História da Revolução Russa

Léon Trotsky


As «Jornadas de Abril»


No dia 23 de Março, os Estados-Unidos entravam na guerra. Nesse dia, Petrogrado celebrava as obséquias das vítimas da Revolução de Fevereiro. A manifestação de luto, portanto animada por uma solene alegria, foi o poderoso acordo final da sinfonia dos cinco dias. Todos vieram aos funerais: e os que tinham combatido lado a lado com os mortos, e esses que tinham pregado a moderação, e provavelmente os que tinham abatido as vítimas, e, mais numerosos ainda, os que se mantiveram à distância da luta. Ao lado dos operários encontravam-se os estudantes, os ministros, os embaixadores, os burgueses abastados, os jornalistas, oradores, líderes de todos os partidos.

Os caixões vermelhos, transportados a braço pelos operários e soldados, chegaram em filas de todos os bairros ao Campo de Março. Quando começaram a descer os caixões na fossa, a fortaleza de Pedro e Paulo, transtornando as inumeráveis massas populares troou uma primeiro adeus. Os canhões estrondavam de outra maneira: nossos canhões, nossa saudação. O bairro de Vyborg trazia cinquenta e um caixões vermelhos. Era somente uma parte das vítimas que ele estava orgulhoso. No seu cortejo, de todos o mais compacto, distinguiam-se numerosas bandeiras bolcheviques. Mas ele flutuavam pacificamente ao lado de outras. No próprio Campo de Março só ficaram os membros do governo, do Soviete e da Duma do Império – já defunta, mas que teimava em fugir ao seu próprio funeral.

Diante das sepulturas desfilaram, no dia, com as suas bandeiras e suas orquestras, oito centos mil pessoas, pelo menos. Ainda se, segundo os cálculos prévios das altas autoridades militares, tal massa humana não devia em nenhum caso conseguir passar nos prazos fixados sem provocar o maior caos e rebuliços desastrosos – a manifestação desenrolou-se contudo numa perfeita ordem, significativo para essas marchas revolucionárias onde domina a consciência satisfeita de ter realizado pela primeira vez grandes obras, com a esperança que a seguir tudo irá melhor. É somente este estado de espírito que mantinha a ordem, porque a organização ainda era fraca, inexperiente e pouco segura dela própria.

De facto, esses funerais bastavam, parece, para refutar a legenda de uma revolução sem derrame de sangue. E, portanto, o estado de espírito que reinou nas obsequias reproduzia parcialmente a atmosfera dos primeiros dias onde esta legenda nasceu.

Vinte e cinco dias mais tarde – nesse lapso de tempo, os sovietes tinham adquirido muita experiência e confiança neles próprios – festejou-se o Primeiro de Maio, segundo o calendário ocidental (18 de Abril, segundo o velho estilo). Todas as cidades do país organizaram reuniões políticas e manifestações. Não somente as empresas industriais, mas as instituições do Estado, os serviços municipais, os zemstvos feriaram. Em Mohilev, onde se localizava o Grande Quartel General, à cabeça da manifestação marcharem os cavaleiros de São Jorge. A coluna do estado-maior, que não tinha destituído os generais do czar, avançava com o seu cartaz do Primeiro de Maio. A festa do antimilitarismo proletariano confundia-se com uma manifestação de patriotismo maquilhado com a cor revolucionária. Diversas camadas da população traziam à solenidade o seu espírito particular, mas o conjunto confundia-se ainda numa especie de conjunto extremamente inconsciente, particularmente enganador, e portanto, na totalidade, majestuoso.

Nas duas capitais e nos centros industriais, para esta festa, os operários predominaram e, nas suas massas, distinguiam-se já nitidamente – pelas suas bandeiras, cartazes, discursos, exclamações – as formações sólidas do bolchevismo. Na imensa fachada do palácio Maria, refúgio do governo provisório, uma enorme bandeirola pendurada tinha a seguinte inscrição: «Viva a Terceira Internacional!» As autoridades, ainda não se tinham desembaraçado da sua timidez administrativa, não ousavam retirar a bandeirola desagradável e alarmante. Todos, parecia, estavam em festa. Aí os homens da frente participavam como podiam. Recebia-se notícias das novas reuniões, de discursos, de bandeiras agitadas e de cantos revolucionários nas trincheiras. Tiveram eco no lado alemão.

A guerra estava longe de terminar; pelo contrário, ela alargava a sua esfera de acção. Todo um contingente, recentemente, mesmo no dia das obséquias das vítimas da revolução, tinha entrado na guerra para lhe dar um novo impulso. Todavia, em todas as regiões da Rússia, com os soldados, participavam igualmente nos desfiles prisioneiros de guerra, sob as bandeiras comuns, por vezes com o mesmo hino cantado em diferentes línguas. Nesta solenidade monumental, igual a um transbordamento de águas vernais que apagavam os contornos das classes, dos partidos e das ideias, a manifestação comum dos soldados russos e dos prisioneiros austríacos e alemãs era facto brilhante, cheio de esperanças, permitindo pensar que a revolução, apesar de tudo, trazia nela um certo melhor mundo.

Tal como os funerais de Março, a festa do Primeiro de Maio passou-se na ordem absoluta, sem sarilhos nem vítimas, como uma solenidade «nacional». Todavia, alguém atento teria já podido surpreender sem dificuldade nas fileiras dos operários e soldados uma nota de impaciência e mesmo de ameaça. A vida torna-se cada vez mais difícil. Com efeito: os preços subiam de maneira alarmante, os operários reivindicavam o salário mínimo, os patrões resistiam, o número de conflitos nas fábricas aumentava sem parar. Os abastecimentos tornavam-se cada vez menos regulares, a ração de pão foi reduzida, era preciso ter cartões de racionamento mesmo para a sémola.

O descontentamento aumentava também na guarnição. O estado-maior da região militar, preparando a repressão contra os soldados afastava de Petrogrado as tropas mais revolucionárias. A Assembleia geral da guarnição, no 17 de Abril, os soldados, adivinhando as intenções hostis, levantaram a questão de acabar com os envios de soldados: esta reclamação, no seguimento, ergueu-se sob uma forma cada vez mais resoluta em cada nova crise da revolução. Mas a raíz de todos os males, é a guerra que não se via o fim. Quando a revolução trará a paz? Em que pensam Kerensky e Tseretelli? As massas ouviam com atenção os bolcheviques, vigiavam-os, esperando que com uma certa hostilidade, depois com confiança. Sob a disciplina da solenidade escondia-se um estado de espírito tenso, a fermentação tinha lugar nas massas.

Ninguém, portanto, nem mesmo os autores da inscrição pregada no palácio Maria, não supunha que já os dois ou três dias que seguiriam rasgariam sem piedade o envelope da unidade nacional da revolução. Terríveis acontecimentos, previsto por muitos como inevitáveis, mas que ninguém os esperava tão depressa, surgiram de repente. O impulso foi-lhe dado pela política exterior do governo provisório, isto é pelo problema da guerra. Foi Miliokov que aproximou o fósforo do pavio.

