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A unificação formal da Communist League (Liga Comunista) e o American Workers Party, os muteístas, foi a primeira unificação de forças que havia acontecido no movimento americano por mais de uma década.
O movimento operário revolucionário não se desenvolve em linha reta ou por um caminho plano. Cresce através de um processo contínuo de luta interna. Tanto a ruptura como a unificação são métodos de desenvolvimento do partido revolucionário. Cada uma, sob circunstâncias dadas, pode ser ou progressiva ou reacionária em suas consequências. O sentimento popular geral pela unificação todo o tempo não tem mais valor político que a preferência por um contínuo processo de rupturas que vocês podem ver interminavelmente nos grupos puristas sectário. Pontos de vista moralistas sobre a questão das rupturas, e outros aspectos, são simplesmente estúpidos. As rupturas são as vezes absolutamente necessárias para a clarificação das idéias programáticas e para a seleção das forças com o objetivo de assentar um novo começo sobre bases claras. Por outro lado, em circunstâncias dadas, a unificação de dois ou mais grupos que se aproximam para um acordo programático é absolutamente indispensável para o reagrupamento e a consolidação das forças da vanguarda operária.
A unidade entre a organização trotskista — Communist League of America — e a organização musteísta foi inquestionavelmente uma ação progressista. União de dois grupos com diferentes origens e experiências que, nunca antes, se haviam aproximado, ao menos no sentido formal da palavra, para um acordo sobre o programa. A única forma de testar se este acordo era real e acabado ou somente formal; a única maneira de compreender quais dos elementos de cada grupo eram capazes de contribuir para o desenvolvimento progressivo do movimento, era a unificação, indo junto deles e testando estas questões no curso da experiência comum.
Como em todo o mundo desde 1928, havia uma série contínua e ininterrupta de rupturas no movimento norte-americano. A causa básica disto, era a degeneração da Internacional Comunista sob a pressão mundial do cerco a revolução russa e a intenção da burocracia stalinista de adaptar-se a este cerco desertando do programa do internacionalismo. A degeneração da Internacional Comunista não podia deixar de produzir rupturas e fraturas. Em todos os partidos os defensores do legítimo marxismo dentro dessas organizações degeneradas eram uma fonte de irritação e conflito que a burocracia não encontrava outra forma de remover exceto pelas expulsões burocráticas. Nós fomos expulsos do Partido Comunista Americano em outubro de 1928. Seis meses mais tarde, na primavera de 1929, os lovestonistas foram expulsos e fundaram uma terceira organização comunista neste país. Pequenas seitas e camarilhas de indivíduos e seus amigos, representando caprichos de vários tipos, eram os traços distintivos comum daqueles tempos. O movimento estava atravessando um período de pulverização, de desmembramento, até que uma nova elevação da luta de classes e uma nova verificação dos programas sobre a base de experiências mundiais pudessem assentar o terreno para a integração outra vez.
Existia nossa fração e a de Lovestone. Existia o pequeno grupo de Weisbord que naquele momento alcançava um total de 12 a 13 membros, mas que faziam ruído suficiente para se crer que representavam uma grande tendência histórica. Ademais, os weisbordistas, não satisfeitos com formar uma organização independente, insistiram — sob o que parecia ser a compulsão de uma lei natural para estes grupos arbitrariamente criados — em ter um par de rupturas dentro de suas próprias fileiras. Os fieldistas — Field e uns poucos de seus associados e amigos pessoais e contatos familiares, que havíamos expulso de nosso movimento por traição, durante a greve hoteleira — naturalmente formaram uma organização própria, publicaram um jornal e falavam em nome de toda a classe operária.
Os lovestonistas sofreram a ruptura das forças de Gitlow, e uns poucos meses mais tarde de um pequeno grupo representado por Zam. Havia existido neste país desde 1919 ainda outro grupo comunista chamado Partido Proletário, que também havia mantido uma existência isolada e produzido rupturas periódicas.
