O problema dos quadros é de vital importância para que o Partido possa ter uma vida fecunda e uma atuação continuada e consequente. E problema imperativo, no momento atual, quando o Partido precisa desenvolver atividade revolucionária tenaz, múltipla e variada em todos os campos da luta de classes, enfrentando uma situação de clandestinidade particularmente difícil, quando necessita resolver com oportunidade e justeza problemas políticos novos e imediatos e saber colocar-se sempre à frente da iniciativa política das massas.
Sem quadros capazes de assumir a responsabilidade pelas decisões c tarefas do Partido e saber aplicá-las com presteza e corretamente, as melhores decisões e as mais justas tarefas correm o risco de ficar no papel, reduzidas a letras mortas. No problema dos quadros a menor falta de vigilância comunista e qualquer lacuna que haja serão sempre portas abertas por onde podem penetrar ardilosamente os arrivistas ou pusilânimes, as pessoas de duas caras, que, mais cedo ou mais tarde, causarão danos e prejuízos ao Partido.
Os princípios bolcheviques na política de quadros
Não se pode tratar corretamente do importante problema dos quadros senão do ponto de vista rigorosamente leninista. Para isto é preciso compreender a absoluta necessidade de uma justa política de quadros e de sua aplicação consequente. Neste campo, o Partido acumulou rica experiência. Teve êxitos reais, mas também cometeu erros. Estes foram menores quando soube aplicar os princípios bolcheviques na política de quadros.
É oportuno salientar esses princípios, os mais essenciais para uma justa política de quadros. Eles foram destacados no 7º Congresso da Internacional Comunista, em 1935, por Dimitrov, fiel discípulo de Lênin e Stálin. Neles baseados, podemos avaliar criteriosamente as nossas experiências positivas e negativas e extrair os necessários ensinamentos revolucionários para evitar erros e melhorar sempre mais o trabalho partidário. Quais são esses princípios e como compreendê-los diante das reais necessidades de nosso Partido e das exigências de sua linha revolucionária?
1) Conhecer profundamente os quadros: Via de regra não se conhece suficientemente todos os quadros; o comum é se ter sobre muitos deles um conhecimento parcial e mesmo superficial. No entanto, o conhecimento aprofundado e multilateral dos quadros é absolutamente necessário, sob pena de se ter muitas surpresas desagradáveis, perfeitamente evitáveis. A experiência do Partido ensina: ali onde se procura conhecer bem cada membro do Partido descobrem-se militantes cujas valiosas qualidades de comunistas nunca se haviam notado. De outra parte, só assim é possível livrar o Partido de pessoas que lhe são nocivas ideológica e politicamente porque estranhas de fato aos interesses de classe do proletariado. Para se fazer uma justa verificação dos quadros, ensina Stálin, é necessário examiná-los minuciosamente em todos os aspectos de sua vida partidária, com base nos seus atos e não nas suas palavras, declarações ou promessas. Para avaliá-los corretamente não se pode deixar de conhecer todas as suas características do ponto de vista ideológico, político e prático, realmente proletário revolucionário. Aos quadros não se deve permitir jamais que ocultem ou desvirtuem a verdade ao Partido, seja em que problema for, pois mentir ao Partido é das faltas mais graves que podem ser cometidas na vida de um comunista. As qualidades morais dos quadros estão vinculadas indissoluvelmente à sua sinceridade, honestidade e lealdade para com o Partido. Quando se tem esta visão realista, é fácil compreender a necessidade de analisar os quadros cuidadosamente com o microscópio bolchevique, como dizia Dimitrov, a fim de conhecer seus pontos fortes e seus pontos débeis e também descobrir se são capazes de dar a vida pelo Partido. Quando assim procedemos no conhecimento dos quadros, podemos saber exatamente o que é e o que poderá chegar a ser cada camarada, a maior ou menor contribuição que poderá dar no presente e no futuro para a causa do Partido e da classe operária.
2) Promover criteriosamente os quadros: Para ser justa, a promoção de qualquer quadro não pode ser feita ao acaso e apressadamente, mas com o maior cuidado e senso de responsabilidade. Para isto é preciso que se tome por base sua atividade cotidiana c não esporádica no Partido e entre as massas, seu firme comportamento nos momentos mais difíceis, sua dedicação na execução das tarefas partidárias, sua argúcia e prudência no trabalho clandestino e na sua combinação com o trabalho legal, sua fidelidade ao Partido diante da repressão, seu espírito de fraternidade e camaradagem comunistas com os companheiros, sua atuação nas ações de massas e a popularidade que desfruta junto a elas. Se assim procedemos, a promoção dos quadros dá geralmente bons resultados. No entanto, quando nos afastamos, por pouco que seja, destes justos critérios, os efeitos são negativos -sempre danosos para o Partido. E indispensável, portanto, que as qualidades do comunista sejam não só consideradas equilibradamente, mas também com o necessário rigor proletário.
