Carta a Alexandre Herzen

Mikhail Bakunin

7 de Novembro de 1860


Primeira edição: Irkutsk. 7 de novembro de 1860. Pis'ma M.A. Bakunina K.A.I. Gercenu I.N.P. Ogarevu, Ed. M.P. Dragomanov Genève, 1896, pp.3-4.
Fonte: Coletivo de Estudos Anarquistas Domingos Passos
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.

Caro Herzen. Já faz sete meses que eu te escrevi uma longuíssima carta de vinte páginas. Por diversas razões, ela não chegou até você. Foi a primeira manifestação de uma voz que voltou a ser livre após um longo silêncio. Hoje, serei mais breve. Inicialmente, deixa-me ressuscitar dentre os mortos, agradecer a você pelas nobres e simpáticas palavras que, pela imprensa, você disse sobre mim durante minha triste detenção. Elas atravessaram os muros que me isolavam do mundo e me trouxeram muito reconforto. Você havia me enterrado, mas ressuscitei, graças a Deus, vivo e não morto, pleno desse mesmo amor apaixonado pela liberdade, pela lógica, pela justiça, que foi e que é ainda agora toda a razão de ser de minha vida. Oito anos de reclusão em diversas fortalezas fizeram com que eu perdesse meus dentes, mas não enfraqueceram minhas convicções, ao contrário, elas se fortaleceram; nas fortalezas tem-se tempo para refletir; os sentimentos que foram os móbiles de toda minha juventude, concentraram-se, clarificaram-se, tornaram-se por assim dizer mais sensatos e, segundo me parece, mais capazes de se manifestar na prática. Libertado da fortaleza de Schlüsselburg, há quase quatro anos, recuperei igualmente a saúde; eu estou casado, feliz, em família e, apesar disso, pronto como antes, e mesmo com a paixão de outrora a me lançar em meus antigos pecados, desde que a ocasião se apresente. Retomo por minha conta as palavras de Fausto: Estou muito velho para somente me divertir, muito jovem para estar sem desejos. E o futuro, mesmo o futuro próximo, parece prometer muito.


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Inclusão 19/08/2015