A desmoralização do movimento durante esse período se refletia na tendência para a dispersão, os contínuos processos de fracionamento. Esta enfermidade tinha que seguir seu curso. Naquele período nós trotskistas nunca fomos as vozes da unidade, especialmente nos primeiros cinco anos de nossa existência separada. Nos concentramos no trabalho de clarificar o programa e rechaçamos toda conversação sobre unificações improvisadas com grupos não suficientemente próximos de nós no que considerávamos e ainda consideramos, a questão de todas as questões — a do programa. A fusão na qual entramos em dezembro de 1934 foi a primeira unificação que teria lugar em todo aquele período. Como havia sido o grupo trotskista o primeiro a ser expulso do Partido Comunista quando os stalinistas estavam burocratizando completamente a Terceira Internacional e sufocando todo pensamento crítico e revolucionário, também foi o grupo trotskista o primeiro a tomar a iniciativa para começar um novo processo de reagrupamento e unificação quando os pré-requisitos políticos para tal passo estavam ao alcance da mão. Esse foi o primeiro signo positivo de um contra-processo para a tendência rumo a desintegração, dispersão e ruptura.
A unificação entre os trotskistas e os musteístas, a formação do Workers Party, indubitavelmente representou um passo adiante, mas só um passo. De imediato nos fez-se evidente — ao menos para os dirigentes mais influentes da antiga Liga Comunista — que o reagrupamento das forças revolucionárias só havia começado. Nos vimos obrigados a tomar esta atitude realista porque, como foi ressaltado em conferências anteriores, simultaneamente com o desenvolvimento de esquerdização dos musteístas, haviam ocorrido mudanças importantes no Partido Socialista dos Estados Unidos, como nos movimentos social-democratas em todo o mundo.
Uma nova geração de trabalhadores e elementos jovens, sem manchas pela responsabilidade das traições do passado, haviam sido sacudidos e despertados pelo tremendo impacto dos eventos mundiais, especialmente a derrota do movimento operário alemão com a vinda do fascismo ao poder. Um novo vento soprava nesta velha e decrépita organização da Social-Democracia. Estava se formando alí uma ala esquerda, manifestando o impulso de um grande número de pessoas para encontrar o programa revolucionário. Pensamos que isto não podia ser desconhecido porque era um fato, um elemento da realidade política norte-americana. Mesmo havendo formado um novo partido, e havendo proclamado isto como a unificação da vanguarda, reconhecemos que não podíamos ignorar ou arbitrariamente excluir da participação neste novo movimento esses novos elemento com força, saúde e vitalidade revolucionária. Pelo contrário, tínhamos a obrigação de ajudar este incipiente movimento no Partido Socialista a encontrar o caminho correto. Estávamos convencidos de que sem nossa ajuda não poderiam fazê-lo, porque não tinham dirigentes marxistas, nem tradição, estavam acossados por todos os lados por influências, forças e pressões que bloqueavam seu caminho para uma clara visão do programa revolucionário. Seu destino final, a possibilidade de seu desenvolvimento por um caminho revolucionário, era responsabilidade dos quadros mais experimentados e provados do marxismo, representados no Workers Party. Os dirigentes da nebulosa Ala Esquerda do Partido Socialista chamavam a si mesmos de os "Militantes". Por que, nunca fomos capazes de adivinhá-lo. O Militante (The Militant) era o nome do órgão oficial dos trotskistas norte-americanos desde o começo, e todo o mundo reconheceu que esse era o nome ideal para o nosso periódico. The Militant significava o partido operário, o partido ativista, o partido lutador. Mas por que os dirigentes da Ala Esquerda do Partido Socialista naquele momento, que eram filisteus até a medula de seus ossos, sem tradição, sem conhecimentos sérios, sem nada de nada, podiam chamar-se os "Militantes" — isto ficou como um problema a ser resolvido por estudiosos de investigações históricas, que ainda estão por vir em nosso movimento. A razão contudo não foi descoberta. Ao menos eu nunca a soube.