Eis a história do fósforo e do pavio: no dia que a América entrava em guerra, o ministro dos Assuntos estrangeiros do governo provisório, reconfortado, desenvolveu diante dos jornalistas o seu programa: anexação de Constantinopla, da Arménia, desmembramento da Áustria e da Turquia, anexação da Pérsia setentrional e, além disso, bem entendido, o direito das nações a disporem delas próprias.

«Em todos os actos públicos – foi assim que o historiador Miliokov explica o ministro Miliokov – sublinha resolutamente os objectivos pacíficos da guerra libertadora, mas metia-os sempre em relação estreita com os problemas e os interesses nacionais da Rússia.»

A entrevista alarmou os conciliadores. «Então quando é que a política exterior do governo provisório se desembaraça de toda a hipocrisia?» - perguntava, indignado, o jornal dos mencheviques. Porquê o governo provisório não exigiria dos governos aliados que renunciassem abertamente e decisivamente às anexações? «Essa gente via hipocrisia na linguagem sincera do rapace. No disfarce pacifista dos apetites, eles estavam prontos a ver a eliminação da mentira. Assustado pela sobre-exitação dos democratas, Kerensky apressou-se a declarar por intermediário do secretariado da imprensa: o programa de Miliokov representa a sua opinião pessoal. Se o autor da opinião pessoal era ministro dos Assuntos estrangeiros, isso foi evidentemente considerado como puro acaso.

Tseretelli, que possuía o talento de transformar qualquer questão num lugar comum, meteu-se a insistir na necessidade de uma declaração governamental, como se a guerra fosse, para a Rússia, exclusivamente defensiva. A resistência de Miliokov e parcialmente de Gotchkov foi quebrada, e, no dia 27 de Março, o governo pariu uma declaração afirmando que «o objectivo da Rússia livre não é de dominar os outros povos, nem de lhes retirar o seu património nacional, nem de se amparar violentamente dos territórios alheios». É assim que os reis e os profetas do duplo poder proclamavam a intenção de entrar no reino dos céus conjuntamente com os parricidas e os desavergonhados. A esses senhores, sem contar o resto, faltava-lhes o sentido do ridículo.

A declaração do 27 de Março foi recebida favoravelmente não somente por toda a imprensa conciliadora, mas mesmo pelo Pravda de KamenevEstaline, que escrevia num editorial, quatro dias após a chegada de Lenine:

«Clara e nitidamente, o governo provisório… declarou diante de todo o povo que o objectivo da Rússia livre não é de dominar os outros povos», etc..

A imprensa inglesa, imediatamente e com satisfação, interpretou a renúncia da Rússia em relação às anexações como a renúncia a Constantinopla, sem, bem entendido, dispor-se a adoptar para ela a formula de abstinência. O embaixador da Rússia em Londres deu o alarme e exigiu de Petrogrado explicações nesse sentido que o princípio «da paz sem anexações seria adoptado pela Rússia não incondicionalmente, mas na medida onde não se contradizia aos nossos interesses vitais.» Mas portanto era bem a formula de Miliokov: prometer não pilhar o que não precisamos. Paris, contrariamente a Londres, não somente apoiava Miliokov, mas estimulava-o, sugerindo-lhe, por intermédio de Paléologue, a necessidade de uma política mais resoluta em relação ao Soviete.

O presidente do Conselho, que era então Ribot, exasperado pelas lamentáveis hesitações de Petrogrado, pediu a Londres e a Roma

«se eles não acreditam que é necessário convidar o governo provisório a acabar com os equívocos».

Londres respondeu que era mais razoável

«deixar os socialistas franceses e ingleses enviados à Rússia agir directamente sobre os seus companheiros de ideias».

O envio à Rússia de socialistas aliados tinha sido feito por iniciativa do Grande Quartel General russo, isto é dos antigos generais do czar. «Nós contamos com ele – escreveu Ribot sobre Alberto Thomas – para lhe dar uma certa firmeza às decisões do governo provisório.» Miliokov queixava-se portanto do que Thomas se mantinha demasiado em contacto com os líderes do Soviet. Ribot respondia a isso que Thomas «esforçava-se sinceramente» em apoiar o ponto de vista de Miliokov, mas que tinha prometido, contudo, exortar o seu embaixador a um ajuda mais activa.

A declaração absolutamente vazia de sentido do 27 de Março inquietava mesmo assim os Aliados que viram nisso uma concessão ao Soviete. De Londres, ameaçavam perder fé «na potência combativa da Rússia». Paléologue queixava-se da «timidez e da ambiguidade» da Declaração. Era justamente o que faltava a Miliokov. Na esperança de ser ajudado pelos Aliados, lançou-se num grande jogo que era muito superior aos seus recursos. A sua ideia essencial era voltar a guerra contra a revolução, seu objectivo mais próximo nesta via era desmoralizar a democracia. Mas os conciliadores começaram, justamente em Abril, a manifestar uma nervosidade e tergiversações cada vez maiores nas questões de política exterior, porque a pressão crescente da base exercia-se sobre eles. O governo precisava de um empréstimo. Ora as massas, apesar de todas as suas intenções de defesa nacional, não estavam dispostas a apoiar senão um empréstimo de paz, não um empréstimo de guerra. Era preciso fazer ver-lhes pelo menos a aparência de uma perspectiva de paz.

Devolvendo a política segura dos lugares comuns, Tseretelli propôs exigir ao governo provisório que fosse entregue aos Aliados uma nota análoga à Declaração interior do 27 de Março. Em troca, o comité executivo comprometia-se a obter do Soviete um voto para «o empréstimo da Liberdade». Miliokov consentiu nessa troca: o empréstimo em troca de uma nota – mas decidiu tirar proveito duplo desse negócio. Sob pretexto de interpretar a «Declaração», a nota desautorizava-o. Ela exigia que a fraseologia pacífica no novo poder não desse» o mínimo pretexto de pensar que a revolução realizada teria ocasionado o enfraquecimento do papel da Rússia na luta comum dos Aliados. Ao contrário – a determinação de todo o povo a levar a guerra mundial até à vitória definitiva reforçou-se... »

A nota exprimia mais longe esta certeza que os vencedores «encontrariam o meio de obter as garantias e as sanções indispensáveis para prevenir, no futuro, novos conflitos sangrentos». Inserir nas exigências de Thomas, as palavras «garantias» e «sanções», na linguagem fraudulenta da diplomacia, particularmente da diplomacia francesa, não significavam nada senão que as anexações e as contribuições. No dia de festa do Primeiro de Maio, Miliokov transmitiu por telegrafo a nota, ditada pelos diplomatas aliados, aos governos da Entente, e foi somente depois que ela foi enviada ao comité executivo e, simultaneamente, aos jornais. O governo dispensou-se de passar pela comissão de contacto, e os líderes do comité executivo encontraram-se na situação de simples cidadãos.

Se os conciliadores não encontraram na nota nada que não tivessem ouvido de Miliokov antes, pelo menos não puderam dispensar-se de ver aí um acto de hostilidade premeditada. A nota deixava-os desarmados diante das massas e exigia deles uma escolha directa entre o bolchevismo e o imperialismo. As ambições de Miliokov não consistiam nisso? Tudo leva a pensar que não era o seu objectivo único: as suas intenções iam mais longe.

