos e feridos. Além de ordenar o fechamento da sede do Kuomintang e dos escritórios sindicais, Chiang dissolveu um governo municipal, desarmou à força os operários, aliou-se aos imperialistas e banqueiros chineses para obter um empréstimo de 10 milhões de yuans, organizou grupos de assassinos formados por agentes e capangas nas “concessões” estrangeiras(4) e criou sindicatos pelegos. Enquanto reprime os operários, corteja a burguesia. Consolidando seu poder político e controlando as fontes de receita, fomenta a vacilação entre as tropas de esquerda, as quais carecem de recursos materiais.

Diante de tais atos de traição de Chiang Kai-shek, qualquer hesitação, qualquer tentativa de aliviar a tensão ou postergar a luta apenas lhe permitiria que consolidasse ainda mais seu regime no sudeste do país e estreitasse seus laços com o imperialismo. Agora, os massacres também começaram em Guangdong(5). Chiang Kai-shek assegurou uma fonte inesgotável de renda de 15 milhões de yuans mensais provenientes de Guangdong e Xangai. Expulsou Xue Yue(6), Yan Zhong(7) e todos os oficiais de esquerda, além de aprisionar o pessoal encarregado do trabalho político, aprofundando o clima de terror entre as tropas de inclinação esquerdista. Mesmo que o governo de Wuhan continue a Expedição ao Norte e consiga tomar Pequim e Tianjin, o regime de Chiang estará solidamente estabelecido e haverá aqueles que seguirão seu exemplo; ademais, quem pode garantir que o imperialismo japonês não provocará um confronto direto com o Governo Nacional no norte do país? Por outro lado, se o Governo optar por uma ação punitiva e enviar tropas imediatamente a Nanquim, terá à sua disposição a 2ª Divisão do 3º Exército em Anqing para enfrentar o 7º Exército em Wuhu, do outro lado do rio Changjiang, podendo ainda lançar um ataque de flanco com parte do 2º e do 6º Exércitos, que, segundo se diz, já se retiraram para Anhui. O 7º Exército conta com apenas dez mil homens. Chen Tiaoyuan(8) dispõe de apenas quatro regimentos sob seu comando, os quais, já engajados na frente de batalha, não poderão ser facilmente deslocados. A queda de Wuhu certamente representaria um golpe para Nanquim. Chiang Kai-shek possui apenas cinco divisões sob seu controle direto, das quais a 1ª e a 21ª já perderam grande parte de sua capacidade combativa com a saída de Xue Yue e Yan Zhong, tendo sido enviadas para Zhenjiang e Suzhou, respectivamente; a 2ª Divisão, desmoralizada após sucessivas derrotas, encontra-se agora acampada em Kunshan, restando apenas as 3ª e 14ª Divisões em Nanquim. Como estas poderiam conter o avanço das forças de nossa expedição ao leste? Do 40º Exército, metade já cruzou o rio Changjiang, e o restante não necessariamente oferecerá a Chiang Kai-shek um apoio irrestrito. O 17º Exército foi derrotado em Yangzhou enquanto se sacrificava por Chiang. Até mesmo os 26º e 14º Exércitos nutrem ressentimento contra Chiang. Assim que Nanquim cair, Suzhou e Xangai estarão ao nosso alcance sem a necessidade de combate. Diante desse quadro, não convém mais buscar distensão ou compromisso político. Nesse sentido, um erro colossal já foi cometido em Xangai logo após a insurreição. Se hesitarmos mais uma vez em avançar, o inimigo tomará a dianteira, forçando-nos a recuar, o que abalará nossas fileiras e permitirá que os direitistas se apropriem totalmente do poder; assim, não apenas os esquerdistas se desencorajarão, mas toda a revolução estará irremediavelmente condenada ao fracasso.

Além disso, para conduzir o trabalho militar no sudeste do país, é imprescindível estabelecer planos, designar denominações para as unidades, incumbir pessoas de responsabilidades específicas e assegurar meios de comunicação confidenciais, pois somente assim poderemos fortalecer a confiança dos oficiais de esquerda no Governo Central(9). Por favor, consultem conscientemente os camaradas de esquerda e nos encaminhem uma resposta.