Essa direção miserável, essas figuras acidentais, simuladores, palavrosos, incapazes de qualquer sacrifício real ou luta séria por uma idéia, sem devoção séria ao movimento — muitos deles estão trabalhando para o governo em muitos postos de guerra hoje — esses "cavaleiros por uma hora" não nos interessavam muito. O que nos interessava era o fato de que por debaixo da espuma havia um movimento da juventude bastante vivo no Partido Socialista e um considerável número de elementos operários ativos, sindicalistas e lutadores no campo dos desempregados que constituíam uma boa matéria-prima para o partido revolucionário. Há uma grande diferença. Não se podia fazer muito com os tipos de dirigentes que tinham na época ou mesmo agora o Partido Socialista em qualquer de suas alas. Mas com os quadros e militantes de base sérios, ativistas sindicais, e juventude radical, se podia fazer um partido que dirigisse uma revolução. Queríamos encontrar um caminho até eles. Nesse momento eles nada sabiam sobre por qual caminho levar seu movimento, e menos ainda sabiam os jovens socialistas. Estavam sufocados no Partido Socialista pela burocracia conservadora, e uma e outra vez seus piores dirigentes — os chamados "Militantes" — mostravam tendências a capitular para a Ala Direita da burocracia.
Por outro lado, estavam acossados pelos stalinistas que tinham uma poderosa imprensa e aparato e muito dinheiro para corromper, e não vacilavam em usar dinheiro para esse propósito. Naquele momento os stalinistas estavam exercendo uma pressão extraordinária sobre os socialistas com o objetivo de deter o progressivo movimento de sua ala esquerda e fazê-la regressar na direção do reformismo pela via do stalinismo. Haviam triunfado em fazer isto na Espanha e muitos outros países europeus. O movimento da juventude socialista na Espanha, que havia anunciado por iniciativa própria, seu apoio a idéia de uma Quarta Internacional, foi desperdiçado pelos trotskistas da Espanha que, esterelizados no purismo sectário, evitavam qualquer tipo de manobras na direção dos jovens socialistas. Estavam satisfeitos com recitar o ritual da ruptura com a Social-Democracia e a Comintern em 1914-19, fazendo com que os stalinistas lhes ganhassem a dianteira, tomassem essa enormemente prometedora organização da Juventude Socialista e a transformasse em um apêndice do stalinismo. Isso foi um dos fatores decisivos na destruição da revolução espanhola. Nós não queríamos que isso ocorresse aqui. Para começar os stalinistas tinham vantagem sobre nós. Na Ala Esquerda Socialista havia ainda fortes sentimentos de conciliação com o stalinismo, e os stalinistas estavam usando a consigna demagógica da unidade. Nos demos conta do problema e concluímos que se não nos esforçassemos, o que havia ocorrido na Espanha ocorreria aqui.
Estávamos começando nosso trabalho sob a bandeira independente do Workers Party, mas este problema não esperaria. Começamos a insistir em que deveríamos prestar mais e mais atenção ao Partido Socialista e sua crescente Ala Esquerda. Nos pusemos de acordo sobre as seguintes linhas: Devíamos frustar os stalinistas. Devíamos fazer um corte entre os stalinistas e este incipiente movimento Socialista de Esquerda e levá-lo em direção ao autêntico marxismo. E para completar isto, devíamos deixar de lado todo feitichismo organizativo. Não podíamos nos contentar em dizer: "Aqui está o Workers Party. Tem um programa correto. Venham e unam-se a ele"! Essa é a atitude dos sectários. Esta Ala Esquerda é um grupo frouxo de milhares de pessoas do Partido Socialista, algo vago em suas concepções, confuso e mal dirigido, mas muito valioso para o futuro se receberem uma fertilização apropriada das idéias marxistas.
Nossa posição foi formulada na resolução Cannon-Shachtman. Encontramos uma resistência determinada no partido por parte de Oehler, e também de Muste. Os oehleistas se fincaram em terrenos dogmáticos e sectários. Não só não tinham nada que ver com qualquer orientação momentânea sobre o Partido Socialista, mas ainda insistiam, como uma questão de princípios, de que a excluíam de qualquer consideração futura. Nós temos formado o partido, diziam os oehleristas. Aqui está. Permitindo aos socialistas de esquerda unirem-se a nós se aceitam o programa. Nós somos Maomé e eles a montanha, e a montanha deve vir a nós. Essa era toda sua prescrição para aqueles jovens socialistas de esquerda confusos, que nunca haviam mostrado a menor inclinação para unir-se ao nosso partido. Nós dizíamos: "Não, isso é muito simples. Os bolcheviques devem ter suficiente iniciativa política para ajudar aos socialistas de esquerda a encontrar seu caminho para o programa correto. Se nós fazemos isso, o problema de unir-se com eles em uma organização comum pode concluir-se facilmente".