Já desde de Março, Miliokov esforçava-se muito para ressuscitar o projecto abortado de uma tomada das Dardanelas para uma incursão russa e levava numerosas conversações com Alexeiev, persuadindo-o a levar energicamente uma operação que devia, na sua opinião, colocar a democracia, hostil às anexações, diante do facto consumado. A nota de Miliokov, datando do 18 de Abril, era uma incursão paralela sobre a margem mal defendida da democracia. Duas acções – um militar, outra política – completava-se entre elas e, em caso de sucesso, se justificavam uma pela outra. Os vencedores, em geral, não levavam a julgamento. Para uma incursão, era preciso um exército de duzentos a trezentos mil homens. Ora o caso malogrou-se por uma bagatela: os soldados recusaram. Eles consentiam a defender a revolução, mas não a tomar a iniciativa. O atentado de Miliokov sobre as Dardanelas falhou. E todas as suas iniciativas ulteriores foram arruinadas antecipadamente. Mas confessemos que elas não estavam demasiado calculadas… em condições de êxito.

No 17 de Abril, em Petrogrado, teve lugar – visão de pesadelo – uma manifestação patriótica de inválidos: uma imensa multidão de feridos, saídos do hospital da capital, amputados das pernas, dos braços, envolvidos em pensos, avançava para o palácio Tauride. Os que não podiam caminhar eram transportados em camiões. Lia-se nas bandeiras: «A guerra até ao fim.» Era a manifestação de desespero dos restos humanos da guerra imperialista que queriam que a revolução não reconhecesse a absurdidade dos seus sacrifícios. Mas, por detrás dos manifestantes, mantinha-se o partido cadete mais precisamente Miliokov, que se preparava a executar no dia seguinte um grande golpe.

Em sessão extraordinária, no dia 19 à noite, o comité executivo discutiu a nota expedida na véspera aos governos aliados. «Segundo uma primeira leitura – conta Stankevitch – todos, unanimemente e sem contestações, reconheceram que não era o que esperava o comité.» Mas esta nota comprometia a totalidade do governo, incluindo Kerensky. Era preciso, em consequência, antes de tudo, salvar o governo. Tseretelli meteu-se a «decifrar» a nota não codificada e a descobrir aí qualidades cada vez mais numerosas, Skobelev, com um ar convencido, atardava-se a demonstrar que em geral não se podia exigir «um acordo completo» de intenções entre a democracia e o governo. Esses grandes sábios extenuaram-se até à madrugada, mas não encontraram solução. Cedo pela manhã, separaram-se, tendo combinado reunir-se novamente algumas horas mais tarde. Eles contavam, evidentemente, sobre a faculdade que teria o tempo de cicatrizar todas as feridas.

Na manhã, a nota pareceu em todos os jornais. A Rietch comentou-a num sentido provocador maduramente premeditado. A imprensa socialista pronunciou-se com extrema sobre-excitação. A Rabotchaia Gazeta (Jornal operário), menchevique, não tendo ainda tido tempo, após Tseretelli e Skobelev, de digerir a sua indignação nocturna, escrevia que o governo provisório tinha publicado «um acto que espezinha as intenções da democracia», e exigia do Soviete medidas firmes «para prevenir as terríveis consequências». A pressão crescia: bolcheviques sentiam-se completamente nessas frases.

O comité executivo reabriu a sessão, mas somente para se convencer mais uma vez da sua incapacidade em chegar a uma resolução qualquer. Decidiu-se convocar um plenário extraordinário do Soviete «para informação» - na realidade para sondar o grau de descontentamento da base, afim de ganhar tempo para resolver a perplexidade onde se encontrava. Previa-se no intervalo todas as especies de sessões de contacto que deveriam reduzir a questão a nada.

Mas essa agitação ritual do duplo poder misturou-se inesperadamente uma terceira força. À rua saíram as massas, de armas na mão. Entre as baionetas os soldados escreviam nas pancartas: «Abaixo Miliokov» Noutras figuravam também com vantagem Gotchkov. Nessas colunas exasperadas, era difícil reconhecer os manifestantes do Primeiro de Maio.

Os historiadores caracterizam esse movimento como sendo o das «forças elementares» no sentido convencional que nem um partido reclamou a iniciativa da manifestação. O apelo directo a manifestar-se na rua veio de um certo Linde que inscrevia assim o seu nome na história da revolução. «Sábio, matemático, filósofo», Linde mantinha-se fora dos partidos, era um grande partidário da revolução e desejava ardentemente que ela realizasse o que prometia. A nota de Miliokov e os Comentários da Rietch indignaram-no. «Sem os conselhos de ninguém... conta o seu biografo – ele tomou logo a iniciativa... e foi ao regimento de Finlândia, convocou o comité e propos que o regimento marchasse imediatamente para o palácio Maria...

«A proposição de Linde foi adoptada e, às três horas, avançava já uma imponente manifestação «dos finlandeses» pelas ruas de Petrogrado com pancartas provocantes.» A seguir ao regimento de Finlândia marcharam os soldados do 180 de reserva, regimentos moscovitas, Pavlovky, Kekholmsky, os marinheiros da segunda divisão das tripulações da frota báltica, um total de vinte e cinco a trinta mil homens, todos armados. Nos bairros operários, a agitação começou, o trabalho parou e por grupos de fábricas, desceram à rua seguindo os regimentos.

«A maior parte dos soldados não sabiam porquê eles tinham vindo», assegurou Miliokov, como se ele tivesse tempo de os questionar. «Para além das tropas participava na manifestação operários adolescente que declaravam em voz alta (!) que lhes tinham pago para isso de dez a quinze rublos.» A proveniência dos fundos é clara: «A tarefa de eliminar os dois ministros (Miliokov e Gotchkov) era directamente indicada pela Alemanha. «Miliokov deu esta penetrante explicação não no calor da luta de Abril, mas três anos depois dos acontecimentos de Outubro que mostraram suficientemente que ninguém não precisava pagar caro e diariamente o ódio que as massas populares sentiam por Miliokov.

A violência inesperada da manifestação de Abril explica-se pela reacção imediata da massa diante da falsidade vinda de cima.«Enquanto que o governo não obtiver a paz, é preciso defender-se.» Isso dizia-se sem entusiasmo, mas por persuasão. Supunha-se que em cima tudo era feito para aproximar a paz. É verdade que, do lado dos bolcheviques, afirmava-se que o governo queria a continuação da guerra, para fins de pilhagem. Mas é possível? E Kerensky? - «Nós conhecemos os líderes dos sovietes desde Fevereiro, eles vieram-nos primeiro nas casernas, são pela paz. Além disso, Lenine chegou de Berlim e Tseretelli estava no presídio. É preciso ter paciência...» Ao mesmo tempo, as fábricas e os regimentos mais avançados afirmavam cada vez mais resolutamente as palavras de ordem dos bolcheviques por uma política de paz: publicação dos tratados secretos e ruptura com os planos da conquista da Entente, proposição aberta de paz imediata a todos os países beligerantes.