3) Utilizar adequadamente os quadros: Para que isto se verifique na prática da vida partidária, é preciso considerar atentamente as qualidades e as deficiências dos quadros. O fundamental e necessário é buscar colocar cada quadro no posto e lugar mais adequado, não só às suas possibilidades atuais, mas também às suas reais potencialidades, a fim de que tenha condições de cumprir melhor as tarefas partidárias e de desenvolver mais facilmente as suas aptidões políticas e práticas. Um perigo a evitar é a utilização inadequada dos quadros, pois os resultados são sempre negativos, tanto para o Partido como para os camaradas. É preciso partir da atitude realista de que não há ninguém que seja perfeito e de que todo comunista, como qualquer outra pessoa, está sempre num processo permanente de mutações. Se a vida assim nos ensina, devemos então tomar o militante do Partido tal como é, e procurar detectar as principais tendências de seu desenvolvimento, sem exagerar nem diminuir suas qualidades nem seus defeitos. O importante e indispensável é estimulá-lo a desenvolver suas qualidades de combatente comunista e a adquirir sempre novas qualidades, fazendo-o, ao mesmo tempo, compreender a absoluta necessidade de lutar para superar suas deficiências. De outra parte, não podemos esquecer que é inerente à justa utilização dos quadros a observação sistemática e não episódica de seu comportamento e atuação do dia-a-dia, de sua vontade férrea de aprender constantemente e de lutar sempre melhor, de sua disposição de subordinar incondicionalmente seus interesses pessoais aos superiores interesses do Partido, de sua sinceridade, honestidade e lealdade para com o Partido.
4) Distribuir criteriosamente os quadros: Antes de tudo é preciso ter presente a necessidade de colocar nos postos-chave do Partido, nos centros fundamentais do trabalho partidário e nas atividades mais difíceis, os quadros mais firmes, dinâmicos e abnegados, cheios de iniciativas e seguros de si mesmos, que dominem a linha do Partido, tenham alguma experiência política, capacidade de decisão e espírito prático, saibam se movimentar com desenvoltura na atividade clandestina e atuar habilmente junto às massas, a fim de se fazerem queridos e se tornarem seus dirigentes respeitados. A distribuição dos quadros só é realmente justa em toda a linha quando cada um sente que ocupa o posto e está no lugar onde pode oferecer o máximo de si mesmo ao Partido e contribuir com o melhor de suas qualidades pessoais na atividade revolucionária do Partido. O trabalho de distribuição dos quadros deve estar sempre em completa consonância com as exigências da política revolucionária do Partido e de suas tarefas. Esses critérios devem ser considerados com a maior atenção no nosso Partido porque somos obrigados a atuar numa situação da mais rigorosa clandestinidade e porque nossas responsabilidades de autêntica vanguarda revolucionária marxista-leninista do proletariado brasileiro crescem de dia para dia. Em face desta realidade, é perfeitamente compreensível que a distribuição dos quadros ou a sua transferência de um para outro posto ou lugar exigem cuidados muito especiais, tanto devido às suas responsabilidades partidárias como devido às múltiplas questões de segurança pessoal de cada camarada e às de segurança do trabalho partidário. Constitui erro de graves consequências não só colocar um camarada numa função tal em que haja todas as possibilidades de fracassar, mas também permitir fazer trabalho horizontal numa situação de dura ilegalidade, o que facilita a violação da regra de ouro do trabalho clandestino: cada um só deve conhecer aquilo que sua atividade exige. Acrescente-se a isto toda uma série de dificuldades reais, como as de ordem material, familiar etc., dificuldades que não comportam decisões levianas e necessitam ser cuidadosamente consideradas a fim de se poder dar para cada problema a solução realmente apropriada.
5) Ajudar sistematicamente os quadros: Qualquer que seja o quadro, ele necessita sempre indicações ideológicas, políticas e partidárias bem precisas e fundamentadas. Neste sentido, não só é de grande importância, mas absolutamente necessário que lhe sejam transmitidas de forma sistemática as experiências acumuladas pelo Partido no trabalho clandestino e na sua combinação hábil e adequada com o trabalho legal de massas, para que aprenda mais facilmente a dominar essa difícil arte, que exige elevada vigilância comunista, especiais cuidados e espírito criador. A maior preocupação deve ser no sentido de fazer com que os quadros progridam continuamente e tenham reais possibilidades de imprimir uma atuação correta e dinâmica ao trabalho partidário. De igual modo, os quadros necessitam que sua atividade seja acompanhada permanentemente pelos dirigentes e que haja controle sistemático, mas fraternal, a fim de corrigir suas imperfeições e faltas, de impedir que cometam erros e de fazer com que adquiram um estilo leninista de comportamento e de atuação. Para sua mais rápida e melhor formação, os quadros precisam ser estimulados a multiplicar suas iniciativas no trabalho e a desenvolver a coragem de assumir as responsabilidades e de não temer as dificuldades nem os sacrifícios.