Muste se opôs a isto — não no terreno dos princípios mas no do feitichismo organizativo, provavelmento por orgulho pessoal. Esses sentimentos são fatais em política. Orgulho, nojo, rancor — qualquer tipo de subjetivismo que influencie um curso político leva só à derrota e a destruição daqueles que lhe dão passagem. Vocês sabem, no boxe profissional — "a arte viril da auto-defesa"— uma das primeiras lições que aprendem os boxeadores jovens de seus moderados treinadores é manter-se frios quando enfrentam um adversário no ring. "Nunca se tornem loucos no ring. Não percam sua cabeça, porque se o fizerem despertarão na lona". Os boxeadores têm que brigar calculadamente, não subjetivamente. A mesma coisa é indubitavelmente verdade em política. Muste não podia aceitar a idéia de que depois de haver fundado um partido e fazê-lo proclamado como o único partido, nós prestássemos atenção para algum outro partido. Nós seguiríamos nosso caminho. Manteríamos a cabeça erguida e veríamos o que ia acontecer. Se eles fracassassem em unir-se a nós, bem, seria por suas próprias deficiências. A posição de Muste não estava suficientemente pensada, nem raciocinada com a objetividade necessária. Não servia à situação. Se tivéssemos permanecido à margem, os stalinistas teriam tragado a ala esquerda socialista e esta teria sido usada como outro porrete contra nós, como na Espanha.
Antes de que a questão do Partido Socialista pudesse ser resolvida, e com ela removido outro obstáculo do caminho no desenvolvimento do partido americano de vanguarda, tivemos que combater a questão nas fileiras do workers Party. Tivemos que brigar na questão de princípios com os sectários; e quando eles se mantiveram inflexíveis e se tornaram indisciplinados tivemos que colocá-los para fora do partido. Eu disse isto com um pouco de ênfase porque essa era a forma pela qual tínhamos que tratar com os oehlerista — com ênfase. Se tivéssemos fracassado em fazer isso em 1935, se tivéssemos cedido a algum tipo de sentimentalismo para com as pessoas que estavam arruinando nossas perspectivas políticas com seu estúpido formalismo, nosso movimento teria se arruinado em 1935. Teríamos nos alijado de qualquer possibilidade de crescimento futuro. Teria ocorrido uma inevitável desintegração. O movimento teria terminado na resolução sem saída do sectarismo inútil.
O sectarismo não é uma idiossincrasia interessante. É uma enfermidade política que destrói qualquer organização na qual se instala firmemente se não é arrancada a tempo. Nosso partido vive ainda hoje e é bastante saudável graças ao tratamento de cirurgia que receberam os sectários em 1935. O tratamento medicinal é o mais importante e sempre deve vir primeiro nestes casos. O nosso consistia em uma sólida educação nos princípios marxistas e em suas caricaturas sectárias, através da discussão, explicação paciente. Por estes métodos aclaramos a confusão e, ainda estávamos em minoria no começo, depois ganhamos uma grande maioria e isolamos os oehleristas. Isto não foi feito em um dia. Levou muitos meses. O tratamento cirúrgico veio só quando os oehleristas derrotados começaram a violar a disciplina partidária sistematicamente e a preparar uma divisão. No curso da explicação e da discussão, educamos uma grande maioria do partido. O corpo do partido havia sido curado e estava com boa saúde. A ponta do dedo pequeno ficou infectada e começou a grangrenar, por isso o arrancamos. Esta é a razão de por que o partido vive hoje e é capaz de falar sobre aquela época.