Foi neste ambiente complexo e indeciso que surgiu a nota do 18 de Abril. Como? Quê?... Lá em cima, ninguém é pela paz, mantêm-se pelos antigos objectivos da guerra? Então é em vão que esperamos? Abaixo! ...Mas o quê, abaixo? É possível que os bolcheviques tenham razão? Não é possível. Sim, mas a nota? Há alguém, mesmo assim, que quer vender a nossa pele aos aliados do czar? Uma simples confrontação entre a imprensa cadete e a dos conciliadores mostrava que Miliokov, tendo traído a confiança geral, dispunha-se a desenvolver uma política de conquista, de acordo com Lloyd George e Ribot. Portanto, Kerensky declarou que a ideia de agressão sobre Constantinopla era uma «opinião pessoal» de Miliokov. Foi assim que explodiu esse movimento.

Mas ele não foi homogéneo. Diversos elementos escaldantes dos meios revolucionários sobrestimaram a amplitude e a maturidade política do movimento tanto mais que ele desencadeou-se repentinamente e vivamente. Os bolcheviques, entre as tropas e nas fábricas, empregaram uma enérgica actividade. A reivindicação «Fora Miliokov» que era uma sorte de programa mínimo do movimento, acrescentaram cartazes contra o governo provisório no seu conjunto, e, além disso, os elementos diversos incluíam isso de diversas maneiras: uns como uma palavra de ordem de propaganda, outros como tarefa do próprio dia. Lançada na rua pelos soldados e marinheiros armados, a palavra de ordem «Abaixo o governo provisório!» introduzia fatalmente na manifestação uma corrente insurreccional. Grupos consideráveis de operários e soldados estavam bastante dispostos a expulsar logo ali o governo provisório. Foi a partir deles que procederam as tentativas para penetrar no palácio Maria, ocupar as saídas, prender os ministros. Ao socorro destes foi expedido Skobelev que preencheu a missão com tanto sucesso que o palácio Maria estava vazio.

Gotchkov estava doente, o governo reunia-se em casa própria desta vez, num apartamento privado. Mas não é esta circunstância fortuita que poupou ao ministros a prisão da qual eles não estavam de forma nenhuma ameaçados. Um exército de vinte e cinco a trinta mil homens, que descera à rua para combater os que prolongavam a guerra, era perfeitamente suficientemente para derrubar um governo mesmo mais sólido que aquele onde se encontrava à cabeça o príncipe Lvov. Mas os manifestantes não tinham isso como objectivo. Na realidade, eles só queriam mostrar um punho ameaçador de modo que esses senhores lá no alto da janela deixem de afiar os dentes com a sua Constantinopla e se ocupem como deve ser com a questão da paz. Desta maneira, os soldados contavam ajudar Kerensky e Tseretelli contra Miliokov.

O general Kornilov apresentou-se na sessão governamental, que deu notícias das manifestações armadas nesse momento e declarou que na qualidade de comandante das tropas da região militar de Petrogrado, dispunha de forças suficientes para esmagar a sedição armada: para marchar, só lhe faltava a ordem. Presente por acaso na sessão do governador, Koltchak contou mais tarde, no decurso do processo que procedeu a sua execução, que o príncipe Lvov e Kerensky pronunciaram-se contra uma tentativa de repressão militar contra os manifestantes. Miliokov não se exprimiu claramente, mas resumiu a situação no sentindo que os senhores ministros podiam, bem entendido, levar à razão quem quisessem, o que não lhes impediria de serem detidos. Sem dúvida que Kornilov agia de acordo com o centro cadete.

Os líderes conciliadores conseguiram sem dificuldades convencer os soldados manifestantes em abandonar a praça do palácio Maria e mesmo fazer-lhes voltar aos quartéis. A emoção suscitada na cidade não parava de crescer. Multidões juntavam-se, as assembleias políticas continuavam, discutia-se nos cruzamentos de ruas, nos tróleis os partidários e adversários de Miliokov. Na Nevsky e nas ruas vizinhas, oradores burgueses faziam agitação contra Lenine enviado da Alemanha para derrubar o grande patriota Miliokov. Nos arredores, nos bairros operários, os bolcheviques esforçavam-se, propagando a indignação suscitada pela nota e pelo seu autor, de responsabilizar o conjunto do governo.

Às sete horas da noite reuniu-se o plenário do Soviete. Os líderes não sabiam o que dizer a um auditório em efervescência. Tchkheidze, verbosamente, relatava que após a sessão teria lugar uma entrevista com o governo provisório. Tchernov agitava o espantalho da guerra civil iminente. Federov, operário metalúrgico, membro do comité central dos bolcheviques, respondia que a guerra civil estava rebentara e que o Soviete só deveria apoiá-la e tomar o poder. «Essas eram palavras novas e então terríveis – escreveu Sokhanov. Elas caíam no meio da mentalidade geral e encontraram desta vez eco tal como nunca antes, nem muito tempo após, nos Sovietes, os bolcheviques.»

A surpresa da sessão foi, todavia, para surpresa geral, o discurso de um confidente de Kerensky, o socialista-liberal Stankevitc: «Ao que nos serve, camaradas, «manifestar»? - perguntava. Contra quem empregar a força? Porque enfim, toda a força, sois vós e as massas que se mantêm por detrás de vós ...Olhem, é neste momento sete horas e menos cinco. (Stankevitch estende o braço para o relógio, toda a sala se volta do mesmo lado.) Decidam que o governo provisório não existirá mais, que ele se demita. Nós telefonamos e em cinco minutos, ele abandonará os seus poderes. Para que serve essa violência, manifestações, uma guerra civil?» Na sala, a tempestade de aplausos, exclamações entusiastas. O orador queria assustar o Soviete, tirando da nova situação a dedução mais extrema, mas ele próprio se assustou com o efeito obtido pelo seu discurso. A verdade que lhe tinha escapado sobre a potência do Soviete ergueu a assembleia acima das manigâncias dos dirigentes, que se preocupavam antes de tudo em impedir o Soviete de tomar uma resolução qualquer. «Quem substituirá o governo?» replicaram aos aplausos um dos oradores. «Nós? Mas as nossas mãos tremem...» Era um característica incomparável dos conciliadores, líderes enfáticos com as mãos trementes.

O ministro-presidente Lvov juntando-se a Stankenvitch, fez, no dia seguinte, a seguinte declaração:

«Até agora, o governo provisório encontrava invariavelmente apoio do lado do órgão dirigente do Soviete. Desde há quinze dias... o governo é alvo de desconfiança. Nessas condições... é melhor que o governo provisório se demita.»

Nós vemos aqui ainda qual era a real constituição da Rússia de Fevereiro!

No palácio Maria teve lugar um encontro do comité executivo com o governo provisório. O príncipe Lvov, num discurso introdutivo, queixava-se da campanha desenvolvida pelos círculos socialistas contra o governo, e, num tom meio vexado, meio ameaçador, falou da demissão. Os ministros, por sua vez, descreveram as dificuldades em acumular, que eles tinham contribuído com todas as suas energias. Miliokov, voltando as costas a esse palavreado de contacto, discursou do alto da varanda diante das manifestações dos cadetes. «Vejamos esses cartazes onde se pode ler: «Abaixo Miliokov!»... eu não receava por Miliokov. Mas pela Rússia!» É assim que o historiador Miliokov relata as modestas palavras que o ministro Miliokov pronunciava diante da multidão reunida na praça.

