Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano

Carlos Marighella

Junho de 1969


Escrito: junho de 1969.

Fonte: Material mimeografado datado de 1970. [Note-se que não possuímos um fonte fidedigna deste documento. O documento existe em várias versões e não possuímos o conhecimento nem os recursos para identificar correctamente a versão mais fiel do presente trabalho].

Direitos de reprodução: Licença Creative Commons BY-SA 4.0.


Índice

capa

1. Uma Definição do Guerrilheiro Urbano

2. Como Deve Viver e Subsistir o Guerrilheiro Urbano

3. Preparação Técnica do Guerrilheiro Urbano

4. As Armas do Guerrilheiro Urbano

5. O Tiro: A Razão para a Existência do Guerrilheiro Urbano

6. O Grupo de Fogo

7. A Logística do Guerrilheiro Urbano

8. A Técnica do Guerrilheiro Urbano

9. Características da Técnica das Guerrilhas

9.1. A Vantagem Inicial da Guerrilha Urbana

Surpresa

Conhecimento do Terreno

Mobilidade e Velocidade

Informação

Decisão

9.2. Objetivos das Ações de Guerrilha Urbana

9.3. Sobre os Tipos e Natureza de Modelos de Ação para os Guerrilheiros Urbanos

Assaltos

O Assalto a Banco como Modelo Popular

Batidas

Ocupações

Emboscada

Táticas de Rua

Greves e Interrupções de Trabalho

Deserções, Desvios, Confiscos, Expropriações de Armas, Munições e Explosivos

Libertação de Prisioneiros

Execuções

Seqüestros

Sabotagem

Terrorismo

Propaganda Armada

Guerra de Nervos

9.4. Como Executar a Ação

Algumas Observações nas Táticas

Resgate de Feridos

10. Segurança da Guerrilha

11. Os Sete Pecados da Guerrilha Urbana

12. Apoio Popular

13. Guerrilha Urbana, Escola para Selecionar o Guerrilheiro


Introdução

Eu gostaria de fazer uma dupla dedicatória deste trabalho; primeiro, em memória de Edson Souto, Marco Antônio Brás de Carvalho, Nelson José de Almeida ("Escoteiro") e a tantos outros heróicos combatentes e guerrilheiros urbanos que caíram nas mãos dos assassinos da polícia militar, do exército, da marinha, da aeronáutica, e também do DOPS, instrumentos odiados da repressora ditadura militar.

Segundo, aos bravos camaradas - homens e mulheres - aprisionados em calabouços medievais do governo brasileiro e sujeitos a torturas que se igualam ou superam os horrendos crimes cometidos pelos nazistas. Como aqueles camaradas cujas lembranças nós reverenciamos, bem como aqueles feitos prisioneiros em combate, o que devemos fazer é lutar.

Cada camarada que se opõe a ditadura militar e deseja resistir fazendo alguma coisa, mesmo pequena que a tarefa possa parecer. Eu desejo que todos que leram este manual e decidiram que não podem permanecer inativos, sigam as instruções e juntem-se a luta agora. Eu solicito isto porque, baixo qualquer teoria e qualquer circunstâncias, a obrigação de todo revolucionário é fazer a revolução.

Um outro ponto importante é não somente ler este manual aqui e agora, mas difundir seu conteúdo. Esta circulação será possível se aqueles que concordam com estas idéias façam cópias mimeografadas ou folhetos impressos, (sendo que neste último caso, a própria luta armada será necessária).

Finalmente, a razão porque este manual leva minha assinatura é que as idéias expressadas ou sistematizadas aqui refletem as experiências pessoais de um grupos de pessoas engajadas na luta armada no Brasil, entre os quais eu tenho a honra de estar incluído. De maneira que certos indivíduos não terão dúvidas sobre o que este manual diz, e podem sem demora negar os fatos ou continuar dizendo que as condições para a luta armada não existem, é necessário assumir a responsabilidade do que é dito e feito. Portanto, anonimato torna-se um problema num trabalho com este. O fato importante é que existem patriotas preparados para lutar como soldados.

A acusação de "violência" ou "terrorismo" sem demora tem um significado negativo. Ele tem adquirido uma nova roupagem, uma nova cor. Ele não divide, ele não desacredita, pelo contrário, ele representa o centro da atração. Hoje, ser "violento" ou um "terrorista" é uma qualidade que enobrece qualquer pessoa honrada, porque é um ato digno de um revolucionário engajado na luta armada contra a vergonhosa ditadura militar e suas atrocidades.

Carlos Marighella, 1969


Inclusão: 10/01/2005
Última atualização: 29/03/2024