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Primeira Edição: Originalmente publicado em russo no jornal «Narodnoe Delo» («Causa do Povo»), de Genebra, 1 de setembro de 1868. Traduzido do francês a partir de documento digitalizado [http://hdl.handle.net/10622/ARCH00018.126?locatt=view:pdf] e disponibilizado online pelo Instituto Internacional de História Social (IISH) de Amsterdão [https://socialhistory.org/].
Fonte: https://ultimabarricada.wordpress.com/2018/11/19/programa-da-democracia-socialista-russa/
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Nós queremos a emancipação do povo, a sua emancipação intelectual, económica, social e política.
I. A EMANCIPAÇÃO INTELECTUAL das massas populares é indispensável para que a sua liberdade política e social se torne completa e sólida. A fé em Deus, a crença na imortalidade da alma, e em geral todas as utopias idealistas ou sobrenaturais, fundadas necessariemente sobre um princípio falso e contrário à ciência, têm sido para os povos uma causa constante de escravidão e de miséria. Por um lado, elas sempre serviram de justificação e de apoio a todos os escravizadores da humanidade, a todos os exploradores do trabalho das massas populares; por outro, elas têm desmoralizado os próprios povos, dividindo a sua consciência e o seu ser entre duas tendências absolutamente opostas: uma celeste e outra terrestre, e privando-os por isso da energia que lhes é necessária para conquistar os seus direitos humanos e para obterem uma existência feliz e livre. Segue-se daí que somos francos partidários do ateísmo e do materialismo científico e humanitário.
II. Queremos a EMANCIPAÇÃO ECONÓMICA E SOCIAL do povo, sem a qual toda a liberdade nunca será senão uma palavra vã e uma mentira revoltante. A situação económica dos povos foi sempre a pedra angular e a explicação real da sua situação política. Todas as organizações políticas e civis, passadas e presentes, têm por bases principais:
O conjunto de todas estas coisas hierarquicamente coordenadas chama-se o Estado. A consequência inevitável de toda a constituição de Estado será então sempre a servidão de milhões de trabalhadores condenados a uma fatal ignorância, em proveito duma minoria privilegiada, exploradora e pretensamente civilizada.
O Estado – esse irmão mais novo da Igreja – não é concebível sem privilégios políticos, jurídicos e civis, que têm por base natural os privilégios económicos.
Desejando a emancipação real e definitiva das massas populares, queremos:
Nós colocamos como base da justiça económica o princípio seguinte:
A terra só deve pertencer a quem a cultiva com os seus braços – e como todo o trabalho humano só é produtivo na medida em que é associado – nós reivindicamos a terra às communas ou associações rurais; assim como o capital e outros instrumentos de trabalho às associações industriais, baseadas tanto umas como as outras na mais completa liberdade e na perfeita igualdade económica e política dos trabalhadores.
III. Toda a ORGANIZAÇÃO POLÍTICA no futuro não deverá ser senão uma livre federação de livres associações tanto agrículas como industriais.
Por conseguinte, em nome mesmo da emancipação política e social das massas populares, queremos a destruição, ou se se preferir, a liquidação do Estado – a sua extirpação radical com todas as suas instituições eclesiásticas, políticas e civis, universitárias, jurídicas e financeiras, militares e burocráticas.
Queremos uma absoluta liberdade para todos os povos, russos e não russos, hoje esmagados pelo império de todas as Rússias; com o direito absoluto para cada povo de dispor de si próprio, e de se governar conforme os seus próprios instintos, segundo as suas necessidades e a sua vontade; a fim de que, federalizando-se de baixo para cima, os que entre eles quiserem tornar-se membros do povo russo, possam com ele criar uma sociedade verdadeiramente livre, unida federativamente com outras sociedades semelhantes, e que, tomando por base os mesmos princípios, se organizarão livremente na Europa e no mundo inteiro.