Tseretelli exigia do governo uma nova nota. Tchernov encontrou um saída genial ao propor a Miliokov que ele passasse para o ministério da instrução pública: Constantinopla, como objecto de estudos geográficos, era, de qualquer modo, menos perigoso como objectivo diplomático. Miliokov, todavia, recusou redondamente em voltar à carreira das ciências e redigir uma nova nota. Os líderes dos sovietes não se fizeram rogar e aceitaram uma «explicação» da velha nota. Faltava encontrar algumas frases onde o falso seria suficientemente camuflado de forma democrática – e poder-se-ia considerar que a situação seria salva, assim como a pasta de Miliokov!

Mas o terceiro poder inquieto não se queria acalmar. O dia 21 de Abril trouxe uma nova vaga do movimento, mais potente que o da véspera. Nesse dia, a manifestação foi provocada pelo comité bolchevique de Petrogrado. Apesar da contra-agitação dos mencheviques e dos socialistas-revolucionários, massas enormes de operários dirigiram-se para o centro, vindo dos bairros de Vyborg, e seguimento de outros bairros. O comité executivo enviou ao encontro dos manifestantes pacifistas autorizados, tendo à cabeça Tchkheidze. Mas os operários teimavam firmemente em opinar, e eles tinham algo a dizer. Um jornalista liberal bem conhecido descrevia, na Rietch, a manifestação dos operários sobre a Nevsky:

«À frente, cerca de uma centena de homens armados; na retaguarda filas regulares de homens e de mulheres desarmadas, milhares de pessoas. Cadeias vivas nos dois flancos. Cantos. Fui impressionado pela expressão dos rostos. Milhares de indivíduos só tinham uma cara, extasiada, o rosto monacal dos primeiros séculos do cristianismo, irredutível, implacavelmente pronto ao assassinato, à inquisição e à morte.»

O jornalista liberal tinha visto a revolução operária nos olhos e sentiu um instante a sua resolução concentrada. Com esses operários pareciam pouco aos adolescentes que Miliokov dizia contratados por Lunderdorff por quinze rublos por dia!

Nesse dia, como na véspera, os manifestantes não iam derrubar o governo, ainda que, certamente, a sua maioria tinha já pensado seriamente no problema; uma parte deles estava pronta desde desse dia a levar a manifestação para além dos limites fixados pelo estado de espírito da maioria. Tchkheidze propôs aos manifestantes que voltassem para casa, para os seus bairros. Mas os dirigentes responderam severamente que os operários sabiam o que tinham a fazer. Era uma nota nova e Tchkheidze tinha que se acostumar no decorrer das próximas semanas.

Enquanto que os conciliadores exortavam e se eclipsavam, os cadetes provocavam e abanavam o fogo. Mesmo se Kornilov não tivesse recebido, na véspera, a autorização de empregar as armas, não somente ele não abandonava o seu plano, mas, pelo contrário, precisamente nessa manhã, tomava medidas para se opor aos manifestantes da cavalaria e da artilharia. Contando firmemente com a intrepidez do general, os cadetes, por panfleto, chamaram os seus partidários à rua, esforçando-se nitidamente em levar o assunto até ao conflito decisivo. Mesmo não tendo conseguido desembarcar sobre as margens das Dardanelas, Miliokov continuava a desenvolver a sua ofensiva, com Kornilov como vanguarda, com a Entente esta como reserva pesada. A nota, enviado sem que o Soviete saiba e o editorial da Rietch devia desempenhar um papel de um despacho de Ems dirigido pelo chanceler liberal da revolução de Fevereiro. «Todos os que querem a Rússia livre devem cerrar fileiras à volta do governo provisório e apoiá-lo» - assim exortava o comité central dos cadetes, convidando todos os bravos cidadãos a descer à rua para lutar contra os partidários de uma paz imediata.

A Nevsky, artéria principal da burguesia, transformou-se numa imensa assembleia dos cadetes. Uma manifestação considerável, à cabeça da qual se encontravam os membros do comité central cadete, dirigiu-se para o palácio Maria. Em todo o lado viam-se cartazes acabados de fazer. «Inteira confiança provisório!» «Viva Miliokov!» Os ministros estavam encantados: tinham encontrado o seu «povo», tanto mais visível que emissários do Soviete esgotavam-se a dispersar as reuniões políticas revolucionárias, afastando as manifestações de operários e de soldados do centro para os arredores e dissuadindo os quartéis e as fábricas de agir.

Sob o pretexto de defender o governo teve lugar uma primeira mobilização francamente e largamente declarada das forças contra-revolucionárias. Na baixa da cidade apareceram camiões carregados de oficiais, de junkers, estudantes armados. Também saíram os cavaleiros de São Jorge. A juventude dourada organizou sobre a Nevsky um tribunal público incriminando ali mesmo os leninistas e «os espiões alemãs». Houve zaragatas e vítimas. O primeiro afrontamento sangrento, segundo contaram, começou por uma tentativa que fizeram os oficiais para arrancar aos operários uma bandeira com uma inscrição contra o governo provisório. Afrontavam-se cada vez mais com afinco, o tiroteio deu-se à tarde e quase se tornou incessante. Ninguém sabia exactamente quem disparava e com qual objectivo. Mas já havia vítimas deste tiroteio desordenado, causado em parte pela malvadez, em parte pelo pânico. A temperatura tornava-se incandescente.

Não, esse dia não se parecia em nada com uma manifestação de unidade nacional. Dois mundos erguiam-se um face ao outro. As colunas de patriotas, chamados à rua pelo partido cadete contra os operários e os soldados, compunham-se exclusivamente de elementos burgueses da população, oficiais, funcionários, intelectuais. Duas torrentes humanas, uma por Constantinopla, outra pela paz, desciam das diferentes partes da cidade; diferentes pela sua composição social, absolutamente diferentes pelo seu aspecto exterior, afirmando sua hostilidade sobre cartazes, e, chocando-se, iam com o punho fechado, de cacete, mesmo com armas de fogo.

Ao comité executivo chegou a notícia inesperada que Kornilov avançava com canhões para a praça do Palácio. Iniciativa independente do comandante do corpo do exército? Não, o carácter e a carreira ulterior de Kornilov demonstram que o bravo general tinha sempre alguém para o levar pela ponta do nariz – função que, desta vez, preenchiam os líderes cadetes. Foi somente ao contar com a intervenção de Kornilov, afim de tornar esta intervenção indispensável, que eles tinham chamado as massas à rua. Um dos jovens historiadores nota justamente que a tentativa feita por Kornilov para juntar as escolas militares na praça do Palácio coincidiu não com uma necessidade real ou imaginária de defender o palácio Maria contra um multidão hostil, mas com o forte desenvolvimento da manifestação dos cadetes.

O plano de Miliokov-Kornilov falhou todavia, e de forma vergonhosa. Tão ingénuos que fossem os líderes do comité executivo, não podiam compreender que suas cabeças já estavam em jogo. Logo desde das primeiras informações respeitante os encontros sangrentos na Nevsky, o comité executivo enviou a todos os contingentes militares de Petrogrado e dos arredores uma ordem telegrafada: não enviar, sem imposição do Soviete, nenhum destacamento nas ruas da capital. Agora que as intenções de Kornilov se tinham declarado, o comité executivo, a despeito de todas essas declarações solenes, meteu as duas mãos sobre o leme, não somente ao exigir do comando do exército que ele retirasse as tropas imediatamente, mas encarregando Skobelev e Filippovski de enviar os soldados para casa, ordem do Soviete. «Salvo chamada do comité executivo, nesses dias turbulentos, não saíam à rua armados. Só o comité executivo detém o direito de dispor de vós.» Doravante, toda a ordem de saída das tropas, excepção feita do serviço normal, deve ser dada sobre um documento oficial do Soviete e assinado pelo menos por dois membros com esse poder.