Depois que terminamos com os oehleristas tivemos que seguir uma luta fracional bastante prolongada com os musteístas — duas lutas internas no primeiro ano de existência do Workers Party — antes de que estivesse clara a via para resolver o problema da Ala esquerda do Partido Socialista. Estas lutas internas, que consumiam as energias do novo partido quase desde seu início, eram certamente inconvenientes. Havíamos tido um ou dois anos de trabalho construtivo, não interrompido por diferenças, conflitos e brigas internas. Mas a história não segue este caminho. Fazia pouco tempo que tínhamos lançado o novo partido e fomos confrontados com o problema da Ala Esquerda do Partido Socialista. Não podíamos chegar a um acordo sobre o que fazer, por isso tivemos que passar um ano disputando. Esses conflitos não começaram imediatamente. O novo partido, organizado nos primeiros dias de dezembro de 1934 começou seu trabalho bastante auspiciosamente. Uma das primeiras demonstrações de atividade política, que também tendia a simbolizar a unificação das duas correntes, foi um tour de conferências sobretudo de Muste e eu. Fomos recebidos com entusiasmo ao longo do caminho. Podia-se notar no movimento operário de esquerda um espírito geral de aprovação pelo fato de um processo de unificação ter começado depois de um longo período de desintegração e rupturas. Tivemos boas reuniões em vários lugares e o tour alcançou seu ponto mais alto em Minneapolis. Este foi mais ou menos a 6 meses da grande greve vitoriosa; fomos muito bem recebidos. Os camaradas em Minneapolis estavam altamente satisfeitos porque não nos havíamos permitido ser totalmente absorvidos em greves econômicas e negar oportunidades no campo puramente político. Nossa unificação com outro grupo, cujos militantes valorizavam muito pelo trabalho que haviam feito no movimento de desempregados, a greve de Toledo, etc., foi muito aplaudida pelos camaradas de Minneapolis. Nos deram uma boa recepção e celebraram nossa visita com uma série bem planejada de reuniões e conferências, culminando em um banquete em honra ao Secretário Nacional de seu partido e ao editor do periódico que era muito caro aos seus corações: The Militant. Eles sempre fazem as coisas bem em Minneapolis. Durante nossa estadia ali, decidiram vestir-nos conforme a dignidade de nossas posiçòes. Os camaradas dirigentes saíram do hall do sindicato, recolheram a Muste e a mim — que, devo admitir, luzia um pouco esfarrapado nesse momento — e nos levaram a um passeio pelas lojas que vendem tecidos e comércio. Nos equiparam com roupas novas da cabeça aos pés. Foi um gesto muito fino. Me recordo bastante dessas roupas depois que elas se gastaram. No verão de 1936, Muste desorientado por todas as complicações e dificuldades, e abatido pelo sangue e violência da guerra civil espanhola e dos processos de Moscou, voltou, como vocês sabem, a sua posição original como um religioso e retornou para a igreja. Vincent Dunne obteve estas notícias através de uma carta privada e passou a informação para Bill Brown. "Bill", disse, "Que pensas? Muste regressou para a igreja". Bill estava atordoado. "Bem, que se vá ao demônio" disse. Depois, um momento mais tarde: "Vincente, deveríamos recuperar aquele traje!" Mas ele deveria saber melhor. Os pastores nunca devolvem nada.
Partimos de Minneapolis. Muste foi mais ao sul para cobrir outras partes do país. Eu fui para a California para terminar o tour. Isto foi no momento do julgamento em Sacramento dos membros do PC por "sindicalismo criminoso". Um de nossos camaradas — Norman Mini — estava entre os acusados, e porque ele se havia tornado trotskista, não só os stalinistas se negaram a defendê-lo, mas também o denunciaram em sua imprensa como um farsante, no entanto, estava sendo julgado. Fomos em sua ajuda. A Defesa Operário Não-Partidária, um comitê de defesa não stalinista, fez um trabalho muito bom em defesa do camarada Mini. Exploramos ao máximo todos os aspectos políticos dessa situação.
