A Crise em Berlim(1)

Karl Marx

9 de Novembro de 1848


Primeira Edição: Neue Rheinische Zeitung. Organ der Demokratie (Nova Gazeta Renana. Órgão da Democracia), nº 138
Fonte: PUC SP Revista Margem
Tradução: Artigo recolhido e traduzido por Lívia Contrim (e-mail: lcotrim @ aol . com). Leia o artigo da tradutora: A contra-revolução na Alemanha. Marx e a Nova Gazeta Renana
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Fernando A. S. Araújo.
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A situação parece muito complicada, mas é muito simples.

O rei, como a Nova Gazeta Prussiana(2) corretamente observa, assenta "sobre os mais amplos fundamentos" seus direitos "hereditários pela graça de Deus".

Do outro lado, a Assembléia Nacional não se assenta sobre absolutamente nenhum fundamento, ela deve primeiro constituir, estabelecer o fundamento.

Dois soberanos!

O elo de ligação entre ambos é Camphausen, a teoria ententista.

Logo que os dois soberanos não puderem ou não quiserem mais conciliar, eles se transformarão em dois soberanos inimigos. O rei tem o direito de atirar a luva à Assembléia, e a Assembléia tem o direito de atirar a luva ao rei. O maior direito está do lado do maior poder. O poder se comprova na luta. A luta se comprova na vitória. Ambos os poderes só podem fazer valer seu direito pela vitória, seu não-direito só pela derrota.

Até agora, o rei não é um rei constitucional. É um rei absoluto, que se decide ou não pelo constitucionalismo.

Até agora, a Assembléia não é constitucional, é constituinte. Até agora ela tentou constituir o constitucionalismo. Ela pode desistir ou não de sua tentativa.

Ambos, o rei e a Assembléia, submeteram-se provisoriamente aos rituais constitucionais.

A reivindicação do rei, de constituir ao seu arbítrio um ministério Brandenburg,(3) apesar da maioria da Câmara, é a reivindicação de um rei absoluto.

A pretensão da Câmara de proibir ao rei, por meio de uma deputação direta, a constituição de um ministério Brandenburg é a pretensão de uma Câmara absoluta.

O rei e a Assembléia pecaram contra a convenção constitucional.

O rei e a Assembléia, cada um em seu âmbito originário, recuaram, o rei conscientemente, a Câmara inconscientemente.

A vantagem está do lado do rei.

O direito está do lado do poder.

A frase sobre o direito está do lado da impotência.

O ministério Rodbertus seria o zero, em que mais e menos se paralisam.


Notas de rodapé:

(1) O artigo "A crise em Berlim" e a série de artigos "A contra-revolução em Berlim", de Karl Marx, são um eco imediato da preparação e do começo do golpe de estado contra-revolucionário em Berlim. Em 8 de novembro, o rei destituiu o ministério Pfuel e nomeou o ministério Brandenburg—Manteuffel, abertamente contra-revolucionário. Em 9 de novembro foi anunciada à Assembléia Nacional prussiana uma "mensagem suprema" do rei, que ordenava seu adiamento e transferência de Berlim para a cidadezinha provinciana de Brandenburg. Era o começo do golpe de Estado, consumado com a dissolução da Assembléia Nacional prussiana e a outorga de uma constituição em 5 de dezembro de 1848. A Nova Gazeta Renana fez tudo para mobilizar as massas populares para a luta contra este golpe de Estado contra-revolucionário. (retornar ao texto)

(2) Nova Gazeta Prussiana - jornal diário publicado em Berlim desde junho de 1848; foi o órgão da camarilha contra-revolucionária da corte e dos junkers prussianos. Esse jornal também era conhecido pelo nome de "Gazeta da Cruz", porque trazia em seu título uma cruz de ferro, circundada pelas palavras "Avante com Deus pelo Rei e pela Pátria". (retornar ao texto)

(3) Brandenburg, Friedrich Wilhelm, conde de (1792-1850): general e estadista prussiano, primeiro-ministro contra-revolucionário (novembro de 1848 a dezembro de 1850). (retornar ao texto)

Inclusão 09/11/2014