O Soviete tinha, parece, interpretado de maneira inequívoca os actos de Kornilov, como uma tentativa da contra-revolução para provocar a guerra civil. Mas, ao reduzir a nada pela sua ordem o comandante do corpo do exército, o comité executivo nem sonhava em destituir Kornilov em pessoa: pode-se atentar contra as prerrogativas do poder? «As mãos tremem.» O jovem regime estava envolvido por ficções, - como um doente, de almofadas e de ligaduras. Do ponto de vista das relações de forças, o que é todavia o mais edificante, é que não somente a tropa, mas as escolas de oficiais, mesmo antes de ter recebido ordem de Tchkheidze, recusaram marchar sem uma autorização do Soviete. Imprevistos pelos cadetes, os incómodos que caíam sobre eles, um após outro eram as inevitáveis consequências do facto que a burguesia russa, no período da revolução nacional, mostrou-se uma classe anti-nacional – o que podia ser, durante um curto lapso de tempo, mascarado pela dualidade de poderes, mas não podia ser reparado.

A crise de Abril, aparentemente, prometia terminar em parte nula. O comité executivo tinha conseguido reter das massas sobre o limiar do duplo poder. Pelo seu lado, o governo reconhecido explicou que, por «garantias» e «sanções», convinha ouvir os tribunais internacionais, a limitação dos armamentos e outras coisas magníficas. O comité executivo apressou-se a agarrar essas concessões terminológicas, e, por trinta e quatro votos contra dezanove, declarou que o incidente estava encerrado. Para tranquilizar a sua base inquieta, a maioria votou ainda decisões desse género: reforçar o controlo sobre a actividade do governo provisório; sem aviso prévio do comité executivo, nenhum acto político de importância não deve ser promulgado; a composição do corpo diplomático deve ser radicalmente modificada. A dualidade de poderes, existindo de facto, era traduzida nessa linguagem jurídica de uma constituição. Mas nada, nestas circunstâncias, não mudara a natureza das coisas. A ala esquerda não pôde obter da própria maioria conciliadora a demissão de Miliokov. Tudo devia continuar como antes. Acima do governo provisório erguia-se o controlo muito mais eficaz da Entente que o comité executivo nem sonhava atacar.

Na noite do 21, o Soviete de Petrogrado resumia a situação. Tseretelli, no seu relatório, mencionava a nova vitória dos sábios dirigentes que metia fim a todas as falsas interpretações da nota do 27 de Março. Kamenev, em nome dos bolcheviques, propunha a formação de um governo puramente soviético. Kollontai, revolucionária popular, que, durante a guerra, passou dos mencheviques para os bolcheviques, propunha organizar um referendo nos distritos de Petrogrado e dos arredores sobre a preferência a dar a tal ou tal governo provisório. Mas as suas proposições passaram quase imperceptíveis pelo Soviete: a questão parecia resolvida. A uma enorme maioria, contra treze votos, foi adoptada a resolução reconfortante do comité executivo. É verdade que a maior parte dos deputados bolcheviques ainda se encontravam nas fábricas, nas ruas, nas manifestações. Contudo, não há dúvida que na grande massa do Soviete, não houve mudança de opinião no sentido dos bolcheviques.

O Soviete ordenou abster-se durante dois dias de qualquer manifestação de rua. A decisão foi tomada unanimemente. Não houve sombra de dúvida que todos se submetiam a esta resolução. Com efeito: operários, soldados, jovem burguesia, o bairro de Vyborg e a Perspectiva Nevsky, ninguém ousava desobedecer à ordem do Soviete. A calma foi obtida sem nenhuma medida coercitiva. Bastou ao Soviete sentir-se mestre da situação para se tornar eficaz.

Às redacções dos jornais de esquerda afluíam, durante esse tempo, dezenas e dezenas de resoluções de fábricas e de regimentos, exigindo a demissão imediata de Miliokov, mesmo às vezes de todo o governo provisório. Petrogrado não foi a única a tremer. Em Moscovo, os operários abandonavam as máquinas, os soldados saíam dos quartéis, enchiam as ruas com protestos tumultuosos. Ao comité executivo afluíam nos dias seguintes telegramas de dezenas de sovietes locais contra a política de Miliokov, prometendo apoio completo ao Soviete. As mesmas vozes vinham da frente. Mas tudo devia continuar como antes.

«No dia 21 de Abril, - afirmava mais tarde Miliokov – um estado de espírito favorável ao governo provisório predominava nas ruas.» Ele fala evidentemente das ruas que pôde observar do alto da varanda, quando a maior parte dos operários e soldados voltaram para casa. Na realidade, o governo encontrava-se completamente isolado. Não tinha a seu favor nenhum apoio sério. Acabámos de ouvir dizer por Stankevitch e pelo próprio príncipe Lvov. Que significava portanto as certezas de Kornilov afirmando que dispunha de forças suficientes para dominar os sediciosos? Nada, salvo a extrema tontaria do honroso general. A sua vaidade se desenvolverá toda em Agosto, quando o conspirador Kornivov fará marchar contra Petrogrado tropas inexistentes. Kornilov tentou ainda julgar contingentes militares segundo a composição do comando. A oficialidade, na sua maioria, estava sem dúvida com ele, isto é estava pronta, sob pretexto de defender o governo provisório, a partir a espinha aos sovietes. Os soldados apoiava o Soviete, ao mesmo tempo que tinham uma opinião infinitamente mais à esquerda que a do Soviete. Mas como o próprio Soviete apoiava o governo provisório, acontecia que Kornilov podia, para defender esse governo, fazer marchar os soldados soviéticos tendo à sua cabeça oficiais reaccionários. Graças ao regime do duplo poder, todos jogavam à cabra-cega. Todavia, apenas os líderes do Soviete ordenaram às tropas para não sair dos quartéis logo Kornilov hesitou, e com ele todo o governo provisório.

E, todavia, o governo não caiu. As massas que tinham começado o ataque não estavam prontas de forma nenhuma a levá-lo até ao fim. Os líderes conciliadores podiam, a seguir, tentar ainda de retrogradar o regime de Fevereiro até ao ponto de partida. Tendo esquecido, ou desejando obrigar os outros a esquecer que o comité executivo tinha sido forçado a meter, abertamente e contra as autoridades «legais», a mão no exército, as Izvestia do Soviete queixavam-se no 22 de Abril: «Os sovietes pouco se esforçavam para se amparar do poder. Ora, nas numerosas bandeiras dos partidários do Soviete, havia inscrições exigindo o derrube do governo e a transmissão de todo o poder ao Soviete... » não é abominável, com efeito, que os operários e os soldados tenham querido seduzir os conciliadores ao oferecer-lhes o poder, isto é tinham considerado seriamente esses senhores como capazes de fazer do poder uma utilização revolucionária?