6) Velar cuidadosamente pela conservação dos quadros: É preciso que se dê uma atenção muito especial às condições em que os quadros se encontram, vivem e trabalham, acompanhando seu estado de espírito e a sua situação pessoal, procurando saber suas preocupações e suas reais necessidades, inclusive seus problemas familiares. Os camaradas devem e necessitam ser tratados como camaradas, jamais com frieza ou menosprezo, mas sempre com fraternidade e carinho. Qualquer quadro necessita o calor da camaradagem comunista, sem o qual ele sente dificuldades de conservar todo o estimulo e vigor necessários ao desenvolvimento continuado de sua atividade partidária, sempre difícil e exigindo entusiasmo, dinamismo e abnegação. Além disso, é indispensável ter a sensibilidade necessária para transferir em tempo oportuno o quadro de um para outro posto ou lugar onde ele tenha condições de produzir mais e melhor ou no caso de que circunstâncias alheias à sua vontade assim o exijam. De outra parte, o maior espírito de responsabilidade na conservação dos quadros pressupõe cuidar atentamente de todos os complicados problemas relacionados com a organização eficiente do trabalho clandestino. Este é um tipo de trabalho partidário que, por ser realmente vital, exige verificação sistemática e aperfeiçoamento constante. A menor falta de vigilância comunista ou qualquer vício rotineiro ou tipo de conservadorismo podem custar duros golpes sobre a organização partidária e causar graves prejuízos em quadros e militantes.
Os quadros: tesouros do Partido
A análise cuidadosa dos princípios bolcheviques essenciais de uma justa política de quadros mostra ser possível tirar da experiência positiva e negativa de nosso Partido ensinamentos valiosos e de real oportunidade. No entanto, ainda não se pode dizer que todo o Partido e mesmo todos os seus dirigentes tenham uma completa compreensão da grande importância do problema dos quadros e de sua permanente atualidade. Lamentavelmente não são poucos os exemplos de subestimação nem raras as atitudes de menosprezo relacionadas com o problema dos quadros. Como Partido de características particularmente combativas, seus dirigentes e militantes estão sempre empenhados aguerridamente na luta, muitos dos quais nas primeiras filas dos protestos e das ações dos mais variados tipos. Precisamente por isto a repressão militar-policial move uma verdadeira caçada aos nossos camaradas, prende-os, submete-os às mais terríveis torturas, joga-os por longos anos nas prisões, assassina-os. Sendo essa a dura realidade, é imperioso saber não só conservar cuidadosamente os quadros existentes como também conhecer, selecionar, promover, distribuir e ajudar permanentemente os novos quadros. Às fileiras do nosso Partido afluem jovens camaradas com espírito combativo e potencialidade revolucionária, mas sem experiência política nem domínio do trabalho clandestino, necessitando, assim, de uma atenção especial. É sabido também que todo quadro do Partido, no seu trabalho prático, encontra-se muitas vezes diante de problemas políticos e partidários novos e quase sempre difíceis, os quais tem de resolver por sua própria iniciativa. Estas situações são muito mais frequentes na rigorosa clandestinidade em que nosso Partido se vê obrigado a atuar, a qual exige continuada capacidade de iniciativa e maior espírito de decisão e responsabilidade no encaminhamento da atividade partidária. Justamente por tudo isso, o problema dos quadros adquire uma importância e atualidade muito grandes para nosso Partido, importância e atualidade que precisam ser muito bem compreendidas por todo o coletivo partidário.
A prática de nosso Partido ainda está longe de ser aquela indicada por Stálin: “Cuidar dos quadros como o jardineiro cuida de sua planta favorita”, “considerar os quadros como o mais precioso tesouro do Partido”. Estes valiosos ensinamentos vinculam-se a um outro de não menor importância: avaliar os quadros com base em critérios realísticos e não subjetivistas, critérios essencialmente proletário-revolucionários, rigorosamente leninistas. Estes ensinamentos de Stálin precisam ser considerados atentamente por todo o Partido como essenciais a fim de encontrarmos sempre a mais correta solução para o problema dos quadros, problema dos mais importantes para o desenvolvimento ininterrupto e consequente da atividade partidária em todos os campos da luta de classes.
A compreensão leninista da experiência acumulada pelo Partido no tratamento do problema dos quadros deixa perfeitamente claro: só a aplicação de uma política de quadros justa permitirá ao Partido desenvolver e utilizar ao máximo as forças que possui e fazer crescer os camaradas mais firmes e combativos, abnegados e leais, os que mais se destacam no imenso reservatório da atividade revolucionária de nosso Partido como autêntica vanguarda marxista-leninista do proletariado brasileiro.