Entretanto estava se desenvolvendo o tour, que durou um par de meses, começamos a ouvir os primeiros rumores dos problemas com os fraseologistas sectários em Nova York. Eles sempre começam em Nova York. Não deixavam o partido em paz, não lhe permitiam um bom começo em seu trabalho. Consideramos a situação. Havia uma nova organização formada, representando a unificação de pessoas com experiências e passados totalmente diferentes. Este partido necessitava de um pouco de tempo para trabalhar unido, e um pouco de paz nesse trabalho comum. Esse era o programa mais razoável, o mais realista para aquele primeiro período. Mas nunca se pode lograr razoabilidade ou realismo dos sectários. Começaram a metralhar a organização unificada em Nova York com um programa de "bochevização". Iam pegar os musteístas centristas e fazer deles bolcheviques, quisessem eles ou não. E rapidamente.
Discussões! Tiravam fora do juízo alguns desses musteístas com suas discussões, teses e clarificações até altas horas da noite. Estavam buscando os "fundamentos", caçando tudo o que poderia desviá-los do caminho direto e estreito da doutrina. Nenhuma paz, nenhum trabalho fraternal em comum, nenhuma educação em uma atmosfera de calma, nenhuma intenção de permitir que o jovem partido se desenvolve-se natural e organicamente. A contribuição dos sectários desde o começo foi uma irresponsável luta fratricida.
Esse alvoroço em Nova York estava preparando o caminho para a explosão na famosa Conferência de Ativistas Operários, chamada pelo partido a reunir-se em Pittsburgh em março de 1935. A Conferência de Ativistas Operários era uma excelente instituição que havia surgido das experiênciad do AWP. A idéia era convidar todos os ativistas partidários de uma determinada região, ou de todo o país, para vir a um lugar centralizado para discutir o trabalho político prático, contar experiências, conhecer-se uns aos outros, etc. É uma instituição maravilhosa, como a descobrimos em nossas experiências em Chicago em 1940 e outra vez em 1941. Anda magnificamente bem quando há harmonia no partido, e é capaz de resolver assuntos e superá-los. Mas quando há sérias disputas no partido, que não podem ajustar-se exceto com uma conferência formal, especialmente se há uma fração irresponsável rondando, é melhor passar batido por Conferências De Atividades Operárias informais que não têm poderes estatutários para decidir as disputas. Em uma situação assim, as assembléias informais só incendeiam o fogo do fracionalismo. Encontramos isto em Pittsburgh.
A Conferência de Ativistas Operários que tentamos em Pittsburgh foi um horrível fiasco porque, desde sua abertura, os oehleristas a usaram como porta-voz de sua luta fracional contra o "oportunismo" da direção. Os camaradas musteístas, novos na experiência da vida política partidária, vieram do campo com a idéia ingênua que iam escutar outros informes sobre o trabalho de massas do partido e para discutir como eles poderiam avançar um pouco. Em lugar disto, se viram enfrentados com uma irrestrita luta fracional. Os oehleristas começaram a batalha sobre a eleição da presidência, e depois a continuaram — de uma maneira fanática, vida ou morte, para fazer ou morrer — sobre todas as questões. Foi um matadouro fracional como nunca havia visto antes em um lugar assim. Quarenta ou cinquenta inocentes trabalhadores estruturados, com pouca ou nula experiência em partidos políticos, que haviam vindo aqui buscar alguma inspiração por parte de seu novo partido e algum guia sensível para seu trabalho prático, foram convidados a discussões e argumentos de denúncias fracionais, que duraram todo o dia e a noite. Imagino que muitos deles disseram alarmados: “Onde entramos? Sempre escutamos que os trotskistas eram loucos, eruditos em teses e fracionalistas profissionais. Possivelmente a história tenha algo de verdade". Aqui viram o fracionalismo em sua pior versão.
O ativista de trabalho de massas, como regra, se inclina a querer só uma pequena discussão, assentar uns poucos detalhes muito necessários, e depois sair para a ação. Em Pittsburg eles — e nós também — queríamos terminar com esses assuntos e ter um intercâmbio de experiências sobre o trabalho prático do partido: atividade sindical, ligas de desempregados, funcionamento do partido em células, finanças, etc. Os sectários não estavam interessados nesses temas monótonos. Insistiam em discutir Etiópia, China, o "Giro Francês", e outras "questões de princípio", que eram muito importantes, seguramente, mas não para a agenda da conferência.
Conferência XI >>>
Inclusão | 10/10/2006 |