Não, os socialistas-revolucionários e os menchevique não queriam o poder. A resolução bolchevique pedindo a passagem do poder aos sovietes juntou, no Soviete de Petrogrado, como vimos, um número insignificante de votes. Em Moscovo, a resolução de desconfiança em relação ao governo provisório, proposta pelos bolcheviques no 22 de Abril, reuniu setenta e quatro votos sobre numerosas centenas. Na verdade o Soviete de Helsingfors, onde dominavam portanto os socialistas-revolucionários e os mencheviques, votou, nesse mesmo dia, uma resolução excepcionalmente ousada nesse tempo, oferecendo ao Soviete de Petrogrado as forças armadas para o ajudar a eliminar «o governo provisório imperialista». Mas essa resolução, adoptada sob a pressão directa dos marinheiros da frota de guerra, constituía uma excepção. Na sua esmagadora maioria, a representação soviética das massas que, na véspera, estavam prontas à insurreição contra o governo provisório continuava inteiramente no terreno do duplo poder. Que significava isso?

A contradição espantosa entre a ousadia da ofensiva das massas e as hesitações da sua representação política não é acidental. As massas oprimidas, em período revolucionário, são levadas à acção directa mais facilmente e rapidamente do que elas não aprendem a dar aos seus anseios e reivindicações uma expressão nos bons termos pela sua própria forma representação, mas este atrasa-se no ritmo dos acontecimentos determinados pela acção da massas. A representação soviética, a menos abstracta de todas, tem, nas condições de uma revolução, as vantagens incomportáveis: basta lembra que as dumas democráticas, eleitas na base do regulamento interior do 17 de Abril, não eram incomodadas por ninguém nem por nada, acharam-se absolutamente impotentes em concorrer com os sovietes. Mas, com todas as vantagens da sua ligação orgânica com as fábricas e os regimentos, isto é com as massas activas, os sovietes não deixam por isso de representar e, em consequência, não estão excluídos das convenções e das deformações do parlamentarismo.

A contradição, numa representação soviética, consiste nisto, por um lado, ela é necessária para a acção das massas, e que, por outro, ela torna-se facilmente para esta acção um estorvo conservador. A questão prática da contradição é, em cada ocasião, renovar a representação. Mas esta operação, que não é assim tão simples, é, sobretudo na revolução, uma dedução da acção directa sobre a qual, em consequência, ela se atrasa. De qualquer modo, no dia seguinte à meia insurreição de Abril, mais exactamente do quarto de insurreição, porque a meia insurreição se produzirá em Julho, - via-se na sessão do Soviete os mesmos deputados que na véspera, os quais, se encontram aí no ambiente do costume, votavam as proposições dos dirigentes habituais.

Mas isso não significa de modo nenhum que a tempestade de Abril tenha passado sem deixar traços no Soviete no sistema de Fevereiro em geral e, tanto mais, sobre as próprias massas. A grande intervenção dos operários e dos soldados nos acontecimentos políticos, ainda se não levada até ao fim, modificou a situação política, dá um impulso ao movimento geral da revolução, acelera os agrupamentos inevitáveis e obriga os políticos de gabinete e de corredor a esquecer os seus planos da véspera e adaptar os seus actos às novas circonstancias.

Após os conciliadores terem liquidado a explosão da guerra civil, imaginando-se que tudo voltava ao mesmo, a crise governamental apenas se iniciava. Os liberais não queriam mais governar sem a participação directa dos socialistas no poder. Estes últimos, forçados pela lógica da dualidade de poder em aceitar esta condição, exigiram, pelo seu lado, a prova da liquidação do programa das Dardanelas, o que levou inelutavelmente a liquidação de Miliokov. No 2 de Maio, este se encontrou na obrigação de abandonar as cadeiras do governo. A palavra de ordem da manifestação do 20 de Abril realizou-se assim com um atraso de doze dias e contra a vontade dos líderes do Soviete.

Mas os contratempos e subterfúgios não sublinharam senão mais vivamente a impotência dos dirigentes. Miliokov, que se dispunha a fazer, com a assistência do seu general, uma brusca guinada nas relações de força, foi projectado ruidosamente para fora do governo, como uma rolha. O bravo general viu-se obrigado a demitir-se. Os ministros não pareciam mais festivos. O governo suplicou ao Soviete que autorizasse uma coligação. Tudo isso porque as massas tinham apoiado na alavanca.

Isso não significa portanto que os partidos conciliadores não se aproximassem dos operários e dos soldados. Ao contrário, os acontecimentos de Abril, tendo revelado as possibilidades imprevistas que eram latentes nas massas, levaram os líderes democratas ainda mais para a direita, no sentido do mais estreita aproximação com a burguesia. A partir desse momento, a linha patriótica predomina. A maioria do comité executivo torna-se mais concentrada. Os radicais amorfos tais como Sokhanov, Stieklov e outros, que ainda recentemente inspiravam a política do soviete e tentavam salvaguardar alguma coisa das tradições do socialismo, são afastados. Tseretelli estabeleceu uma corrente firmemente conservadora e patriótica, constituindo uma adaptação da política de Miliokov à representação das massas trabalhadoras.

A conduta do partido bolchevique durante as Jornadas de Abril não foi homogénea. Os acontecimentos tinham surpreendido o partido sem aviso. A crise interior apenas terminara, preparava-se activamente a conferência do partido. Sob o impacto da extrema sobre-excitação nos distritos, certos bolchevique pronunciavam-se pela queda do governo provisório. O comité de Petrogrado que, ainda no 5 de Março tinha votado uma resolução de confiança condicional em favor do governo, ficou perplexo. Decidiu-se organizar para o dia 21 uma manifestação, mas o objectivo não foi definido de forma clara. Uma parte do comité de Petrogrado convocou os operários e os soldados para a rua com a intenção, pouco clara, de tentar derrubar à passagem o governo provisório. No mesmo sentido agiam certos elementos da esquerda, fora do partido. Verosimilmente misturaram-se também anarquistas, pouco numerosos mas activos. Diversos indivíduos se dirigiam às tropas, reclamando auto blindados ou reforços em geral, seja para proceder à prisão do governo provisório, seja para combater o inimigo na rua. A divisão dos auto blindados, próxima dos bolcheviques, declarou, contudo, que ela não meteria as suas máquinas à disposição de ninguém sem uma ordem do comité executivo.

Os cadetes tentavam por todos os meios de atribuir aos bolcheviques os conflitos sangrentos que se tinham produzido. Mas uma comissão especial do Soviete estabeleceu irrecusavelmente que o tiroteio tinha partido primeiro não da rua, mas das portas de garagem e das janelas. Nos jornais apareceu um comunicado do procurador:

«O tiroteio foi cometido por gente pertencendo à ralé, com intenção de provocar desordens e sarilhos sempre vantajosos para os vadios.»

A hostilidade em relação aos bolcheviques, do lado dos partidos soviéticos dirigentes, estava ainda longe de atingir a violência que, dois meses mais tarde, em Julho, obscureceu definitivamente toda razão e consciência. A magistratura, ainda subsistindo nos seus antigos quadros, ergueu-se diante da revolução e, em Abril, não se permitia ainda empregar contra a extrema esquerda os métodos da Okhrana (Segurança) czarista. O ataque de Miliokov foi, sob este aspecto também, afastado sem dificuldade.

