Conselhos de um Ausente

V. I. Lénine

21 de Outubro de 1917

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Escrito: a 8 (21) Outubro 1917.
Primeira Edição:a 7 de Novembro de 1920 no n° 250 do Pravda Assinado: Um Ausente.

Fonte: Obras Escolhidas em Três Tomos, 1978, t2, pp 368-369, Edições Avante! - Lisboa, Edições Progresso - Moscovo.
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t. 34, pp. 382-384.
Transcrição: Partido Comunista Português
HTML: Fernando A. S. Araújo, março 2009.
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1977.


capa

Escrevo estas linhas a 8 de Outubro e tenho poucas esperanças de que elas estejam já a 9 nas mãos dos camaradas de Petrogrado. É possível que cheguem tarde, pois o Congresso dos Sovietes do Norte está marcado para 10 de Outubro[N212]. Tentarei, no entanto, dar os meus Conselhos de um Ausente para o caso de que a intervenção provável dos operários e soldados de Petrogrado e de todos os «arredores» tenha lugar em breve, mas ainda não tenha tido lugar.

Que todo o poder deve passar para os Sovietes é evidente. Igualmente deve ser indiscutível para todo o bolchevique que um poder proletário-revolucionário (ou bolchevique — isto agora é a mesma coisa) tem assegurada a maior simpatia e o apoio sem reservas de todos os trabalhadores explorados no mundo inteiro em geral, nos países beligerantes em particular, entre os camponeses russos em especial. Não vale a pena determo-nos nestas verdades, por de mais conhecidas e há muito tempo demonstradas.

É preciso determo-nos em algo que é duvidoso que esteja inteiramente claro para todos os camaradas, a saber: que a passagem do poder para os Sovietes significa agora, na prática, a insurreição armada. Poderia parecer que isto é evidente, mas nem todos reflectiram nem reflectem nisto. Renunciar agora à insurreição armada significaria renunciar à principal palavra de ordem do bolchevismo (todo o poder aos Sovietes) e a todo o internacionalismo proletário-revolucionário em geral.

Mas a insurreição armada é uma forma especial da luta política, submetida a leis especiais, nas quais é preciso reflectir atentamente. Karl Marx exprimiu esta verdade com um notável relevo ao escrever que «a insurreição» armada «é, como a guerra, uma arte».

Marx destacou entre as regras mais importantes desta arte:

  1. Nunca jogar com a insurreição e, uma vez começada, saber firmemente que é preciso ir até ao fim.
  2. É necessário concentrar no lugar decisivo, e no momento decisivo, uma grande superioridade de
    forças
    , pois de outro modo o inimigo, possuindo melhor preparação e organização, aniquilará os
    insurrectos.
  3. Uma vez começada a insurreição, é preciso agir com a maior decisão e passar obrigatória e incondicionalmente à ofensiva. « A defensiva é a morte da insurreição armada.»
  4. É preciso esforçar-se para apanhar o inimigo de surpresa, captar o momento em que as suas tropas estão ainda dispersas.
  5. É preciso obter diariamente êxitos ainda que pequenos (poderia dizer-se: em cada hora, se se tratar de uma só cidade), mantendo, a todo o custo a «superioridade moral».

Marx resumiu as lições de todas as revoluções no que se refere à insurreição armada com as palavras de «Danton, até hoje o maior mestre conhecido da táctica revolucionária: audácia, audácia, mais uma vez audácia»[N213]

Aplicado à Rússia e a Outubro de 1917, isto significa: ofensiva, simultânea e o mais súbita e rápida possível, sobre Petrogrado, obrigatoriamente de fora, de dentro, dos bairros operários, da Finlândia, de Reval, de Cronstadt, ofensiva de toda a esquadra, acumulação de uma superioridade gigantesca de forças sobre os 15-20 mil (e talvez mais) da nossa "guarda burguesa" (os cadetes) das nossas «tropas da Vendeia» (uma parte dos cossacos), etc.

Combinar as nossas três forças principais: a esquadra, os operários e as unidades militares, de modo a que sejam obrigatoriamente ocupados e mantidos seja com que perdas for: a) os telefones, b) os telégrafos, c) as estações ferroviárias e d) as pontes em primeiro lugar.

Constituir os elementos mais decididos (as nossas «tropas de choque» e a juventude operária, bem como os melhores marinheiros) em pequenos destacamentos para a ocupação por eles de todos os pontos mais importantes e para a sua participação em toda a parte em todas as operações importantes, por exemplo:

Cercar e isolar Petrogrado, tomá-la com um ataque combinado da esquadra, dos operários e das tropas - esta é uma tarefa que exige arte e tripla audácia.

Formar destacamentos dos melhores operários com espingardas e granadas de mão para atacar e cercar os «centros» do inimigo (escolas militares, telégrafos e telefones, etc.) com a palavra de ordem: antes morrermos todos que deixar passar o inimigo.

Esperemos que, no caso de se decidir a intervenção, os dirigentes apliquem com êxito os grandes preceitos de Danton e Marx.

O êxito tanto da revolução russa como da mundial depende de dois ou três dias de luta.


Notas de fim de tomo:

[N212] O Congresso dos Sovietes da Região Norte, inicialmente marcado para 8 (21) de Outubro em Helsingfors (Helsínquia) e depois para 10 (23) de Outubro em Petrogrado, realizou-se de 11 (24) de Outubro a 13 (26) de Outubro de 1917 na cidade de Petrogrado. No Congresso participaram 94 delegados, dos quais 51 eram bolcheviques. O Congresso, na sua resolução sobre o momento actual, sublinhou que só a passagem imediata de todo o poder para as mãos dos Sovietes tanto no centro como nas localidades podia salvar o país e a revolução. O Congresso exortou os camponeses a apoiar a luta do proletariado pelo poder. As resoluções aprovadas pelo Congresso tiveram uma enorme importância para a preparação, a organização e a mobilização de todas as forças para a vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro. (retornar ao texto)

[N213] F. Engels, Revolução e Contra-revolução na Alemanha (In Karl Marx / Friederich Engels, Werke, Bd. 8, S. 95) (retornar ao texto)

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Inclusão 26/03/2009