O comité central repreendeu à ala esquerda dos bolcheviques e declarou, no dia 21 de Abril, que o Soviete tinha tido, segundo ele, perfeitamente razão de proibir as manifestações, e que era preciso obedecer sem condições. «A palavra de ordem: «A baixo o governo provisório!» não é correcto presentemente – dizia a resolução do comité central – porque falta de uma maioria popular sólida (isto é consciente e organizada) dirigida pelo proletariado revolucionário, essa palavra de ordem ou é uma frase ou leva a tentativas aventureiras.» Como tarefa do momento, a resolução indica a crítica, a propaganda e a conquista da maioria nos sovietes, como premissa da conquista do poder.

Esta declaração, aos olhos dos adversários, parecia ser qualquer coisa como um recuo dos dirigentes assustados, ou como uma subtil manobra. Mas nós já conhecemos já a posição fundamental de Lenine sobre a questão do poder; agora, ele ensinava ao partido a aplicação das «teses de Abril» segundo a experiência dos acontecimentos.

Três semanas antes, Kamenev declarava-se «feliz» por votar com os mencheviques e os socialistas-revolucionários por uma única e mesma resolução sobre o governo provisório, e Estaline desenvolvia a teoria da divisão do trabalho entre cadetes e bolcheviques. Como já estão longe, essas jornadas e essas teorias! Após a lição dos dias de Abril, Estaline, pela primeira vez, pronunciou-se, enfim, contra a teoria de um «controlo» benevolente sobre o governo provisório, abandonando com circunspecção as própria opinião da véspera. Mas esta manobra passou despercebida.

Em que consistia o espírito aventuroso da política de certos elementos do partido perguntava Lenine à conferência que se abria imediatamente após os dias de pânico.

Este espírito identificava-se nas tentativas de acção violenta onde, pela violência revolucionária, ainda não havia ou não havia mais lugar.» Pode-se derrubar aquele que o povo conhece como um opressor. Ora, actualmente, não há opressores, os canhões e as espingardas estão entre as mãos dos soldados e não dos capitalistas; os capitalistas vencem neste momento não pela violência, mas pelo engano, e não se poderia gritar presentemente pela violência: não tem sentido... Nós desejamos somente operar um reconhecimento pacífico, ver as forças do inimigo, sem entrar em confronto; ora, o comité de Petrogrado voltou-se demasiado à esquerda... Com uma palavra de ordem justa: «Viva os sovietes » deu-se uma que não é justa: «Abaixo o governo provisório!» No momento da acção, ir «um pouco demasiado à esquerda» não é oportuno. Nós consideramos isso como um crime muito grave, como sendo a desorganização.»

O que existe na base dos acontecimentos dramáticos da revolução? Deslocações nas relações de força. Porquê elas são provocadas? Principalmente pelas oscilações das classes intermediárias, do campesinato, da pequena burguesia, do exército. A amplitude é formidável entre o imperialismo dos cadetes é o bolchevismo. Essas oscilações produzem-se simultaneamente em dois sentidos contrários. A representação política da pequena burguesia, suas cimeiras, os líderes conciliadores, todos tendem antes de mais para a direita, do lado da burguesia. As massas oprimidas, em contrapartida, terão um impulso cada vez mais marcado e resoluto cada vez para a esquerda. Ao pronunciar-se contra a mentalidade aventurosa manifestada pelos dirigentes da organização de Petrogrado, Lenine faz uma reserva: se as classes intermediárias pendem do nosso lado seriamente, profundamente, inflexivelmente nós não hesitaremos um minuto em deslocar o governo do palácio Maria. Mas ainda não chegamos lá. A crise de Abril que se mostrou na rua «não é a primeira, nem a última oscilação da massa pequena-burguesa e meio proletária». A nossa tarefa é ainda pelo momento «explicar pacientemente», preparar o movimento seguinte, mais profundo, mais consciente, das massas na nossa direcção.

No que diz respeito ao proletariado, a sua conversão no sentido dos bolcheviques tomou, no decorrer de Abril, um carácter nitidamente marcado. Operários apresentavam-se aos comités do partido e perguntavam como obter a sua transferência do partido menchevique para o partido bolchevique. Nas fábricas, começaram a questionar com insistência os seus deputados sobre a política exterior, a guerra, o duplo poder, o abastecimento, e, o resultado desses exames, os deputados socialistas-revolucionários ou mencheviques eram cada vez mais suplantados pelos bolcheviques. A viragem brusca começou pelos sovietes do bairro, como os mais próximos das fábricas. Nos sovietes do bairro de Vyborg, de Vassilievsyk-Ostrov, de Narva, os bolcheviques encontraram-se, de uma só vez, cerca do fim de Abril, em maioria. É um facto de alto significado, mas os líderes do comité executivo, absorvidos pela alta política, consideravam com arrogância a confusão dos bolcheviques nos bairros operários.

Todavia, os distritos começavam a fazer cada vez mais pressão sobre o centro. Nas fábricas, independentemente do comité de Petrogrado, iniciou-se uma campanha enérgica e fructuosa pela renovação da representação no Soviete dos deputados operários da capital. Sokhanov considera que no início de Maio, os bolcheviques tinham a seu favor um terço do proletariado de Petrogrado. De qualquer modo, pelo menos e era o terço mais activo. As linhas amorfas de Março apagavam-se, as direcções políticas desenhavam-se, as teses «fantasistas» de Lenine tomavam forma nos bairros de Petrogrado.

Cada passo em frente da revolução é provocada ou forçada por uma intervenção directa das massas, completamente inesperada, na maioria dos casos, pelos partidos soviéticos. Após a insurreição de Fevereiro, quando os operários e soldados derrubaram a monarquia sem pedir licença a ninguém, os líderes do comité executivo consideraram que o papel das massas estava preenchido. Mas eles cometeram um erro fatal. As massas não se dispunham de modo algum a deixar a cena. Já, no princípio de Março, no momento da campanha pelo dia das oito horas, os operários tinham arrancado uma concessão ao capital, ainda que tivessem sido sob o peso dos mencheviques e dos socialistas-revolucionários. O Soviete teve que registar uma vitória obtida sem ele e contra ele. A manifestação de Abril trouxe um segundo reajustamento do mesmo género. Cada uma das manifestações de massa, independentemente do seu objectivo directo, é um aviso à direcção. A admoestação é primeiro moderada, mas torna-se seguidamente cada vez mais ousada. Em Julho, ela torna-se ameaçadora. Em Outubro, é a conclusão.

Em todos os momentos críticos, as massas intervêm como «forças elementares» - obedecendo, noutros termos, às suas próprias deduções de experiência política e aos seus líderes ainda não reconhecidos oficialmente. Ao assimilar tal ou tais elementos de agitação, as massas, espontaneamente, ao traduzem as deduções em linguagem de acção. Os bolcheviques, como partido, ainda não dirigem a campanha das oito horas. Os bolcheviques não tinham chamado as massas armadas a descer à rua no início de Julho. Foi somente em Outubro que o partido conseguirá definitivamente a acertar o passo e caminhará à cabeça da massa, não para uma manifestação mas para a insurreição.


Inclusão 15/08/2010